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Diques rompem sob pressão das águas do Elba

Neusa Soliz19 de agosto de 2002

As inundações continuam no leste da Alemanha. Enquanto em Dresden baixou o nível do Rio Elba, suas águas continuam rompendo diques e ameaçando novas cidades na Saxônia e Saxônia-Anhalt.

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Ruínas de uma casa destruída pelas enchentes em Weesenstein, perto de DresdenFoto: AP

As águas do Rio Elba, que transbordaram após atingirem níveis nunca vistos na Saxônia, continuam inundando novas cidades. A massa de águas, que já causou grande destruição na República Tcheca, se desloca rumo à foz, no Mar do Norte, perto de Hamburgo. Um dique após o outro tem arrebentado por não resistir à pressão do Elba, que despejou suas águas sobre novos lugarejos e campos, inclusive em lugares onde as pessoas já se sentiam seguras. O mesmo aconteceu com o afluente Mulde, ao não poder desembocar na corrente maior.

Dresden: destruição como na Segunda Guerra

Em Dresden, capital da Saxônia, as águas retrocederam, descobrindo, aos poucos, as dimensões dos estragos. "Estamos enfrentando a época mais difícil desde fevereiro de 1945", disse o prefeito Ingolf Rossberg, referindo-se ao bombardeio da cidade no final da Segunda Guerra Mundial, que a destruiu quase completamente. Somente nos porões do célebre teatro de ópera Semperopera estão sendo bombeados 20 mil litros de água por minuto. O número de vítimas mortais das enchentes na Saxônia elevou-se a 12.

O nível das águas do Elba caiu, em Dresden, para 8,50 metros neste domingo (18/08), após atingir seu recorde absoluto de 9,40 metros. Mesmo assim, está quatro vezes acima do normal. Na cidade o perigo vem também dos lençóis freáticos: a pressão das águas pode colocar em risco a estática das casas. O abastecimento de água potável também foi muito prejudicado, pois as enchentes contaminaram os mananciais com fezes e óleo.

A União Européia vai destinar recursos aos países afetados pelas enchentes, conforme anunciado em Berlim, após um encontro do qual participaram o presidente da Comissão Européia, Romano Prodi, os chefes de governo da Áustria, Wolfgang Schüssel, da República Tcheca, Vladimir Spidla, da Eslováquia, Mikulas Dzurinda, e da Alemanha, Gerhard Schröder. Segundo Prodi, que antes visitara as regiões afetadas no leste alemão em companhia do ministro alemão do Exterior, Joschka Fischer, de Berlim deveria partir a mensagem de que a Europa "é uma Europa da solidariedade".

Águas ameaçam a Wittenberg de Lutero

A situação agravou-se em Torgau, cidade onde se encontra uma igreja gótica com valiosas obras de arte. As águas do Elba saltaram sobre o dique diretamente junto à cidade e ele se rompeu, dez quilômetros mais adiante. Helicópteros do Exército Alemão jogaram várias toneladas de sacos de areia na tentativa de deter as águas. Não se sabe até o momento se elas cobrirão toda a cidade, que já evacuou a metade de seus 20 mil habitantes. "É um milagre que os diques, todos molhados, tenham agüentado tanto tempo", comentou um membro da Defesa Civil, em Desden. A fábrica de vidro Saint Gobain, um dos maiores empregadores da região, vai lutar toda a noite para impedir sua inundação.

No estado seguinte, da Saxônia-Anhalt, também romperam vários diques nas imediações de Wittenberg, a cidade que ficou célebre por ter sido o lugar onde Martinho Lutero afixou suas teses que deram início à Reforma protestante. Cerca de 40 povoados e 40 mil pessoas tiveram que ser evacuados, mas a fúria das águas poupou o centro de Wittenberg por enquanto. Um subúrbio de Dessau, um dos centros do movimento Bauhaus, foi inundado, depois que um dique não conseguiu conter as cheias do Mulde.

Em Bitterfeld, centro da indústria química no leste alemão, a situação continua crítica. Embora os diques possam romper a qualquer momento, as instalações das fábricas de produtos químicos estão fora de perigo. As autoridades não estão contando com uma inundação da capital do estado, Magdeburg, a não ser que os diques não resistam. Por precaução, o zoológico da cidade começou a transferir seus animais para lugares de menos risco. Nos estados situados mais ao norte da Alemanha, estão a todo vapor os preparativos para enfrentar as enchentes, que ali são esperadas por volta da próxima quarta-feira (21/08).