Cinema em 2015: campeões, premiados e uma lista pessoal
27 de dezembro de 2015Uma retrospectiva do ano cinematográfico alemão de 2015 pode começar com as produções que atraíram maior público no país: como não é difícil imaginar, a animação em 3D Minions teve quase 7 milhões de espectadores, sendo seguida pelo novo James Bond, 007 contra Spectre, com 6,2 milhões.
No entanto, a campeã absoluta de bilheteria foi uma produção bem menos conhecida do público internacional: a comédia adolescente alemã Fack ju Göhte 2 foi vista por mais de 7,6 milhões na Alemanha. O título é a grafia intencionalmente incorreta da exclamação "Fuck you Goethe!", ilustrando a colisão de mundos que se dá quando um ex-criminoso se disfarça de professor do ensino médio. A primeira parte também dominou as bilheterias em 2013.
No próximo ano, porém, todos os recordes anteriores ameaçam ser pulverizados pelo novo episódio da saga Star Wars: O despertar da Força, cuja campanha de sucesso vem varrendo mundo desde a estreia, na penúltima semana de dezembro. Em nível mundial, o filme mais assistido até então é Jurassic World: O mundo dos dinossauros.
Outra abordagem possível, numa retrospectiva do ano, é a do reconhecimento qualitativo nas grandes competições. A sátira Birdman ou (A inesperada virtude da ignorância) foi a mais premiada pela Academia de Hollywood, saindo com quatro Oscars; enquanto Juventude, do italiano Paolo Sorrentino, ficou com o Prêmio Europeu do Cinema.
No que concerne os festivais internacionais de peso, o Urso de Ouro da 65ª Berlinale coube ao iraniano Taxi Teerã, de Jafar Panahi;enquanto o drama Dheepan: O refúgio, do francês Jacques Audiard, obteve a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Por sua vez, o thriller experimental Victoria, todo filmado em plano-sequência, foi o vencedor do "Lola", o prêmio do filme alemão.
Mas terão sido esses os melhores filmes de 2015? Não necessariamente. Assim, partindo do princípio que toda retrospectiva é subjetiva, o especialista em cinema da DW Jochen Kürten apresenta uma lista pessoal dos lançamentos do ano que ele considera imperdíveis.
O ano mais violento (EUA)
Para mim, este é o filme do ano. O diretor J.C. Chandor conta a história de uma empresa petroleira de médio porte, na Nova York no começo da década de 1980. Abel Morales, o protagonista, faz de tudo para seguir a lei e o próprio senso de justiça, enquanto sua mulher, Anna, faz vista grossa aqui ou ali.
Política e economia e esferas públicas e privadas se entrelaçam nesta história escrita e filmada com extrema precisão: uma obra-prima. Os atores Oscar Isaac e Jessica Chastain formam o casal cinematográfico do ano.
Leviatã (Rússia)
O cineasta russo Andrey Zvyagintsev oferece uma imagem invertida da vida e do trabalho do outro lado do mundo em Leviatã, quando o mecânico de carros Kolya é forçado a se defender de um prefeito de província corrupto e sedento de poder.
Uma sombria joia do cinema contemporâneo, uma batalha desesperadora e sem esperanças, provavelmente traçando uma imagem impiedosa e realista da atual Rússia de Vladimir Putin.
Foxcatcher: Uma história que chocou o mundo (EUA)
Outra trama passada nos Estados Unidos dos anos 1980, desta vez baseada em fatos reais: Foxcatcher conta a trajetória dos irmãos atletas Mark e David Schultz, ganhadores da medalha de ouro de luta greco-romana nos Jogos Olímpicos de 1984.
Em seguida, ambos conhecem o magnata John E. du Pont, herdeiro da bilionária dinastia americana da indústria química. Aqui, o diretor Bennett Miller conta uma história bizarra, que termina em tragédia. As atuações de Channing Tatum, Mark Ruffalo, Steve Carell e Vanessa Redgrave, entre outros, são fantásticas.
Steve Jobs (EUA)
Mais um filme sobre um americano ultra rico e sua dificuldade de distinguir entre ilusão e realidade. O diretor britânico Danny Boyle narra a história do fundador da Apple, dividindo a trama em três atos, filmados com técnicas diferentes.
Durante duas excitantes horas, o ator Michael Fassbender é Steve Jobs, contando aos espectadores sobre a ascensão da empresa fundada sobre bases bastante instáveis, e que hoje domina o mundo.
Tudo vai ficar bem (Alemanha)
Uma das mais belas surpresas do cinema em 2015 foi o retorno de Wim Wenders – que, na verdade, nunca havia abandonado o cinema. Mas, com exceção de alguns documentários notáveis, o cineasta parecia ter pedido seu poder criativo.
Com a participação dos astros James Franco, Rachel McAdams e Charlotte Gainsbourg, Tudo vai ficar bem lembra mais uma vez por que Wenders é tão prestigiado. O antigo mestre do Novo Cinema Alemão se apresenta em alta forma, estilisticamente sofisticado, entre o melancólico e o melodramático. E prova, de passagem, que a tecnologia 3D também pode fazer sentido para além das batalhas espaciais e das animações infantis.
Freistatt (Alemanha)
Aqui está outra surpresa vinda da Alemanha e, provavelmente, o filme de estreia mais notável do ano – pelo menos no contexto nacional. Em Freistatt (literalmente "Santuário"), o diretor Marc Brummund descreve as chocantes experiências de violência e repressão de um garoto de 14 anos num reformatório do norte da Alemanha, na década de 1970.
O que é mais assustador é o fato de, até pouco tempo atrás, tais condições ainda existirem em algumas instituições juvenis do país. No entanto Brummund vai além de qualquer sensacionalismo, em sua obra tocante e visualmente imponente.
Love & mercy (EUA)
Endereço certo para quem aprecia a combinação de cinema e música, Love & mercy conta a trágica história do líder dos Beach Boys, Brian Wilson, e sua profunda crise psicológica.
Um excelente filme de Bill Pohlad é sobre a história do pop, sobre os anos 60 e 70, e como alguém que rejeita as convenções e as expectativas da sociedade pode se afirmar neste mundo. O título é homenagem à canção homônima de Wilson.
Saint Laurent (França)
Outro artista sensível é retratado nesta cinebiografia: também o estilista francês Yves Saint Laurent viveu no limar entre gênio e loucura. Sua vida já havia inspirado um ótimo filme no ano anterior: Yves Saint Laurent, de Jalil Lespert, com Pierre Niney no papel título.
A produção deste ano, dirigida por Bertrand Bonello e estrelada por Gaspard Ulliel, é um tanto mais fria, e também mais experimental. Ainda assim, Saint Laurent aproxima bastante o espectador de um ser humano e artista muito singular.
Táxi Teerã (Irã)
O novo filme do diretor iraniano Jafar Panahi fala de um universo completamente diferente. O cineasta simplesmente assumiu o volante de um táxi, trazendo o mundo para dentro dele e mostrando-o ao espectador exatamente da forma como se apresentava.
Rodado de forma simples e direta, Táxi Teerã é incrivelmente tocante e genuíno. Trata-se de cinema político e engajado, testemunho da coragem de um cineasta perseguido pelo Estado iraniano; e ao mesmo tempo é uma poética obra de arte. Em fevereiro, a película ganhou o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim, mas a cadeira de Panahi ficou vazia, pois ele fora proibido de deixar seu país.
Amy (EUA)
O ano de 2015 também foi de grandes documentários. Inclusive sobre a arte cinematográfica, como os mágicosThis is Orson Welles, Hitchcock/Truffaute Altman. Também memoráveis foram Was heisst hier Ende? ("O que quer dizer com 'fim'?"), sobre o falecido crítico alemão de cinema Michael Althen; e Coração de cão, exibido no Festival de Veneza: uma homenagem da artista experimental americana Laurie Anderson a seu animal de estimação.
O destaque maior, porém, vai para o documentário musical Amy, que entusiasmou até mesmo quem não se interessava especialmente pela vida e obra cantora de soul Amy Winehouse. A intensa trajetória da artista inglesa morta aos 27 anos é narrada pelo diretor Asif Kapadia exclusivamente a partir de gravações originais.
Também aos 27 anos morria Janis Joplin, em 1970. Para descobrir o que mais essas duas cantoras tinham em comum, outro excelente documentário estreia nas salas de exibição da Alemanha em 14 janeiro de 2016: Janis: Little girl blue – um excelente começo do novo ano cinematográfico.