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Reino Unido sob conservadores

12 de maio de 2010

Nomeado primeiro-ministro do Reino Unido após a renúncia de Gordon Brown, o conservador David Cameron anuncia uma coalizão de governo com os liberal-democratas, a primeira dos últimos 70 anos.

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Rainha Elizabeth 2ª felicita o novo premiê, David CameronFoto: AP

David Cameron confirmou, em encontro com a rainha Elizabeth 2ª no Palácio de Buckingham, que assume o cargo de primeiro-ministro do país, marcando o retorno dos Tories (conservadores) ao poder, 13 anos após o governo em Londres ter sido encabeçado pelo Partido Trabalhista (Labour). Cameron, aos 43 anos, é o premiê britânico mais jovem desde 1812. A anunciada coalizão de governo entre conservadores (partido de Cameron) e liberal-democratas acontece pela primeira vez nos últimos 70 anos.

Dokument des Buckingham Palace David Cameron
Documento oficial do Palácio de Buckingham incumbiu Cameron de formar novo governoFoto: AP

Em seu primeiro pronunciamento, o novo premiê agradeceu seu antecessor no cargo, Gordon Brown, por sua "longa experiência de dedicado serviço público" e salientou os desafios que deverá enfrentar à frente do governo britânico. "Nenhum partido detém a maioria absoluta no Parlamento e nosso país tem alguns problemas profundos e urgentes: um enorme déficit orçamentário, problemas sociais sérios e um sistema político que precisa de reformas", lembrou o premiê.

Estabilidade necessária

Essas são as razões, segundo Cameron, pelas quais seu partido pretende governar junto com os liberal-democratas. "Acredito que esse seja o caminho certo para munir este país de um governo forte, estável, bom e decente, algo extremamente necessário", afirmou ele.

Entre as prioridades citadas por Cameron após assumir o posto está a reforma do sistema político. A redução de gastos públicos e uma reforma do Parlamento foram também algumas das tarefas mencionadas pelo premiê. "É preciso assegurar às pessoas que tudo está sob controle e que os políticos serão sempre seus servidores e nunca seus mestres", definiu o primeiro-ministro.

Parto difícil

Antes da nomeação, Cameron e Nick Clegg, líder dos liberal-democratas, negociaram a divisão do bolo do poder. Nos encontros, Cameron ofereceu a Clegg, além da participação numa coalizão de governo, a possibilidade de levar a cabo um referendo sobre a reforma eleitoral, um dos principais pontos do programa político dos liberal-democratas.

A relativa morosidade das negociações (normalmente a troca de governo no país é acertada poucas horas após o resultado das eleições, tendo, desta vez, levado alguns dias) mostra o quanto a coalizão com os conservadores foi uma opção difícil para os liberal-democratas.

"Os liberal-democratas tiveram que escolher entre a peste e a cólera. A maioria de seus eleitores não teria perdoado se o partido tivesse mantido no poder um governo trabalhista não eleito. No entanto, o pacto com os conservadores não se deu por simpatia absoluta", comenta o semanário alemão Der Spiegel, ao lembrar as divergências históricas entre os dois partidos, entre outros em relação a temas como integração europeia, imigração, energia nuclear e missões de guerra. "A lista dos antagonismos é grande", conclui a revista.

Cumprimentos do exterior

Segundo notícias veiculadas pela mídia britânica, já estão confirmados os nomes de George Osborne, amigo e aliado de Cameron, para o cargo de ministro das Finanças, bem como o de Willian Hague, ferrenho crítico da União Europeia, como ministro do Exterior. O conservador Liam Fox deverá assumir a pasta da Defesa.

Líderes europeus e de todo o mundo enviaram seus cumprimentos ao novo premiê, entre os quais a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o presidente norte-americano, Barack Obama. Merkel convidou Cameron oficialmente a visitar Berlim e Obama salientou a "relação especial" entre seu país e o Reino Unido ao felicitar Cameron por assumir o governo britânico.

De Bruxelas, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, afirmou suas esperanças de uma "cooperação estreita" com o novo governo britânico. "Muitos dos desafios que temos pela frente – como a recuparação econômica, o combate à pobreza, as mudanças climáticas e um abastecimento seguro de energia – dizem respeito a toda União Europeia e demandam uma resposta comum", declarou o líder europeu em comunicado oficial a Londres.

Fim da era trabalhista

A renúncia de Gordon Brown – menos de uma semana depois das eleições gerais no Reino Unido, cujos resultados foram de um Parlamento sem maioria absoluta – marca o fim de uma era de 13 anos de governo trabalhista no país. "Amei o trabalho, não por seu prestígio, seus títulos e suas cerimônias, coisas que não aprecio de forma alguma", afirmou Brown em seu discurso de despedida.

David Cameron vor Downing Street 10 Mai 2010
Cameron e sua esposa, Samantha, chegam à residência oficial na Downing StreetFoto: AP

Sucessor de Tony Blair como primeiro-ministro, Brown assumiu o posto em junho de 2007. Para o Financial Times Deutschland, "o escocês Brown foi, sem dúvida, um dos maiores talentos políticos de sua geração, um apaixonado pelo Partido Trabalhista, interessado de coração no bem-estar do cidadão comum. Sua indecisão e autoestima exagerada transformaram-se, porém, em sua sina. Durante dez anos, Brown à frente do Tesouro do Reino Unido dificultou a vida de Tony Blair como primeiro-ministro. O Partido Trabalhista teria conseguido muito mais se os dois tivessem trabalhado juntos", resume o jornal.

Medo do mercado força acordo de coalizão

Nas últimas eleições, o Partido Trabalhista foi rebaixado a segunda maior bancada no Parlamento, com 258 assentos, perdendo para os conservadores, que saíram do pleito com 306 cadeiras. Os liberal-democratas ficaram com 57 assentos e outros partidos minoritários com 28. A parceria entre conservadores e liberal-democratas dá à nova coalizão de governo uma clara maioria de 365 assentos dos 650 da Câmara dos Comuns.

Segundo o diário suíço Neue Zürcher Zeitung, o medo –permanentemente estimulado pela mídia, por lobistas e por políticos conservadores – de uma perda de confiança dos mercados frente a um Estado extremamente endividado como o britânico "foi uma das forças-motrizes do acordo" entre conservadores e liberal-democratas.

Os mercados financeiros, contudo, segundo a análise do jornal, "comportaram-se durante toda a fase de formação do governo, marcada pelo drama e pela insegurança, de forma notavelmente cautelosa. O câmbio da libra esterlina subiu levemente".

SV/dpa/apn/afp/rtr/ap
Revisão: Simone Lopes

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