Após as eleições
30 de setembro de 2009Se os descendentes de imigrantes tivessem que ser representados adequadamente no Parlamento alemão, o número de deputados "com origem migratória" teria que ser superior a 100. No entanto, esse número não ultrapassa 15.
Cinco deles são de origem turca, quatro provêm de famílias com raízes persas. Além disso, as origens de outros seis deputados do Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, remontam a famílias polonesas e croatas. Os cerca de 2,5 milhões de aussiedler, migrantes descendentes de alemães do Leste Europeu, não elegeram nenhum representante no Bundestag.
"C" afasta muçulmanos
Serkan Tören foi eleito deputado pelo Partido Liberal Democrata (FDP). Ele pretende lutar pela igualdade de direitos para pessoas com raízes estrangeiras. No tocante aos cidadãos de origem turca, Tören afirma que "é importante lhes possibilitar os mesmos direitos, na escola, na formação profissional. A educação é muito importante para nossas crianças. Devemos também valorizar bastante a educação pré-escolar. Nesse ponto, o antigo governo não fez um trabalho muito bom. Isso é algo que vamos colocar em primeiro plano".
Comparado com eleições anteriores, o 17° Parlamento alemão, eleito no último domingo (27/09), tem um número relativamente grande de representantes com origem migratória. Para Andreas Wüst, cientista político da Universidade de Mannheim, esse número ainda não basta.
Segundo Wüst, o "C" que denota a orientação cristã do partido de Angela Merkel – CDU (União Democrata Cristã) – espanta muitos migrantes de crença muçulmana. Além disso, o debate em torno da dupla nacionalidade afastou muitas pessoas de origem estrangeira da CDU.
Mudanças na sociedade
É inegável a desconfiança de muitos deputados descendentes de imigrantes diante do governo de conservadores e liberais. Ekin Deligöz representa os verdes no Bundestag. A deputada espera intensas discussões políticas com o novo governo.
"Acho que a política de centro-direita irá voltar atrás em certos temas que fizemos ir adiante. Isso se notará, naturalmente, também na política em relação a estrangeiros. Por esse motivo, meu objetivo é combater essa tendência de marcha a ré, e fazer com que, aqui, a voz dos estrangeiros seja escutada", explicou a deputada do Partido Verde alemão.
Incorporar as mudanças da sociedade em seu quadro de pessoal parece ser tarefa difícil para os partidos alemães. Segundo observadores, isso se deveria ao fato de as bases do partido não apoiarem candidatos "estrangeiros" ou de os estrategistas partidários menosprezarem o potencial eleitoral dos cidadãos com outras raízes culturais.
Medo do eleitorado
Anteriormente, a maioria dos turcos residentes na Alemanha simpatizava com o Partido Social Democrata (SPD). Hoje, eles também querem ser conquistados e estão abertos também para outros partidos. No entanto, no momento estão esperando em vão pelo interesse da política nacional. Com exceção do presidente do Partido Verde, Cem Özdemir, não se conhece nenhum outro político de origem migratório em um cargo político proeminente.
Segundo um estudo do Instituto Max Planck de 2008, o fato de tão poucas pessoas "com origem migratória" estarem presentes na cena política se deve principalmente ao clima da sociedade, que não valoriza a concessão dos mesmos direitos a todos os cidadãos.
Além disso, a responsabilidade também é do desinteresse ou até mesmo da rejeição dos grandes partidos. Somente o Partido Verde e o A Esquerda se engajaram, sem restrições, para que políticos e políticas com origem migratória participassem dos quadros do partido.
Os grandes partidos veem de forma desejável que um ou outro imigrante entre no seu quadro de pessoal, mas são poucas as tentativas de fazer desse desejo uma realidade. Os pesquisadores do Instituto Max Planck observam "estruturas de poder que se formaram a longo prazo, currais eleitorais hereditários e medo de reações negativas do eleitorado em relação a tais candidatos" como fatores de retardamento.
Autor: Matthias von Hellfeld (ca)
Revisão: Augusto Valente