Críticas ao relatório do Banco Mundial
29 de setembro de 2004Os investimentos diretos nos países pobres têm de ser acompanhados pelo respeito a uma série de padrões sociais e ecológicos, assinalou o Serviço das Igrejas Evangélicas Alemãs para o Desenvolvimento (EED), nesta terça-feira (28/9) em Berlim, em reação ao Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial elaborado pelo Banco Mundial (Bird).
O relatório é muito neoliberal e não analisa de forma crítica os investimentos estrangeiros nos países em desenvolvimento, aponta o serviço. Problemáticos são, na opinião de Peter Lanzet, do EED em Bonn, os investimentos estrangeiros nas extrações de petróleo e de diamantes. As guerras na África têm muita relação com investimentos não-regulamentados, ressalta.
Em cooperação com diversas ONGs do Brasil e de Bangladesh, o EED elaborou uma análise paralela ao relatório de desenvolvimento do Banco Mundial para 2005, em que tematizou a relação entre investimentos, crescimento econômico e o combate à miséria.
Um dos aspectos criticados pelo EED é o que Lanzet chama de "automatismo": "Os investimentos são facilitados, as regras para estes investimentos são flexibilizadas e automaticamente se diz que está havendo um combate à miséria", reclama. Este aspecto foi examinado tanto no Brasil como em Bangladesh.
"Chegamos à conclusão de que os investimentos diretos no país asiático não tiveram efeitos muito positivos, enquanto no Brasil o resultado foi diferenciado, devido às suas forças extremamente produtivas", enfatizou.
Respeito à natureza, direitos humanos e proteção ao trabalho
Dar aos próprios países em desenvolvimento a chance de aplicar estratégias de combate à pobreza é um aspecto que não pode ser ignorado pelos investidores, destaca Marina Metzger, do Instituto de Questões Financeiras de Berlim. Ela ressalta também a importância de preservar o meio ambiente, os direitos humanos e as normas básicas da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Segundo Lanzet, o relatório enfocou todos os temas importantes que se referem a investimentos, mas a importância dada a alguns não está correta. O Banco Mundial não dá a importância necessária ao governo como investidor nos países em desenvolvimento. Trata-se aqui de um papel muito importante, pois cerca de metade de todos os investimentos nestas regiões vêm do Estado.
Da mesma forma, deu-se pouca atenção às pessoas que dependem da economia informal para sobreviver, como por exemplo os camelôs, que formam uma grande parcela das populações destes países, mas nunca aparecem em balanço algum.
Segurança, risco do Brasil
Em seu relatório, o Bird considera o fim dos obstáculos que impedem a competitividade uma importante estratégia para impulsionar a economia nos países em desenvolvimento. "Um bom clima para investimentos é decisivo para o crescimento e a diminuição da pobreza", salientou François Bourguignon, vice-presidente sênior e economista-chefe do Bird, na apresentação do relatório em Washington.
Segundo o estudo, a América Latina e a África têm o pior ambiente para negócios. No Brasil, a maioria das empresas apontou a criminalidade como um sério obstáculo aos investimentos no país.