Grupo dos BRIC
4 de novembro de 2009O papel do Brasil nas transformações ambientais do planeta foi um dos temas que dividiram opiniões no simpósio O Brasil entre os países do BRIC nesta terça-feira (03/10). O evento reuniu especialistas brasileiros e alemães na sede do Instituto Ibero-Americano em Berlim.
Além de abordar a relação entre o Brasil e grandes atores do cenário internacional, como os Estados Unidos e a União Europeia, os participantes fizeram uma análise comparativa entre o país e os outros integrantes do chamado grupo BRIC, que reúne Brasil, Rússia, Índia e China.
O encontro serviu não só para expor pontos em comum entre países desenvolvidos e emergentes, mas também revelou algumas divergências, entre elas a questão do clima.
Enquanto os estudiosos alemães alertaram para o perigo de os países emergentes, como o Brasil, menosprezarem a questão da sustentabilidade em sua busca pelo desenvolvimento, os especialistas brasileiros pediram aos europeus que não fizessem do ambientalismo uma bandeira ideológica.
Soluções sustentáveis
“Sempre temos que melhorar o meio ambiente, mas não podemos fazer disso uma ideologia, como as existentes no século 19”, comparou o diretor do Instituto Brasileiro da China e Ásia-Pacífico, Severino Bezerra Cabral Filho.
“Temos que superar isso e pensar no futuro da espécie humana”, completou, argumentando que o Brasil está empenhado em buscar soluções sustentáveis, como é o caso do estímulo à produção de etanol, um combustível limpo, segundo ele. “E podemos fazer ainda muito mais, em cooperação com a Europa”, lembrou.
Harald Fuhr, professor de política internacional da Universidade de Potsdam, ressaltou, entretanto, que o Brasil continua entre os cinco países que mais poluem o planeta. “Se calcularmos todas as cotas de emissões, três dos cinco maiores poluidores são países do BRIC. O Brasil é o quinto colocado. Isso é um problema”, salientou.
Para ele, o importante é deixar de lado o clima de confrontos e estimular a colaboração entre o BRIC e as nações em desenvolvimento. “Temos que ter uma cooperação intensa. Não deveríamos subestimar a necessidade de lidarmos com os problemas climáticos”, disse.
Para o cientista político alemão, os países emergentes devem pensar na questão do desenvolvimento sem subestimar os problemas climáticos. “Se não resolvermos isso, os países em desenvolvimento são os que mais vão sofrer”, afirmou.
O presidente da Federação de Câmaras de Indústria e Comércio da América do Sul, Darc Costa, disse reconhecer um tom de alarmismo nos temores europeus e se mostrou confiante de que a humanidade vai conseguir contornar os problemas climáticos sem abrir mão do desenvolvimento. “Não acho que vivemos num mundo catastrófico, à beira do fim da civilização. Eu acredito no papel transformador do homem. Sou otimista”, resumiu.
Convergência
Mas, embora Europa e Brasil tenham interesses contrários, como nas questões de comércio internacional negociadas na Rodada de Doha e também na questão climática, soluções energéticas podem ser um ponto de convergência e de cooperação, lembrou Hans-Hartwig Blomeier, diretor do departamento para América Latina da Fundação Konrad Adenauer.
“O Brasil tem liderança em combustíveis renováveis e nós poderemos necessitar dessas energias. Já a Europa é líder em eficiência energética, uma área onde Brasil pode ter necessidades”, explicou. Na sua opinião, os europeus deveriam mudar a maneira como tratam o Brasil e passar a considerar o país um parceiro à mesma altura.
“Temos que tirar da cabeça o conceito de ajuda e substituí-lo pela noção de cooperação. Ambos os lados necessitam de uma relação de igual para igual”, argumentou.
O economista Luiz Carlos Bresser-Pereira lembrou do perigo que os países desenvolvidos incorrem ao ver o Brasil e outros países da América Latina como um bloco homogêneo."Existem dois tipos de capitalismo na América Latina. Há países como Brasil, Chile e Argentina, e há os outros, que são nações pobres. Neles, a condição política é muito diferente", sublinhou.
Os especialistas foram unânimes quanto ao enfraquecimento da hegemonia norte-americana diante de um cenário multipolar, onde Brasil, Rússia, Índia e China ganham maior importância. “É consenso que há um declínio da posição internacional dos Estados Unidos, cuja hegemonia no século 20 não será exatamente igual no século 21”, sublinhou Túlio Vigevani, do departamento de Ciências Políticas e Econômicas da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
Ele lembrou que a China cresce em significado como parceiro do Brasil. “No comércio internacional brasileiro, a participação americana caiu de 23% nos anos 1995 e 96 para atuais 14%. Os EUA continuam como principal parceiro comercial do Brasil, mas tiveram seu share diminuído. Já a China evoluiu de quase zero para 8,29% em 2008”, concluiu.
Autor: Márcio Damasceno
Revisão: Rodrigo Rimon