Manaus espera crescer com a Copa no Brasil
11 de abril de 2012A agitação é grande na ponte de comando do navio de carga Aliança Europa. A embarcação corta as águas do rio Amazonas, transportando cerca de 1.500 contêineres. Há 12 anos, esse gigante é conduzido por Emanuel Brasil Diaz Guerreiro, ou simplesmente capitão Brasil.
Ele conta que o rio Amazonas é um labirinto de curvas que exige toda a atenção. "Por isso, conduzo o tempo todo com as próprias mãos". O Aliança Europa pertence à companhia Aliança Navegação e Logística, empresa com grande atuação no mercado de transporte de cabotagem brasileiro. A empresa é uma subsidiária da gigante alemã Hamburg Süd, que já está há muitos anos em Manaus.
Desde 1967, existe a Zona Franca de Manaus, com seus incentivos fiscais e alfandegários para impulsionar a economia da região amazônica. Sua criação foi uma escolha geopolítica, pois se tratava de melhorar o acesso ao interior do Brasil.
O porto de Manaus foi construído com docas flutuantes, já que, dependendo do período de chuva ou estiagem, o nível da água pode variar até 14 metros. Às margens do rio, contêineres do Hamburg Süd são empilhados até o alto.
Centro pulsante
A quase dois quilômetros de distância do moderno porto de contêineres, fica o velho terminal de passageiros, o Porto Flutuante: o centro pulsante da cidade. Lá se encontra o lado antigo e decadente de Manaus, tão movimentado de segunda a quinta-feira e esvaziado nos fins de semana.
"Espero que daqui a dois anos, na Copa do Mundo de 2014, aqui esteja mais movimentado", disse o vendedor de suvenir Antônio Jacaré, 32 anos. "Estive uma vez no Rio de Janeiro. Muita gente fazia piada dizendo que eu sou índio", contou. "Sim, meu senhor. Tudo o que você tem na sua casa, nós que produzimos: tela de plasma, motor de popa, pneus, aparelhos eletrônicos de comunicação. Tudo produzido pelos índios da área industrial de Manaus", devolveu.
Manaus abastece o Brasil
Minuto a minuto da manhã de segunda-feira, ônibus em caravana despejam trabalhadores na Zona Franca – que é tão grande quanto a área urbana de Manaus. Ali estão representadas quase todas as grandes marcas de multinacionais. De todos os aparelhos eletrônicos manufaturados no Brasil, 80% vêm de Manaus, assim como quase todas as motocicletas que circulam nas ruas do país. E o mercado interno brasileiro parece insaciável.
No comando da área de comércio está a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), que funciona como um ministério especial para grandes investimentos. A coletiva de imprensa trimestral começa com o hino do estado do Amazonas. Em seguida, são apresentados os números: o volume total de investimentos foi de 11 bilhões de dólares.
O volume de produção de empresas nacionais e multinacionais alcançou, no ano passado, um faturamento de 40 bilhões de dólares. A indústria emprega cerca de 120 mil pessoas. E isso é apenas o começo, segundo previsão do presidente da Suframa, Oldemar Ianck.
"Quando a presidente Dilma Rousseff esteve aqui há pouco tempo, ela inaugurou a ponte de 3,2 quilômetros sobre o rio Negro e anunciou a criação da região metropolitana". O objetivo, segundo Ianck, é a expansão.
A condição incentivadora fiscal de Manaus deve ser prorrogada por mais 50 anos, segundo o presidente da Suframa, que tem seu próprio entendimento sobre economia ecológica. "Nossa perspectiva é obviamente orientada pelo crescimento, pela criação de empregos, pelo aumento da produção. Manaus precisa ser um exemplo em questões de proteção do meio ambiente. Conseguimos criar vários empregos em áreas pequenas, para que as pessoas não precisem mais cortar as árvores para sobreviver", diz Ianck.
Copa de 2014
O boom que vem acontecendo no Amazonas não é novo. Já no final do século 19, o ciclo da borracha fez com que o então vilarejo que era Manaus se transformasse em uma grande cidade com avenidas, bondes elétricos e até com uma casa para óperas. Vinte anos depois, porém, houve uma grande queda do preço da borracha. A deterioração da casa de ópera mundialmente conhecida foi um símbolo da decadência da cidade.
Com a construção da nova Arena Amazônia para a Copa de 2014, a capital amazonense busca um novo impulso para seu crescimento. O escritório de arquitetura GMP, de Hamburgo, projetou um estádio para 45 mil espectadores, e que deverá ser inaugurado para o Mundial em dois anos.
Os arquitetos encontraram uma solução que combina as condições do clima do local e considera a tradição indígena. "Em princípio, a ideia base para o estádio era, obviamente, a conexão com a floresta tropical", explicou Maike Carslen do GMP.
Apesar da preocupação ecológica, questiona-se, no entanto, a sustentabilidade desta construção orçada em 200 milhões de euros. O arquiteto Burkhard Pick da GMP faz referência à discussão sobre o sentido de se construir um estádio caro em uma cidade que não tem time de futebol muito conhecido, e que sediará apenas quatro jogos da Copa.
"Essa discussão de por que gastar tanto dinheiro em um estádio sobre o qual não se está 100% certo de seu uso no futuro implica também para nós uma grande responsabilidade".
Pick ressalta a necessidade de se investir em melhorias nos arredores da cidade e em infraestrutura, como transporte públicos e ruas. Mas de uma coisa ele tem certeza: "Haverá mais turismo na cidade. As pessoas não virão apenas visitar a casa de ópera, mas também o estádio".
Delícias alemãs
Rolf Joest, dono de um restaurante na cidade, já espera com ansiedade por mais visitantes. Há anos, ele oferece a seus clientes salsicha e chucrute importados da Alemanha. "Eu gosto bastante dessa salsicha branca", contou um cliente.
"Ela realmente é muito boa", confirma Joest, que abriu a empresa há sete anos. No início ele tinha praticamente apenas clientes europeus. Agora a situação é inversa: 80% são brasileiros e apenas 20% são europeus. "Nós crescemos bastante, os brasileiros aceitaram muito bem a gastronomia alemã, com a salsicha, a mostarda, o pão típico, a weizenbier [cerveja de trigo]. E até o chope, eles gostam bastante", disse Joest.
Esta também é mais uma história de sucesso de alemães na Zona Franca de Manaus, que fica a 9 mil quilômetros de distância da terra da salsicha branca.
Autores: Christoph Goldmann/Leif Karpe (msb)
Revisão: Roselaine Wandscheer