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Encontro Econômico

27 de agosto de 2009

Comércio entre Brasil e Alemanha dobra em dez anos e especialistas veem espaço para mais crescimento. Em Vitória, encontro econômico reúne empresários e setor público para debater oportunidades.

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Vitória é sede de encontroFoto: Thiago Guimarães

O Brasil pode não ser o maior parceiro comercial da Alemanha, mas está longe de ser pouco importante. Entre 1998 e 2008, o comércio entre os dois países mais que dobrou, passando de 8,4 bilhões de euros para 18 bilhões de euros.

Esse número torna o Brasil o oitavo principal parceiro da Alemanha fora da União Europeia (UE) e o mais importante na América Latina, bem à frente do segundo colocado, o México. O comércio entre alemães e mexicanos movimentou 11 bilhões de euros em 2008, conforme informações do Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha (Destatis).

"Houve um forte crescimento nas importações e exportações de ambos os países nos últimos cinco anos", diz o empresário Ingo Plöger, da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, ressalvando que, em 2009, o comércio bilateral caiu cerca de 20% por causa da crise mundial.

Ainda que o peso do Brasil na balança comercial alemã não seja comparável ao de outros países do BRIC, como China e Rússia, a tendência é de alta nas relações comerciais, aponta Peter Rösler, especialista da associação Lateinamerika Verein.

"Podemos perceber que o Brasil, cada vez mais, deixa de ser um país emergente para se tornar um país industrializado. O comércio de mercadorias da Alemanha se dá principalmente com países industrializados e não com países em desenvolvimento ou emergentes. Quanto mais o Brasil se tornar um país industrializado, tanto mais crescerá o comércio com a Alemanha", argumenta Rösler.

Alemanha é parceiro forte para o Brasil

Para o Brasil, a Alemanha é um parceiro comercial muito importante. Segundo relatório do Ministério do Desenvolvimento, em 2008 o país europeu foi o quinto maior importador de produtos brasileiros e o quarto maior exportador.

No caso das exportações, o aumento em relação ao ano anterior foi de 22,7%, chegando a 8,85 bilhões de dólares. As importações subiram 38,7%, totalizando 12 bilhões de dólares. Os alemães compram dos brasileiros principalmente minério de ferro, café e soja. Já os brasileiros adquirem máquinas, produtos químicos e eletroeletrônicos.

Rösler vê espaço para a prospecção de novos nichos de mercado para os alemães no Brasil, principalmente nas áreas de energias renováveis e meio ambiente. O mesmo vale para os produtos brasileiros na Alemanha.

"Certamente poderão ser enviados mais produtos industrializados para a Alemanha. Lembro que há pouco a Lufthansa comprou os primeiros aviões da Embraer. E esse é apenas um exemplo. Há muitas outras oportunidades, como no setor agrícola."

Liberalização do comércio

O aumento das exportações do setor agrícola brasileiro para Alemanha – e para a Europa como um todo – depende principalmente da liberalização do comércio entre a UE e o Mercosul. Um acordo nesse sentido está sendo discutido pelos dois blocos há anos, sem sucesso.

Em julho passado, diplomatas brasileiros e espanhóis anunciaram que retomarão ainda este ano as negociações. A Espanha assumirá a presidência rotativa de UE no primeiro semestre de 2010 e já deixou claro o interesse em incluir o tema na agenda europeia.

Plöger se diz cético quanto a possíveis vantagens advindas do acordo. Segundo ele, os objetivos de dez anos traçados nas negociações foram superados em apenas três anos, mesmo com as taxações. "Por aí se pode ver a falta de percepção de ambos os lados nas potencialidades das duas economias. Uma renegociação não pode partir do patamar de 2004, já completamente ultrapassado."

China em alta na América Latina

Um motivo para os europeus se apressarem nas negociações com o Mercosul é o constante avanço dos produtos chineses na América Latina. No caso do Brasil, a China já é hoje o segundo principal parceiro comercial do Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos e à frente da Argentina. Os analistas são unânimes ao afirmar que a Alemanha deve levar a China a sério como concorrente a longo prazo.

"Ainda não percebemos essa concorrência de forma acentuada porque os produtos alemães são de alta qualidade. Os produtos que vêm da China hoje concorrem sobretudo com fabricantes brasileiros, em áreas como tecidos e brinquedos. Mas a tendência é clara e temos que ver a China como um concorrente sério", afirma Rösler.

Entre 2007 e 2008, o crescimento das exportações chinesas para o Brasil foi de 58,8%, de acordo com o Ministério brasileiro do Desenvolvimento. A participação chinesa nas importações brasileiras já é de 11,6%.

"As importações da China e as importações da Alemanha são coincidentes nos dez primeiros itens, incluindo máquinas e equipamentos, produtos químicos e eletroeletrônicos. Os produtos chineses não apenas contaminam os preços internos como também representam uma competição para outros países", diz Plöger.

Vitória concentra debates

É para debater as potencialidades de negócios entre Brasil e Alemanha que cerca de mil empresários, políticos e representantes do setor público se reunirão em Vitória, no Espírito Santo, na 27ª edição do já tradicional Encontro Econômico Brasil-Alemanha.

O evento, que começa neste domingo (30/08) e prossegue até a próxima terça-feira, terá a participação de autoridades dos dois países, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o ministro alemão da Economia, Karl-Theodor von und zu Guttenberg.

Autor: Alexandre Schossler
Revisão: Augusto Valente