A mulher é maior vítima da globalização
8 de março de 2004A globalização criou trabalho para milhões de pessoas no Terceiro Mundo e, ao mesmo tempo, proporcionou mais luxo nos países ricos, como frutas exóticas, sapatos e vestuários de boa qualidade a preços módicos. Mas a economia global também tem suas vítimas e, na maioria dos casos, são mulheres. Isto foi constatado numa pesquisa que a organização de desenvolvimento internacional Oxfam fez em 13 países emergentes e em desenvolvimento.
Ao apresentar o resultado do estudo baseado em entrevistas com quase mil empresários e encarregados de compras em várias partes do mundo, o representante da Oxfam na Alemanha, Jörn Kalinski, esclareceu que os custos e riscos são, via de regra, deslocados para o início das cadeias de abastecimento. As equipes de compradores, sobretudo de cadeias de supermercados e redes de vestuário, fazem pressão dura e obrigam os seus fornecedores a fazer entregas pontualmente e a preços mais baixos possíveis. Esta pressão é então lançada sobre as empregadas dos fornecedores.
Exploradas são arrimo de família
- A Oxfam só examinou em sua pesquisa as grandes cadeias comerciais, como a norte-americana Wal-Mart, por exemplo. Só esta emprega indiretamente nos setores de têxteis e de produtos perecíveis aproximadamente 35 milhões de pessoas, das quais 80% são mulheres.A maioria desta legião de mulheres alimenta sozinha a família, depois que os seus maridos perderam o trabalho em áreas tradicionais, como a agricultura ou a indústria. Isto mostra, segundo Kalinski em Berlim, o quanto é falso o argumento que se ouve com freqüência de que estaria sendo aberto um serviço adicional muito bem-vindo para as mulheres.
Péssimas condições de salário e trabalho
- De fato, as grandes multinacionais do comércio têm um padrão mínimo de condições trabalhistas e salários, mas elas não verificam se os seus fornecedores também cumprem condições sociais mínimas.O sindicato de prestadores de serviços na Alemanha, Verdi, também participou do estudo da Oxfam e o seu perito em desenvolvimento citou para a imprensa, em Berlim, dados chocantes: "O salário pago por hora de trabalho é tão baixo que as trabalhadoras são obrigadas a fazer uma quantidade demasiada de horas extras. Muitas chegam a trabalhar até 70 horas por semana. Elas trabalham em parte sete dias por semana e, em muitos casos, a centenas de quilômetros de distância de sua família."
Disputa de mercado - Nestas circunstâncias, não admira que a grande maioria destas trabalhadoras contem menos de 25 anos, pois as mais velhas não agüentam as pressões ou são demitidas. Grande parte da culpa é dos governos dos seus próprios países, como o Chile, África do Sul, Quênia e Tailândia, entre os 13 abrangidos pela pesquisa da Oxfam. Para garantir aos seus países uma participação nos mercados internacionais, os governantes oferecem as condições de investimentos melhores possíveis para firmas transnacionais, às custas das trabalhadoras da base da pirâmide social.
Em seus esforços para atrair investidores estrangeiros, eles editam leis e fazem acordos comerciais que possibilitam regras mais flexíveis para a exploração da mão-de-obra não qualificada. E isto leva a uma grande concorrência entre os países pobres, por mais flexibilidade e, como disse Kalinski, por uma liquidação dos direitos dos trabalhadores.
Os apelos dos peritos em desenvolvimento internacional por medidas urgentes contra essas práticas socialmente injustas são dirigidas não só à organização Mundial do Comércio, em Genebra, mas também aos consumidores dos países ricos. Kalinski exortou os alemães a aguçarem a sua consciência para as condições em que são confeccionadas as calças e camisas de boa qualidade que compram a preços extremamente favoráveis. O consumidor da União Européia deveria também se dar conta de que não é possível encontrar um par de tênis de boa qualidade por dez euros que tenha sido produzido em condições socialmente justas, disse Kalinski.