Deutsche Telekom troca comando em meio à revolução no setor
13 de novembro de 2006A lentidão da Deutsche Telekom para se adaptar à revolução pela qual passa o setor de telefonia, causada principalmente pelas baixas tarifas das ligações pela internet, levou o grupo alemão a mais uma troca de comando.
Nesta segunda-feira (13/11), a Deutsche Telekom anunciou que René Obermann, 43 anos, até então presidente da subsidiária T-Mobile, será o novo presidente do conglomerado pelos próximos cinco anos.
Obermann substitui o ex-presidente Kai-Uwe Ricke, 45 anos, que anunciou seu afastamento do cargo na noite deste domingo. Segundo o presidente do Conselho Administrativo da Telekom, Klaus Zumwinkel, Obermann tem o total apoio do órgão.
Obermann é o terceiro presidente desde a privatização da empresa, em 1994. Nenhum dos seus antecessores ficou no cargo até o final do prazo previsto.
Perda de clientes
Por trás da mudança, estão as pressões vindas dos principais acionistas da empresa, o governo federal alemão, que controla 31,7% das ações, e o fundo de investimentos americano Blackstone, que detém 4,5% da Deutsche Telekom.
Ambos estariam insatisfeitos com a queda no número de clientes da empresa e a diminuição dos lucros. Na quinta-feira passada, a Deutsche Telekom anunciou que o lucro da empresa caiu 34% no terceiro trimestre, para 980 milhões de euros.
Fontes ligadas à Deutsche Telekom comentam ainda que Ricke e Zumwinkel teriam se desentendido nas últimas semanas.
Uma das principais tarefas de Obermann será estancar a perda de clientes da T-Com, subsidiária de telefonia fixa do grupo. Só neste ano, mais de 1,5 milhão de pessoas deixaram a T-Com. Uma parte optou pelos serviços da concorrência. Outra parte não pretende mais usar o serviço de telefonia fixa e optou pelo telefone celular.
A Telekom tenta reverter a perda de clientes e a queda nos lucros com a oferta de pacotes que incluem os serviços de telefonia fixa, celular e acesso à internet. Mas, para muitos analistas, a reação, iniciada há poucas semanas, veio tarde demais, pois os mesmos pacotes são oferecidos há anos pelos concorrentes.
Excesso de funcionários
Grupos de proteção ao consumidor apontam outro problema: a péssima qualidade do serviço de atendimento ao cliente da Deutsche Telekom. Segundo eles, os clientes têm a sensação de serem transferidos de um local para o outro quando buscam a solução para um problema.
No seu discurso de posse, Obermann anunciou que tentará melhorar o balanço da empresa com a adoção de medidas de contenção de despesas e com a elevação da qualidade dos serviços oferecidos. Ele também disse que, se os esforços fracassarem, uma redução no número de funcionários se fará necessária.
A Deutsche Telekom tem mais de 110 mil funcionários, dos quais cerca de 80 mil trabalham na T-Com. Destes, pelo menos a metade são oriundos da época em que a empresa era uma estatal e têm, portanto, status de funcionários públicos, não podendo ser demitidos.
O objetivo é chegar ao final de 2008 com cerca de 90 mil empregados. Em novembro de 2005, a empresa anunciou um plano para fechar 32 mil vagas em três anos.
Bolsa reage bem
Ainda que a Bolsa de Frankfurt tenha reagido positivamente à ascensão de Obermann, com as ações da Deutsche Telekom registrando alta, analistas advertem que a simples troca de comando não resolve os problemas da empresa.
"A Telekom foi privatizada e o mercado, liberalizado. Mas a empresa ainda não tem a estrutura de um grupo privado e não pode, por isso, sobreviver num ambiente de livre concorrência", afirma uma analista.