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Como o "Estado Islâmico" se financia?

Andreas Becker (fc) 20 de novembro de 2015

Sob o impacto dos ataques em Paris, países do G20 se mobilizam para congelar as fontes de financiamento do grupo jihadista. Porém, na prática, sustar o fluxo de caixa de organizações terroristas não é nada fácil.

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Comboio do EI na província iraquiana de Anbar
Foto: picture-alliance/AP Photo

Sabe-se que a organização terrorista "Estado Islâmico" dispõe de recursos financeiros expressivos. O governo alemão estima que seu capital circule "entre 1 bilhão e 2 bilhões de dólares".No entanto, faltam informações confiáveis sobre como a organização se financia.

Ao contrário de organizações como a Al Qaeda, o EI não é simplesmente uma rede terrorista, mas funciona como um Estado. Ele detém o controle sobre regiões inteiras, inclusive os recursos locais e a população. Por isso, sua dependência de fluxos financeiros estrangeiros é "basicamente pequena", afirma Berlim.

"O 'Estado Islâmico' controla um território vasto, podendo, assim, gerar capital local e criar fluxos financeiros de que a Al Qaeda não dispunha", observa Reinhard Schulze, especialista em assuntos islâmicos da Universidade de Berna. Isso também dificulta os esforços internacionais para secar as fontes de financiamento dos terroristas.

Pelo menos os lucros com o contrabando de petróleo vão diminuindo – devido ao preço do produto estar muito baixo, mas também por atualmente haver maior controle na Turquia, Iraque e nas regiões curdas, avalia a Financial Action Task Force (FATF), grupo de trabalho da OCDE voltado ao combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo.

USA, F-22 Jet
Bombardeios da coalizão liderada pelos EUA prejudicam receita do EI com petróleoFoto: picture-alliance/dpa/Us Air Forces Central Command/Sg

No entanto, muito mais poderia ser feito. "Nós precisamos de melhores informações sobre a origem do petróleo, intermediários, compradores, transportadores, comerciantes e rotas de abastecimento", enumera a FATF.

Os ataques aéreos da coalizão militar liderada pelos EUA também reduzem o faturamento com o petróleo. Em meados deste ano, o governo federal alemão afirmava que as receitas do petróleo geram para o EI "no máximo 200 mil dólares por dia", ou 6 milhões de dólares por mês. No entanto, informações confiáveis são raras, também estando em circulação estimativas muito mais elevadas.

Receitas elevadas, custos elevados

Uma das principais fontes de renda do EI são os impostos e taxas cobrados nos territórios ocupados. Os moradores devem pagar "de 5% a 15% de seus salários", afirma o governo alemão. Também é arrecadado um imposto especial para residentes não muçulmanos, bem como taxas de energia, água, uso de imóveis, telecomunicações, tráfego e transporte de mercadorias.

A pressão militar sobre o EI exerce efeitos diretos sobre suas finanças. "Desde julho, o 'Estado Islâmico' perde constantemente território e receitas. Isso também reduz a capacidade de pagar seus combatentes", aponta o relatório mais recente do provedor de informações americano IHS.

As estimativas sobre o tamanho das tropas do EI igualmente variam muito. No final de 2014, a agência de inteligência americana CIA calculava um total de 30 mil combatentes. Já o especialista em segurança Daveed Gartenstein-Ross, da Universidade de Georgetown, considera mais provável um contingente de 100 mil homens.

Manter um exército de tais proporções é caro. Segundo dados do governo federal alemão, combatentes comuns recebem um soldo mensal entre 400 e 500 dólares, enquanto os comandantes ganham mais de 3 mil dólares. Mesmo nas estimativas mais cautelosas, chega-se rapidamente a 15 milhões de dólares por mês, apenas para pagar os salários dos combatentes.

O governo alemão também possui informações de que a organização terrorista "é favorecida por financiadores privados dos Estados do Golfo. As doações são feitas, em parte, sob o manto de organizações de ajuda humanitária, mas também são coletadas abertamente". No entanto o peso dessas doações para o EI parece ter diminuído.

Impostos e taxas

A FATF apresentou um novo relatório ao G20 na reunião de cúpula do grupo no último domingo. Desde 2010, houve 863 condenações na Arábia Saudita por financiamento do terrorismo. Em segundo lugar vêm os EUA, com cerca de 100 sentenças. No geral, porém, tais condenações são raras, só tendo ocorrido em 33 dos 194 países pesquisados, ressalta o relatório.

Trinta e sete países impuseram voluntariamente sanções contra indivíduos e organizações e congelaram suas contas. Na Arábia Saudita foram bloqueadas as maiores somas: 31 milhões de euros até metade de agosto. Nos EUA o total bloqueado foi de 20 milhões de euros, e em Israel, 6 milhões de euros. A conclusão dos autores do relatório é que a luta contra o financiamento do terrorismo avança a passos lentos, e na maioria dos países os recursos legais disponíveis ainda não foram esgotados.

Terrorismo de baixo orçamento

Além disso, muitas das transações financeiras dos terroristas ocorrem fora do esquema bancário convencional. O EI "construiu um sistema de transações muito informal" provavelmente nas linhas do Hawala, avalia Schulze. Esse sistema árabe de remessas, cujas raízes remontam à Idade Média, se baseia, sobretudo, na confiança.

"Mesmo para peritos financeiros é difícil de entender", admite o especialista Universidade de Berna. Os pagamentos são efetuados em espécie, por todo o mundo e de forma anônima. Assim é possível quem deposita não saber quem recebe, diz Schulze. "E o que recebe o dinheiro, não sabe de quem ele provém."

Independentemente da situação financeira do EI, permanece o problema de que é possível executar atentados terroristas como os de Paris sem grandes recursos. O Instituto de Pesquisa da Defesa da Noruega analisou os 40 ataques terroristas mais sangrentos ocorridos na Europa entre 1994 e 2013: três em cada quatro custaram menos de 10 mil dólares.

Assim, mesmo com as perdas militares na Síria e Iraque, a capacidade financeira do EI para realizar ataques terroristas no exterior não diminuirá, adverte o instituto.