Copa da Cultura brasileira em Berlim
8 de dezembro de 2005Da literatura à fotografia, do design à cena clubber
A agenda engloba desde um encontro de DJs brasileiros e alemães, para promover um "intercâmbio da cena clubber", até a divulgação de traduções de autores brasileiros para o alemão. Além disso, o Berliner Neuer Kunstverein traz uma exposição de fotografia brasileira contemporânea, com trabalhos de Rosângela Rennó, Emmanuel Nassar e Pedro Motta, entre outros.
O Festival Internacional Designmai tem, no mês que antecede a Copa, uma mostra de design brasileiro, e a música brasileira será tema da feira PopKomm. Um painel de discussão deverá relacionar a história da música à história do futebol no país, e o ciclo In Transit 06, na Casa das Culturas do Mundo de Berlim, deverá ser dedicado à dança e performance brasileiras.
A cena teatral brasileira também ganha espaço por duas semanas no Teatro Hebbel am Ufer, em Berlim, e uma exposição, já inaugurada em Hamburgo, procura traduzir para o público alemão a idéia do Modernismo brasileiro na primeira metade do século 20. Reunindo obras de Anita Malfati, Tarsila do Amaral, Candido Portinari, Lygia Clark e Alfredo Volpi, entre outros.
Brasil: porta de entrada para a América Latina
Para o ministro alemão Bernd Neumann, empossado há pouco e que lembrou estar "estreando" seus encontros com colegas de pasta ao receber Gil em Berlim, "o Brasil é a porta de entrada da Alemanha para a América Latina".
No país, lembra Neumann, há cinco Institutos Goethe, representantes de todas as fundações ligadas a partidos políticos alemães, além de vários acordos bilaterais na área acadêmica.
Ou seja, um terreno bem preparado para o intercâmbio previsto entre artistas plásticos, cineastas, escritores, dramaturgos, músicos e teóricos dos dois países. O embrião do que pode quase ser chamado de "Ano Brasil em Berlim" surgiu por ocasião de uma visita de Gil à capital alemã em 2004, para inaugurar uma exposição de Pierre Verger, fotógrafo francês radicado no Brasil, sobre os negros na Bahia. Naquela ocasião, conta Gil, foram dados os primeiros passos do projeto hoje intitulado Copa da Cultura – Brasil na Alemanha 2006.
Futebol & arte
O ponto de partida é o reconhecimento do futebol como "um fenômeno cultural que retrata exemplarmente os modos de ser, pensar e de se relacionar dos brasileiros. O modo como se joga futebol no Brasil e também como se torce nas ruas incorpora as características de diversas expressões culturais populares do país, sejam movimentos, ritmos, posturas ou gestos", teorizou Gil para uma platéia de jornalistas reunidos na Casa das Culturas do Mundo, em Berlim.
Para ilustrar a inserção do futebol na cultura brasileira e tornar nítida sua dimensão estética, a Copa da Cultura brasileira – organizada através de várias parcerias entre instituições de um lado e outro do Atlântico – deve procurar sinais do esporte como fonte de inspiração e referência nas artes.
"Não é por acaso que o jeito brasileiro de jogar futebol, profundamente influenciado pelo samba, capoeira, pela jinga e por outros traços marcantes da cultura nacional, recebeu o apelido carinhoso de futebol-arte", conclui Gil.
Outras cidades
Além de Berlim, que deverá sediar os eventos, há interesse de prefeituras de outras cidades alemãs, como Munique e Colônia, em parte da agenda cultural. Fugir dos clichês, levando a arte contemporânea brasileira ao exterior? Gil afirma que não, pois os clichês também são parte do repertório cultural brasileiro e não surgem à toa.
De uma forma ou de outra, a programação pretende ser uma "companhia perfeita para a performance das seleções brasileira e alemã na Copa". A estréia da Copa da Cultura acontece em janeiro de 2006 e deverá ter seu ponto alto no dia 25 de maio do mesmo ano, com a abertura oficial do evento na Casa das Culturas do Mundo, em Berlim.
Pop star brasileiro em Berlim
É possível que a série de eventos consiga realmente voltar os olhos do público europeu para a produção cultural brasileira. Mesmo que em grau bem menor que a atenção dada ao futebol. Como amostra da proporção de interesses: a presença de Marcelinho na platéia durante a entrevista coletiva de imprensa sobre a Copa da Cultura em Berlim atraiu quase mais olhares e câmeras que o próprio Gil no palco.