Deichkind volta com mistura explosiva de electro e rap
12 de março de 2012Apesar de pouco convencional, a banda de electro-rap Deichkind está causando rebuliço na Alemanha. Seu mais recente disco Befehl von ganz unten(comando bem lá de baixo, em tradução livre) alcançou o segundo lugar nos charts do país.
Mesclando ecletismo musical com impressionantes apresentações ao vivo, a banda de Hamburgo, formada no final dos anos 1990, sempre teve fãs fervorosos. No entanto, fora da Alemanha eles continuam quase desconhecidos. "Como eles pretendem conquistar o mundo?", perguntou a Deutsche Welle ao vocalista da banda, Philipp Grütering.
DW:Para quem não conhece o Deichkind, como você descreveria sua música?
Philipp Grütering: Techno teatral, com isso quero dizer que fazemos batidas eletrônicas com letras cantadas e faladas em alemão. Essa seria a descrição musical. Temos influências pop e uma faixa rock no nosso novo disco chamada Illegal Fans. O hip hop e o downtempo [estilo mais calmo de música eletrônica] também fazem parte do nosso som. Pode-se dizer que somos uma espécie de supermercado musical com sortimento bem variado.
Como você explicaria o título do novo álbum?
Temos uma regra dentro da banda: não vamos falar para ninguém o significado do nome de um álbum. É como você contar uma piada e explicá-la logo em seguida. Ou você entende a piada ou não entende.
Qual a importância das redes sociais para o Deichkind? Vocês gostam de participar delas ou é apenas mais uma ferramenta de marketing?
As novas mídias são muito importantes para a banda. É uma maneira muito rápida de atingir nosso público. Algo que não existia antes. Nem sei como artistas vendiam discos no passado. Dito isso, a mídia tradicional também é muito importante. Não podemos divulgar nosso trabalho apenas na internet. Percebemos isso com nosso último disco, que foi o mais bem-sucedido de nossa carreira.
Estamos em segundo lugar nos charts alemães, antes disso não tínhamos nem mesmo alcançado o Top 10. Nem com discos como Bon Voyage,de 2000. Temos muitas possibilidades com as novas mídias, como postar pequenos vídeos ou receber perguntas diretamente dos fãs. Tudo é possível.
Sendo assim, por que vocês ainda dão muita importância às apresentações ao vivo?
Percebemos que a venda de discos está cada vez menor. Não se vendem mais tantos discos como há 10 ou 20 anos. Hoje, as vendas são apenas uma pequena fração do que eram no passado, então tivemos que nos adaptar.
Qual foi a situação mais alucinante que vocês já vivenciaram no palco?
Para mim, eu acho que a experiência mais fantástica foi o primeiro banho de cerveja que tomamos. Porky [baixista da banda] teve a ideia de pegarmos um montão de cerveja e distribuir para a plateia. Todos tinham que balançar as latas por três ou quatro minutos e abri-las ao mesmo tempo. Fizemos uma contagem regressiva e quando as cervejas foram abertas foi como uma nuvem atômica de cerveja. Eu fiquei tão atônito, que esqueci as letras que estava cantando.
Vocês participaram das eliminatórias para representar a Alemanha no festival de música Eurovision. Vocês participariam novamente?
Fomos convidados novamente há dois anos, mas não estávamos seguros. Quando tentamos pela primeira vez, terminamos em último lugar. Percebemos que o Deichkind não funciona bem na televisão. Então desistimos e resolvemos nunca mais participar.
Mas então quais são os planos do Deichkind para emplacar internacionalmente?
Muitos dos nossos amigos e do pessoal que trabalha com a banda dizem que temos que ir para Londres, Nova York ou Tóquio, porque as pessoas vão amar a banda nessas cidades. Eu acredito que seja verdade, mas é muito difícil se estabelecer por lá. É um novo mercado, então é preciso conhecer muitas pessoas. Você precisa de muitos contatos e isso é algo que não temos.
Em lugares como os Estados Unidos, Inglaterra ou Austrália, somos totalmente desconhecidos. Teríamos que lançar álbuns por lá. É como estar desempregado e, ao mesmo tempo, não ter um lugar para morar. Então o empregador te pergunta se você tem um apartamento. Se você não tem, não consegue o emprego. É assim que vejo a situação neste momento.
Também temos muito que fazer por aqui e estamos no nosso limite. Temos planos de tentar lançar um disco internacionalmente em 2014 ou 2015, mas acho que podemos continuar cantando em alemão. As letras não são muito relevantes. Talvez podemos traduzi-las para o inglês ou chinês.
Eu não quero ser indelicado, mas vocês estão ficando mais velhos. O Deichkind é famoso por shows ao vivo estonteantes e por uma imagem ousada. Vocês planejam diminuir o ritmo?
Estamos nos divertindo tanto que não temos tempo para parar e pensar sobre isso. Claro que eu percebo que minha barba está ficando grisalha e que estou envelhecendo. Mas estamos fazendo muito sucesso no momento para parar. Sei que não sou mais um adolescente de 18 anos que vai a todas as festas e fica bêbado todas as noites, mas eu ainda sou jovem. Acho que ainda podemos fazer dois ou três álbuns. Então, podemos olhar novamente para o que fazemos, especialmente se as pessoas não estiverem mais tão interessadas. Mas ninguém na banda tem um plano "B" de algo que possam fazer depois que o Deichkind acabar.
Entrevista: Andre Leslie (mas)
Revisão: Carlos Albuquerque