Lembra daquele filme chamado Feitiço do tempo, sobre um apresentador da previsão do tempo que todos os dias acordava para viver o mesmo dia, o Dia da Marmota? Pois é assim que se sentem muitas pessoas em Bruxelas.
Aos trancos e barrancos, a zona do euro concordou em tentar pela última vez trazer a rebelde Grécia de volta para os trilhos. Se vai dar certo, é pra lá de questionável. "Data final", "última data final" e "última data final, mesmo" já houve várias na briga com o radical de esquerda Alexis Tsipras. É difícil acreditar que o prazo deste domingo valha alguma coisa e traga algum resultado.
O resultado do referendo, no qual os gregos fatalmente rejeitaram o segundo programa de ajuda, está sendo ignorado. Um novo, terceiro e ainda maior programa de ajuda deverá trazer a salvação, claro que em troca de novas condições. Os critérios para esse programa, que são regulados por lei, são, na verdade, ainda mais severos se examinados de perto.
O vitorioso da hora, o populista Tsipras, vai conseguir impô-los em casa? Os parlamentos dos países da zona do euro vão estar dispostos a investir mais uma vez dezenas de bilhões de euros nos próximos dois anos? Pode-se realmente confiar no primeiro-ministro de Atenas, até agora um negociador irresponsável, que ainda há pouco chamou seus credores de chantagistas?
Isso tudo deverá se revelar até domingo. Até lá, os pilares para um programa abrangente terão que ser costurados às pressas. A Grécia deverá encaminhar solicitações e documentos – vamos ver se isso vai funcionar. Esses documentos terão que ser avaliados a toque de caixa. A Comissão Europeia ainda terá que anunciar que a estabilidade da zona do euro está em perigo, o que é condição obrigatória para que o fundo de ajuda Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) possa ser ativado.
Até agora, a Comissão Europeia sempre sublinhou que a crise na Grécia não era uma ameaça para a zona do euro. Agora, de repente, tudo precisa ser diferente! Esse exemplo mostra que a grande manobra para salvar a Grécia não é necessariamente construída de forma sólida. E como poderia? Essa última carta foi tirada da manga em poucos dias pelos estrategistas em Berlim e Paris.
Com boa vontade de ambos os lados, já em abril se poderia ter negociado de forma séria sobre um programa de ajuda, que é, sem dúvida, necessário. Essa pressão irresponsável é culpa do teimoso governo grego, que levou o país ao fundo do poço. Usando como reféns os aposentados que não podem mais sacar dinheiro, Tsipras conseguiu obter mais uma última chance nas negociações. Se ele não usar também essa, o "Grexit" – a saída da Grécia da zona do euro – será inevitável.
Pois sobre uma coisa os chefes de Estado e de governo aparentemente nem mesmo falaram: um empréstimo-ponte. Ele é necessário para manter o falido Estado grego vivo enquanto durarem as negociações sobre um novo pacote dentro dos critérios do MEE. Pode-se contar com várias semanas até fluir dinheiro do pacote número três. Até lá, espera-se, o Banco Central Europeu vai continuar fazendo empréstimos de emergência aos arruinados bancos gregos. Também essa é uma construção extremamente temerária.
Tsipras prometera aos seus eleitores, antes do referendo, que até esta terça-feira ele teria um acordo nas mãos e que na quarta-feira os bancos voltariam a abrir na Grécia. Não cumpriu nenhuma das promessas. Mais uma vez, os países da zona do euro, muito a contragosto, tiveram de se superar para evitar o "Grexit". Eles já estão se expondo ao ridículo com suas eternas cúpulas e permanentes encontros de ministros das Finanças.
Se tudo isso não funcionar no domingo, então só resta a saída da Grécia da união monetária. "Finalmente!", alguns vão festejar. Apesar das consequências imprevisíveis, não se pode culpá-los por isso.