Checkpoint Berlim: O bronzeado perfeito
17 de junho de 2016Apesar de não parecer muito, os alemães curtem um bronzeado. Assim como muitos brasileiros que lotam praias e lagos deitados horas ao sol à procura do tom ideal, os habitantes de Berlim ocupam parques tentando deixar de lado o branco profundo e doentio do inverno.
O bronzeado em Berlim tem, porém, um aspecto peculiar e bem distinto do brasileiro: a marquinha do biquíni. Sexy aqui é não tê-la. E não é preciso se esconder em sacadas, lajes ou jardins cercados por muros para evitar olhares incômodos na busca do tom perfeito. Em alguns parques, os alemães se desprendem de qualquer pudor e deixam de lado as roupas ao tomar sol.
Acostumada com uma cultura diferente, que, apesar de parecer liberal, é extremamente conservadora e proíbe até um simples topless, foi um tanto estranho no início andar por parques e deparar-me com grupos despidos na maior naturalidade. Precisava me concentrar para evitar olhares e agir como se nada fora do meu habitual estivesse acontecendo.
O desprendimento da Freikörperkultur (FKK) – cultura do corpo livre – é admirável. Mas a naturalidade é alcançada, principalmente, graças aos vestidos. A individualidade é uma virtude alemã, por isso, ninguém se preocupa com o que o outro está fazendo, desde que este siga as leis e regras do país.
Difícil imaginar se a moda da FKK pegaria no Brasil. Além do conservadorismo, a cultura do corpo perfeito poderia ser outro empecilho. Em Berlim, quem busca o tom sexy não liga se está com quilinhos a mais ou menos: a prioridade mesmo é tomar sol.
Isso revela ainda que o bronzeado alemão vai muito além da estética. Esse surto de vaidade repentino é questão de saúde. Os longos dias cinzentos do inverno pesam no corpo. Descobri recentemente que meu cansaço constante era derivado da falta de vitamina D e comecei a perceber que ela, ou melhor, sua ausência é um tema corriqueiro entre alemães. Apesar da escassez da vitamina, não alcancei e nem sei se alcançarei um dia o desprendimento necessário para a FKK. Acho que nesse quesito meu lado brasileiro grita mais alto.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.