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Conflito das Coreias pode ameaçar indústria digital mundial

Thomas Kohlmann md
15 de setembro de 2017

Confronto militar teria consequências severas sobre produção de computadores e smartphones. Fabricantes de eletrônicos de consumo dependem de componentes da Coreia do Sul, líder na produção de chips e monitores.

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Engenheiro eletrônico inspeciona circuito de computador
Indústria informática depende profundamente de fábricas sul-coreanasFoto: Fotolia/DragonImages

Toda vez que um orgulhoso proprietário de um iPhone puxa seu aparelho do bolso e desfruta da tela de alta resolução, ele pode agradecer aos técnicos e operários da LG Display na Coreia do Sul. Pois são eles que produzem os monitores touchscreen de alta qualidade. A marca Apple, dos EUA, é especialmente dependente das cadeias de fornecimento globais do Extremo Oriente.

Mas não só na China são confeccionados muitos componentes para iPhones, iPads e MacBooks. Boa parte dos chips dos dispositivos da Apple vem também da Coreia do Sul. Também outros fabricantes de smartphones são extremamente dependentes dos processadores e chips de memória made in South Korea.

E desde que, na China, fabricantes como a Huawei aumentaram sua produção de smartphones, a exportação sul-coreana de semicondutores para o mercado chinês disparou. Somando-se chips de memória, processadores, placas, monitores LCD e outros circuitos, a China importa da Coreia do Sul mais de um terço de seus componentes de TI, segundo dados do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Em julho, o governo em Seul elevou para 3% suas expectativas de crescimento econômico em 2017. A razão principal são as crescentes exportações e investimentos da indústria de semicondutores do país.

Semicondutores e monitores

A Coreia do Sul é o segundo maior produtor mundial de semicondutores. Com chips de fabricantes como a Samsung e a SK Hynix, a indústria de semicondutores sul-coreana domina o setor, além de abastecer com chips de memória mais de dois terços do mercado mundial.

Os sul-coreanos lideram o mercado de chips de memória flash do tipo NAND, usados principalmente em smartphones e tablets, assim como o dos chips DRAM convencionais, empregados na memória de computadores pessoais e servidores. Sem os componentes da Samsung, o grupo Qualcomm, o maior fabricante mundial de semicondutores para celulares, sediado na Califórnia, poderia fechar suas portas.

Quanto aos monitores planos LCD, a Coreia do Sul ainda é o produtor dominante no mundo. Não é de admirar que especialistas do ramo se perguntem há muito o que aconteceria se as ameaças de Kim Jong-un se tornassem realidade, se as palavras dessem lugar a um conflito militar.

Logomarca da Samsung na porta da sede da empresa
Samsung é uma das responsáveis pela liderança da Coreia do Sul no ramo de componentes eletrônicosFoto: REUTERS

Queda na produção

Durante a Guerra da Coreia, na década de 1950, a produção econômica sul-coreana caiu cerca de 80%. Na época, depois da Segunda Guerra Mundial e de um período de ocupação japonesa, o país era subdesenvolvido, sem praticamente nenhum papel na economia mundial.

Hoje é diferente: a Coreia do Sul é a décima-primeira maior economia do planeta. Se, no caso de uma guerra, sua economia caísse 50%, a produção econômica global diminuiria em um ponto percentual, segundo pesquisadores da empresa de consultoria Capital Economics, em Londres. Isso corresponde a 770 bilhões de dólares, ou ao PIB da Holanda em 2016.

Assim que a Coreia do Sul fosse atingida por foguetes norte-coreanos, a produção de semicondutores do país entraria em colapso e, pouco depois, também a produção mundial de computadores e outros equipamentos digitais, segundo a empresa de consultoria tecnológica IBC, citada pela agência de notícias Bloomberg.

De acordo com dados da Bloomberg, cerca de 12% dos fornecedores da Apple são da Coreia do Sul. E essa dependência pode aumentar ainda mais, pois o novo modelo de ponta iPhone X possui uma tela OLED de alta resolução da LG. Enquanto cerca de 40% da produção global de LCDs vêm dos fabricantes sul-coreanos, seu domínio das telas OLED é ainda maior.

Analistas financeiros como Alberto Moel, da Sanford C. Bernstein & Co., consideram difícil prescindir dos sul-coreanos: "Para substituir a capacidade de produção de monitores da LG e de seu concorrente principal, a Samsung, seriam precisos investimentos de cerca de 50 bilhões de dólares.”

Proximidade arriscada

Em Seul e arredores vivem 25 milhões, aproximadamente a metade da população da Coreia do Sul. Em uma hora de carro, se chega do centro da capital sul-coreana à fronteira interna coreana. Quase todos os hotéis de Seul oferecem passeios de um dia à Zona Desmilitarizada (DMZ), na fronteira com o Norte.

Lá, a LG Displays, maior produtor mundial de monitores de computadores, tem seu centro de pesquisa. A cidade de Paju está localizada diretamente na DMZ. De uma montanha a norte do centro, é possível ver a quinta maior cidade da Coreia do Norte, Kaesong.

Não muito longe dela trabalhavam, até o fechamento da zona econômica especial de mesmo nome, em fevereiro de 2016, mais de 50 mil norte-coreanos a serviço de empresas sul-coreanas. E enquanto a diplomacia mantiver quietas as armas de Pyongyang, os cientistas e técnicos em Paju continuarão a pesquisar para fazer os melhores displays existentes, para iPhones e outros smartphones melhores e ainda mais caros, em todo o mundo.