Checkpoint Berlim: O fenômeno das "lebres comunistas"
19 de junho de 2017Comum em zonas campestres, as lebres são uma espécie que geralmente tem dificuldades em se adaptar à vida na cidade – diferentemente dos coelhos que parecem adorar Berlim. Um fenômeno, porém, tem chamado a atenção de pesquisadores alemães: a invasão de lebres no bairro de Lichtenberg e sua preferência pelas regiões ocupadas pelos chamados Plattenbau, os conjuntos habitacionais típicos da antiga Alemanha Oriental.
Enquanto a média de lebres por quilômetro quadrado na Alemanha é 11, em Lichtenberg, esse número sobe para 15. A espécie parece realmente ter gostado da arquitetura da antiga República Democrática Alemã (RDA). As lebres começaram a aparecer no bairro, que durante a divisão da Alemanha ficava no lado oriental da cidade, há pouco mais 15 anos.
No decorrer deste período, os animais fixaram moradia no bairro, localizado no nordeste de Berlim e que fronteira com o estado de Brandemburgo, onde há algumas regiões agrícolas.
Pesquisadores tentam agora descobrir o motivo do apreço das lebres por Lichtenberg. A espécie, ameaçada na Alemanha, costuma ser sedentária, passando toda a vida na mesma região. Por ter uma capacidade relativamente baixa de adaptação a um novo habitat, a invasão da espécie no bairro intriga biólogos.
Um projeto do Instituto Leibniz para Pesquisa Selvagem e em Zoológico e o distrito de Lichtenberg busca, com a ajuda dos moradores, recolher dados sobre as "lebres comunistas" e entender as mudanças no comportamento da espécie para sua adaptação à vida na cidade.
Os moradores de Lichtenberg ou passantes que avistarem lebres são convidados a responder um questionário no site do próprio distrito, comunicando a hora e o local exato deste encontro.
A iniciativa pretende também sensibilizar as autoridades sobre os novos moradores e, desta maneira, pensar em políticas públicas para humanos e lebres. Por exemplo, em decisões sobre novas áreas verdes, escolher locais que agradem a ambos.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.