Ciro Gomes decide não tomar lado no segundo turno
28 de outubro de 2018Ciro Gomes (PDT), terceiro colocado nas eleições presidenciais deste ano, decidiu não se posicionar a favor de nenhum dos dois candidatos neste segundo turno, frustrando expectativas petistas de um possível apoio a Fernando Haddad (PT) frente à liderança de Jair Bolsonaro (PSL).
"Todo mundo preferia que eu, com meu estilo, tomasse um lado e participasse da campanha. Mas eu não quero fazer isso por uma razão muito prática que não quero dizer agora. Porque, se eu não posso ajudar, atrapalhar é o que eu não quero", afirmou ele em vídeo.
Em tom misterioso, Ciro disse que a consciência dele aponta para uma necessidade de "preservar um caminho" em que a sociedade brasileira possa "ter, amanhã, uma referência para enfrentar os dias terríveis que estão se aproximando".
O jornal Folha de S. Paulo sugere que a decisão do cearense de não declarar apoio neste segundo turno foi uma espécie de lançamento informal de sua candidatura ao Planalto em 2022, que pode ser anunciada em janeiro, após a posse do próximo presidente.
Na gravação, Ciro expressou "grave preocupação" com o futuro do país e pediu aos brasileiros que compreendam a necessidade de ir às urnas neste domingo para votar "com a democracia, contra a intolerância e pelo pluralismo". Contudo, destacou que "ninguém é obrigado a votar contra as suas convicções e ideologias".
O candidato derrotado também alertou contra o medo. "Nada de medo, não será com medo que nós vamos enfrentar o que quer que venha por aí, e vocês sabem que eu estarei na linha de frente com todos vocês."
"O Brasil precisa a partir de segunda-feira que a gente construa um grande movimento, que de um lado proteja a democracia brasileira e de outro lado proteja nossa sociedade mais pobre dos avanços contra os direitos", afirmou ele, destacando ainda a importância de que sejam protegidos "os interesses nacionais contra a entrega e a cobiça estrangeira".
O vídeo de pouco mais de dois minutos foi gravado em um apartamento e divulgado um dia depois de o pedetista ter retornado de uma viagem de quase três semanas à Europa. Ele não mencionou o nome nem de Haddad nem de Bolsonaro durante a gravação.
Na sexta-feira, o presidente do PDT, Carlos Lupi, afirmou ao jornal Estado de S. Paulo que Ciro gravaria um vídeo em apoio ao petista. Após o primeiro turno, o partido fez ressalvas ao PT, mas declarou "apoio crítico" a Haddad, levando em conta os "riscos" de se eleger Bolsonaro.
Em 7 de outubro, após confirmada sua derrota no primeiro turno, Ciro sinalizou oposição ao candidato do PSL ao ser questionado sobre seu apoio na segunda rodada. "Ele não, sem dúvida", respondeu, usando um bordão que virou símbolo do movimento contra o capitão reformado.
O PT contava que Ciro pudesse se unir em torno da candidatura de Haddad para formar uma "frente democrática" em oposição a Bolsonaro. Na sexta-feira, o candidato petista disse esperar uma "declaração dura" do cearense, mas favorável à sua campanha. Segundo Haddad, o apoio de Ciro poderia render-lhe um ganho de entre três e quatro pontos percentuais.
Joaquim Barbosa
A campanha petista ficou sem o apoio de Ciro, mas ganhou o de Joaquim Barbosa. Neste sábado, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou no Twitter que seu voto no segundo turno das eleições será em Haddad.
"Votar é fazer uma escolha racional. Eu, por exemplo, sopesei os aspectos positivos e os negativos dos dois candidatos que restam na disputa. Pela primeira vez em 32 anos de exercício do direito de voto, um candidato me inspira medo. Por isso, votarei em Fernando Haddad", declarou.
O ex-prefeito de São Paulo agradeceu o voto de Barbosa momentos depois, durante uma caminhada pela comunidade de Heliópolis, na capital paulista.
"É um apoio muito significativo, porque ele tem uma representação muito forte. É uma figura que representa valores com os quais eu compartilho. Estou celebrando seu apoio porque ele é muito representativo dos riscos que o Brasil está correndo", afirmou Haddad.
O candidato do PSL reagiu à declaração de Barbosa publicando um vídeo de 2012 em que o ex-presidente do STF afirma, durante o julgamento do mensalão, que "somente Jair Bolsonaro votou contra" uma lei que foi aprovada após suposta compra de líderes partidários por parte do PT.
"Em suas redes sociais, Joaquim Barbosa divulga voto em Haddad, mas já está na história que ele mesmo disse que só Bolsonaro não foi comprado pelo PT no esquema de corrupção conhecido como mensalão, que feria gravemente a democracia do nosso país anulando o Poder Legislativo", escreveu Bolsonaro ao postar o vídeo.
Barbosa voltou ao Twitter para rebater a declaração: "Faço um esclarecimento público para desmentir uma manipulação que vem sendo feita ao longo desta triste campanha eleitoral. Até a data de hoje eu ignorei completamente o uso do meu nome na campanha por um dos candidatos. Mudei de ideia porque hoje reiterou-se a manipulação."
O ex-ministro acrescenta que, no vídeo referido por Bolsonaro, estavam sendo julgados líderes de partidos, e que o então deputado não fazia parte do processo.
"Bolsonaro não era líder nem presidente de partido. Ele não fazia parte do processo do mensalão. Só se julga quem é parte no processo. Portanto, eu jamais poderia tê-lo absolvido ou exonerado. Ou julgado. É falso, portanto, o que ele vem dizendo por aí", declarou Barbosa.
Antes das postagens deste sábado, o último tuíte do ex-ministro havia sido em 8 de maio, para anunciar que, "após várias semanas de muita reflexão", ele decidiu não concorrer à Presidência da República.
EK/abr/ots
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