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Copa 2014 promete bater a da Alemanha em sustentabilidade

6 de junho de 2012

Na lista das metas do Brasil estão certificação de construção sustentável dos estádios e inclusão social. Remoção de famílias seria antes problema das obras para as Olimpíadas 2016, afirma presidente da Câmara Temática.

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Foto: picture alliance/Agencia Estado

Depois das Olimpíadas de Londres, que começam em julho, o Brasil já sabe: todos os olhares críticos estarão voltados para os preparativos da Copa do Mundo de 2014. A dois anos do megaevento esportivo, a Câmara Temática Nacional de Meio Ambiente e Sustentabilidade, fundada em maio de 2010, acelera os trabalhos para honrar as metas.

A própria Fifa reconhece que nem na Alemanha ou na África do Sul, que também assumiram compromissos sustentáveis, o tema começou a ser tratado com tanta antecipação. Mas o presidente da Câmara Temática, Claudio Lagone, já avisa: os esforços estão concentrados numa agenda de sustentabilidade e Copa, ou seja, não vão abranger os grandes problemas ambientais nacionais.

Os principais temas em questão são as mudanças climáticas e a transição para a economia verde. O Brasil também quer mostrar ao público estrangeiro sua biodiversidade, já que os jogos transcorrerão em cidades representativas da diversidade dos biomas brasileiros; da floresta amazônica ao pampa.

Deutsche Welle:O Brasil está prometendo uma Copa com um modelo único de sustentabilidade, que nunca foi visto. O que o país pode fazer que já não tenha sido feito, por exemplo, na Copa da Alemanha?

Claudio Langone: Será a primeira das Copas em que todas as arenas terão certificação de construção sustentável. Foi uma obrigatoriedade colocada pelo governo brasileiro como pré-condição para que os projetos dos estádios acessassem financiamento do BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

Das três copas que trabalharam a sustentabilidade [Alemanha, África do Sul e Brasil], a no Brasil é a primeira que incorpora uma linha de incentivo a produtos orgânicos sustentáveis. Nesse momento, estamos num amplo processo de mobilização, voltado aos fornecedores e produtores, para definição da relação entre oferta e demanda. Do outro lado, estamos trabalhando na organização da produção sustentável de produtos das florestas, frutas, artesanato, moda e design, que possam ser oferecidos na Copa.

Estamos dando um foco grande para ações que combinam iniciativas de sustentabilidade com políticas de inclusão social. Exemplo é a inclusão de catadores de materiais recicláveis nos projetos de gestão de resíduos e reciclagem nas cidades-sedes. Pioneiramente, o projeto do estádio do Mineirão está envolvendo o trabalho de detentos nas obras. E pelo o que tem sido apresentado, essa tem sido uma experiência de sucesso. Esse é um diferencial em relação às Copas anteriores.

O país está pronto para construir arenas esportivas que possam ganhar a certificação de construção sustentávell?

Esse projeto envolve as principais construtoras brasileiras. Todas já garantiram que sim, que honrarão esse compromisso. Para todas elas, essa será a primeira obra certificada. Isso é um retorno muito importante em torno do tema da economia verde: estão se contratando serviços da área de consultoria; a construção civil está incorporando novas práticas que terão muita replicabilidade.

E está havendo uma ativação do mercado de fornecimento de materiais da construção civil, porque esses projetos estão comprando material localmente e induzindo os fornecedores locais a buscar materiais certificados.

Umas das principais preocupações da Fifa é a redução do custo médio de manutenção das arenas depois da construção. E é um aspecto fundamental, porque as arenas são o palco da Copa.

Ainda sobre a questão social, como o senhor responde às denúncias de remoção de famílias, principalmente no Rio de Janeiro, para abrir espaço para obras?

No caso da Copa, o conjunto de obras é pequeno. A maior parte dos estádios está sendo reformada, em caso de demolição, a reconstrução acontece no mesmo local. Ou seja, não envolve o reassentamento de pessoas.

Os aeroportos também não são novos, são obras já existentes que serão ampliadas. As obras de portos não envolvem reassentamento também. Agora estamos numa fase que pode ser mais complicada, que são as obras de mobilidade e circulação. O volume de remoções das obras de mobilidade vinculadas à Copa é razoavelmente pequeno.

O governo fundou um grupo vinculado à parte de direitos humanos para fazer o acompanhamento, e ele poder agir em situações mais críticas. Ao que parece, há uma concentração maior dessa polêmica no Rio de Janeiro, e está vinculada às obras para os Jogos Olímpicos.

Depois da Copa, qual deve ser o legado desse trabalho dedicado à sustentabilidade do evento esportivo?

O nosso foco não é só a compensação ambiental, porque o licenciamento ambiental já resolve essa questão. Estamos trabalhando numa dimensão de agenda positiva e criação de oportunidades, num foco muito grande de trazer negócios para essa agenda de sustentabilidade.

A ideia é que a Copa acelere processos que aconteceriam naturalmente no país, mas demorariam mais tempo para se concretizar. Estamos dando um foco muito grande no usuário – porque é ele que toma a decisão sobre o que consome, onde se hospeda, como se comporta no estádio. É ele que produz resíduo, é ele que usa as arenas que serão certificadas.

O principal legado é a mudança de valores. E precisa haver uma participação ativa do torcedor. Não adianta ter os estádios certificados e não fazer um trabalho com o torcedor, para que ele tenha um comportamento sustentável dentro e fora daquela edificação.

Entrevista: Nádia Pontes
Revisão: Augusto Valente