Como grupo, Brics tropeçam na indefinição entre parceria e concorrência
26 de março de 2013Durante quase uma década, os Brics demonstraram um crescimento impressionante. Entre 2003 e 2008, as economias de Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul tiveram expansão anual média de 8%. Quando a crise financeira europeia e americana ameaçou se alastrar por todo o mundo, foram principalmente esses países que levantaram os ânimos e protegeram a economia global de uma profunda depressão.
Nesta terça-feira (26/03), representantes dos Brics se reúnem em Durban, na África do Sul, em situação diferente da de dez anos atrás, quando a sigla foi criada pelo economista americano Jim O'Neal. O crescimento de antes já não é tão robusto, e as nações começam a perder fôlego. Mesmo assim, Dirk Messner, diretor do Instituto Alemão de Política de Desenvolvimento (DIE), diz não acreditar que os países emergentes, tão celebrados até há pouco, corram risco de não servirem mais de motor de crescimento para a economia mundial.
Messner aponta que os altos percentuais de crescimento do milagre econômico chinês já são coisa do passado. Algo que, segundo ele, não é surpreendente. "Não temos no mundo uma economia que, durante quatro ou cinco décadas, tenha crescido mais de 10% ao ano. A China está entrando agora numa fase de normalização com um crescimento de 6 a 8%. Isso ainda é muito dinâmico", afirma o especialista em entrevista à DW.
Jürgen Matthes, do Instituto de Economia Alemã (IW), parte do princípio de que o motor do crescimento dos Brics vai continuar girando: "Além disso, o potencial de recuperação desses países frente ao dos países industrializados ainda é relativamente grande", diz.
Brasil: perspectivas favoráveis
As opiniões dos economistas são, contudo, diferentes em relação aos países individualmente. "Para o Brasil, as perspectivas são extraordinariamente favoráveis, porque o país dispõe da combinação entre um forte desenvolvimento industrial, de um lado, e uma base enorme de recursos, do outro", analisa Messner.
Ele vê a Índia de forma igualmente otimista. Já no caso da Rússia, o especialista demonstra um certo ceticismo, pois o país, segundo ele, não constrói uma estrutura econômica, confiando exclusivamente na exploração dos recursos naturais. Além disso, Moscou sofre, em comparação com os outros quatro países do grupo, mais com a crise do euro, uma vez que os negócios com a exportação de gás e petróleo dependem muito do apetite da União Europeia.
Já a África do Sul, segundo o especialista, está numa situação diferente – e mais difícil. O entorno regional, explica, é complicado e instável de maneira geral, "de forma que o país praticamente não pode ser comparado à China ou à Índia".
Contextos diferentes
Ou seja, os Brics formam um grupo diverso, cujos membros, às vezes, competem uns com os outros. A China, por exemplo, se irrita por ser acusada por outros países do grupo de praticar dumping. E a Rússia desagrada os brasileiros com suas limitações de importação de produtos agrários. Os russos pretendem se transformar, eles próprios, nos maiores exportadores mundiais do setor e se colocam, dessa forma, como concorrentes do Brasil.
As dificuldades de uma cooperação mais estreita entre os países do Brics se dão também em função do fato de suas economias não serem necessariamente complementares. E, sendo assim, elas não se fortalecem mutuamente, avalia Messner. "Os mercados mais importantes para as mercadorias chinesas estão na Ásia. E, no que diz respeito à orientação industrial do Brasil, a região latino-americana é absolutamente relevante", completa.
Em outras palavras: para os grandes países emergentes, a cooperação regional está em primeiro plano. Além disso, as diferenças de sistemas políticos entre eles dificulta ainda mais a formação real de um bloco. Assim, não é surpreendente que os encontros de cúpula realizados até agora não tenham surtido efeitos práticos. Eles apenas mostraram, segundo Messer, que a economia mundial "não se sustenta mais apenas nas sociedades industriais ocidentais, ou seja, nos países da OCDE". Para ele, esse é o único efeito político real dessas conferências.
De acordo com Matthes, essa é exatamente a questão mais intrigante. "O interesse em um poder unificado será grande o suficiente para se sobrepor aos interesses divergentes? Ou os interesses divergentes são tão grandes que a cúpula não passará de um evento midiático?", questiona o especialista.