Daniel Libeskind
5 de fevereiro de 2010Rector Street, Nova York. Nas imediações da Wallstreet, em Lower Manhattan, o arquiteto Daniel Libeskind tem seu escritório em um antigo arranha-céus. Qualquer visitante que adentre o edifício é obrigado a passar pelo incômodo controle de segurança. O elevador conduz até o 19º andar, onde trabalha o arquiteto de 63 anos.
Da janela de seu escritório é possível vislumbrar os contornos da Estátua da Liberdade. As mesas estão cobertas de livros, cadernos de anotação e fotos dos netos do arquiteto, que vivem em Berlim. O telefone e o fax não param de tocar.
Movimentação criativa
Cerca de 70 pessoas, em grande parte jovens, trabalham para Libeskind em Nova York. No amplo escritório, entre computadores, esboços e pequenas maquetes, o clima é de viva agitação. O teto e as paredes não são rebocados, os tubos de calefação e de ventilação também são aparentes. O chão de cimento cinza sugere tudo, menos aconchego.
É daqui que partem todos os projetos de Libeskind para o mundo inteiro. Recentemente foi inaugurado em Las Vegas um gigantesco centro de comércio e de entretenimento. No momento, Libeskind e sua equipe estão projetando um teatro para Dublin, o Museu do Exército Alemão em Dresden e a Universidade de Hong Kong.
A esposa do arquiteto, Nina, gerencia o escritório e se encarrega de questões de pessoal referentes a 140 funcionários em todo o mundo. As paredes estão cobertas com os esboços de Libeskind para a área do antigo World Trade Center. Ao lado do Museu Judaico de Berlim, o projeto para o Ground Zero de Nova York é um dos mais importantes do arquiteto.
Holocausto e antissemitismo polonês
Libeskind nasceu no dia 12 de maio de 1946, na localidade polonesa de Lodz. Seu pai trabalhava como pintor e tipógrafo, a mãe, em uma fábrica. Em decorrência do antissemitismo que reinava na Polônia, a família emigrou para Israel em 1957.
Libeskind relembra sua infância: "Até o meu 11º ano de vida, cresci na Polônia, onde também frequentei a escola. Até hoje falo polonês, leio e escrevo em polonês. Meus pais eram judeus; eu era judeu. Havia um forte antissemitismo na Polônia. Não fazíamos parte do Partido Comunista e não éramos simpatizantes. Então, acabamos nos tornando alvo de agressão."
Libeskind sorri. O seu rosto brilha quando ele narra sua biografia e a de seus três filhos adultos. Ele fala ao microfone numa velocidade alucinante; entende alemão perfeitamente, mas só responde em inglês. Com seu pulôver preto de gola olímpica, blazer de couro marrom e óculos de designer, ele responde às perguntas com total atenção, sempre amigável. "Meus tios, tias e primos foram todos assassinados no Holocausto. Somos os únicos sobreviventes da família."
Em Israel, o jovem Daniel começou a estudar música e se apresentar em concertos. Mas logo se transferiu para os Estados Unidos, tornando-se cidadão norte-americano em 1965.
Ele se formou em História e Teoria da Arquitetura na Inglaterra e trabalhou como docente em inúmeras universidades do mundo. Desde 2006, viaja regularmente de Nova York à pequena cidade alemã de Lüneburg, nas imediações de Hamburgo, onde ensina como professor convidado da universidade.
Libeskind começou a ter reconhecimento internacional a partir de 1989, ao vencer o concurso para o Museu Judaico de Berlim. Para realizar o projeto, ele chegou até a mudar para a capital alemã temporariamente. Seus parentes, cujos antepassados foram assassinados em grande maioria na Shoah, "não podiam entender como poderíamos mudar com os nossos filhos para a Alemanha", conta Libeskind. "Eles achavam que tínhamos enlouquecido!"
Carreira tardia como arquiteto
Antes de ter finalizado, na idade de 52 anos, seu primeiro projeto de arquitetura, Libeskind trabalhara quase exclusivamente como professor universitário.
Nessa função, ele influenciou uma geração de arquitetos com suas ideias desconstrutivistas: "Minha vida se desenvolveu numa sequência inversa. Inicialmente foi determinada pela reflexão, pela teorização, e não por trabalhos públicos. Só agora estou realmente ocupado, trabalhando no mundo inteiro. É uma boa sequência, pois a teoria pode se tornar prática, mas não é possível teorizar com base na prática".
Ao se indagado se gostaria de retornar a Berlim, onde deverá construir o anexo do Museu Judaico, Libeskind sorri. Ele carrega "Berlim em seu coração", embora prefira trabalhar e viver em Nova York. A resposta revela uma pessoa acostumada a lidar com a mídia, empenhada em dar uma resposta diplomática. Antes de entrar para a próxima reunião com seus funcionários, ele ainda reitera, já à distância, que o anexo do Museu Judaico é um projeto muito importante para ele.
Autor: Michael Marek (sl)
Revisão: Carlos Albuquerque