Com só € 60 ao dia, gregos improvisam e aguardam apreensivos
10 de julho de 2015O comerciante de vinhos Dimitris está muito preocupado. Ao lado do caixa de sua loja, uma pilha de recibos contém uma soma considerável em pagamentos feitos com cartão de crédito. "No fim de semana, uma mulher comprou 650 euros em vinhos e destilados para uma festa de casamento e pagou com cartão. Outro dia, o dono de um bistrô pediu 350 euros em garrafas de vinho e também pagou com cartão", relata.
Com os bancos fechados e a ameaça de falência da Grécia, Dimitris teme que o sistema de cartões de crédito entre em colapso e que ele nunca receba esse dinheiro. Mas ele diz que não tem escolha. "Não posso fazer nada, pois dependo dos meus clientes."
Dimitris recorda que, antes da crise, a maioria dos clientes costumava pagar em dinheiro – e sem barganhar. Só que isso mudou depois que os bancos foram compulsoriamente fechados por ordem do governo. Para o comerciante de vinhos, a falta de dinheiro vivo traz consigo dois desafios.
Primeiro porque os seus ganhos foram empurrados para frente, para quando ele receber o dinheiro das operadoras de cartão de crédito. O problema é que ele precisa pagar os seus fornecedores em dinheiro vivo, já que eles querem evitar riscos e, fazem entregas apenas com pagamento adiantado.
E há ainda um outro problema. "Como os fornecedores estão economizando em combustível, foram criados valores mínimos para um pedido. Do contrário, você simplesmente não recebe o produto."
Com sorte, 60 euros por dia
As instituições de crédito gregas foram fechadas em 28 de junho, depois de terem perdido um quarto de seus depósitos nos últimos seis meses. O governo da Grécia culpou os credores internacionais pelo fechamento, argumentando que eles se negam a prolongar a ajuda financeira ao país.
Inicialmente, o primeiro-ministro Alexis Tsipras havia prometido que os bancos seriam reabertos após o referendo sobre as exigências fiscais dos empréstimos. A promessa, porém, não foi mantida, e, na segunda-feira, a abertura dos bancos foi prolongada por 48 horas. Na quarta, esse prazo foi novamente adiado, e o serviços bancários do país devem continuar interrompidos até no mínimo esta segunda-feira (13/07). Até lá, os clientes só podem realizar saques diários de, no máximo, 60 euros.
No bairro de Pangrati, em Atenas, Maria, de 50 anos, espera por seus 60 euros numa filial do Banco Alpha. Aqui a fila para os caixas eletrônicos não é tão grande, talvez por causa do calor, já que os termômetros marcam 35º C. Maria quer aproveitar a procura relativamente baixa e, depois do saque, ir até o Banco Nacional da Grécia, que fica em frente. Ela também tem uma conta por lá e pode, assim, conseguir outros 60 euros.
Mas ela sabe que o saque será menor que o valor limite. "Quando você tenta sacar 60 euros, aparece a mensagem de que esse valor não está disponível", conta. "Você só recebe 50", completa. Segundo os rumores, quase não há mais notas de dez euros em circulação. "Não há como confirmar essa informação, pois as agências estão fechadas e não há ninguém para esclarecer nossas dúvidas", reclama. "Ninguém sabe por quanto tempo os bancos continuarão sem funcionar. Talvez apenas três dias, talvez por mais um mês", lamenta.
A professora Anda tem outra opinião. "Continuo otimista e confio em nosso governo", afirma, com segurança. Paciente, quase com um sorriso no rosto, ela espera na fila. "Tenho certeza que o mundo não vai acabar se os bancos continuarem fechados por mais alguns dias", diz, ressaltando que é preciso ter calma e não enlouquecer por causa disso.
Ilhas gregas sem caixas eletrônicos
Em algumas ilhas da Grécia, a economia praticamente parou com o fechamento dos bancos. Maria Kakkali, prefeita de Agios Efstratios, uma distante ilha no norte do mar Egeu, descreveu o absurdo cotidiano pelo qual o município está passando. "Só há um banco em nossa ilha, que está fechado, e não temos caixas eletrônicos", afirmou ao canal de TV Skai.
"Quem quiser sacar os seus 60 euros precisa fazer uma viagem de barco de duas horas e meia até a ilha mais próxima, Lemnos, e lá esperar na fila." Na prática funciona o jeitinho grego: quem viaja para Lemnos leva junto os cartões de outros moradores e saca dinheiro para todo mundo.
Ninguém sabe onde isso vai parar. O governo grego tem negado notícias sobre uma moeda paralela e sobre um controle mais rígido para evitar a saída de dinheiro vivo do país. Mesmo assim, depósitos no exterior só podem ser feitos, no momento, mediante a aprovação de uma comissão especial.
O que vai acontecer nos próximos dias depende muito de a Grécia chegar a um acordo com os credores. O comerciante de vinhos Dimitris espera, de qualquer forma, que a situação volte logo ao normal. Do contrário, ele diz temer pela sua segurança. "Ontem à noite arrombaram a loja aqui ao lado. Possivelmente, era alguém atrás de dinheiro vivo. Não dá pra saber quando essas pessoas vão agir de novo", comenta.