Coreia do Norte e comércio dominam viagem de Trump à Ásia
3 de novembro de 2017O presidente Donald Trump fez sua estreia semioficial na política externa para a Ásia numa sexta-feira de dezembro, em 2016, quando falou por telefone com a presidente de Taiwan. A decisão de Trump, então ainda recém-eleito, de atender à ligação, a primeira entre um presidente ou presidente eleito dos Estados Unidos e um líder taiwanês em quase quatro décadas, gerou manchetes em todo o mundo. O governo chinês fez uma queixa oficial.
Que esse episódio do início da era Trump tenha hoje caído no esquecimento e pareça até inofensivo é um sinal de como é agitada essa presidência, que já foi chamada de "a Casa Branca sob esteroides".
Leia também: EUA demonstram força antes de visita de Trump à Ásia
A quebra de protocolo presidencial mais flagrante de Trump, no que diz respeito à Ásia, foi entrar num embate público com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, em resposta aos constantes avanços de Pyongyang nas suas capacidades nucleares.
As mensagens de Trump, quase todas pelo seu meio de comunicação favorito, o Twitter, culminaram no rebaixamento do líder norte-coreano a "homem-foguete", na insinuação de um ataque nuclear preventivo ao regime e na debilitação pública dos esforços do seu próprio secretário de Estado para alcançar uma solução diplomática para o caso.
No campo econômico, em uma de suas primeiras ordens executivas, Trump retirou os Estados Unidos da Parceira Transpacífico (TPP), que não apenas era o maior acordo comercial da história como também um pelo qual Washington havia se empenhado por anos, como forma de fazer frente à crescente influência política e econômica da China na Ásia.
Aliados e adversários confusos
A postura contraditória da administração Trump em relação à Coreia do Norte, ao lado da reviravolta no TPP e da política "Estados Unidos em primeiro lugar", abraçada pelo presidente, deixaram aliados e adversários na Ásia confusos sobre os rumos de Washington na região.
É isso que torna a primeira visita de Trump à Ásia – que começa neste domingo (05/11) pelo Japão – extremamente importante, afirma o especialista Michael Auslin, da Universidade de Stanford. "Restam muitas dúvidas sobre suas políticas", afirma.
A viagem de Trump "dá aos Estados Unidos uma oportunidade de reafirmar a seus aliados e parceiros na região que os compromissos assumidos estão de pé e que, mesmo que os EUA tenham adotado uma política America first, há interesses comuns pelos quais o país vai se empenhar", comenta a especialista Bonnie Glaser, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
No centro, a Coreia do Norte
O principal fio condutor da viagem de 11 dias de Trump, mesmo que a questão não esteja sempre no topo da agenda, é a Coreia do Norte, simplesmente porque é a questão mais premente para três países do itinerário presidencial: Coreia do Sul, Japão e China.
As declarações contraditórias do governo Trump sobre a Coreia do Norte, mesmo que possam ser interpretadas como parte de um esforço deliberado da administração de usar uma estratégica "um bate, o outro assopra" em relação a Pyongyang, são um tiro que saiu pela culatra, comenta Auslin.
"Ele realmente quer começar uma guerra?" é a pergunta que muitos observadores na Ásia fazem a si mesmos, diante da retórica marcial do presidente. Para tranquilizar os aliados de Washington, o presidente "precisa enviar uma mensagem clara, especialmente porque as declarações foram muito confusas nas últimas semanas", diz Glaser.
"Ele deveria exortar todos os países a implementar de forma rigorosa as sanções da ONU. E também deveria reafirmar a disposição dos Estados Unidos de negociar e esclarecer quais são as condições para essas negociações."
Para que isso seja convincente, porém, Trump e sua equipe provavelmente terão de recuar de uma exigência central, várias vezes repetida pelo presidente: a de que Pyongyang deve desistir de seu programa de armas nucleares como condição para as negociações e que os Estados Unidos jamais aceitarão que a Coreia do Norte tenha armas nucleares.
"Acho que a administração está cometendo um engano se o objetivo é a desnuclearização verificável e irreversível. O trem já deixou a estação. Os norte-coreanos não vão abrir mão de suas armas nucleares, a não ser que eles sejam obrigados a fazer isso pela força", diz Auslin.
Ásia continua importante
De forma similar, no que diz respeito ao comércio, os anfitriões esperam que Trump explique como ele pretende fortalecer os laços econômicos dos Estados Unidos com os países asiáticos depois da retirada do TPP.
"Os aliados e parceiros regionais estão ansiosos para saber se a política comercial americana vai além de apenas diminuir déficits bilaterais com os países", comenta Glaser.
Mesmo que a Coreia do Norte e o comércio sejam os dois temas centrais, o objetivo maior da viagem de Trump é reafirmar aos aliados asiáticos que a famosa política do ex-presidente Barack Obama de deslocar o centro dos interesses americanos para a Ásia pode até ter ficado no passado, mas isso não significa que os Estados Unidos vão abandonar a região e ceder sua influência para a China.
"Provavelmente o principal é ir até a Ásia e falar sobre como os Estados Unidos continuam sendo vitais para o futuro da Ásia", diz Auslin. "Fala-se muito que chegou a hora da China. Ele precisa mudar essa percepção e, no lugar dela, convencer as pessoas de que os Estados Unidos vão continuar desempenhando um papel central na Ásia também durante o governo Trump."
----------------
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App