Cessar-fogo em Aleppo termina sem evacuação de civis
22 de outubro de 2016Chegou ao fim neste sábado (22/10) a trégua unilateral na cidade síria de Aleppo, sem que fosse possível fazer a evacuação de civis da localidade devastada. Ao fim do cessar-fogo, a cidade voltou a ser palco de confrontos intensos entre as forças do governo e rebeldes, afirmaram organizações.
Ingy Sedky, porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha na Síria, afirmou que a evacuação prometida não pôde ser realizada por falta de segurança na região. Segundo ela, sua equipe não conseguiu chegar à zona leste de Aleppo, que está sob comando dos rebeldes.
A ONU, que esperava poder evacuar os gravemente feridos, assim como entregar ajuda humanitária à cidade, também disse não ter recebido as garantias de segurança necessárias para prestar o socorro.
Os militares russos iniciaram um cessar-fogo unilateral de 11 horas na última quinta-feira, a fim de permitir que os civis e os combatentes rebeldes deixassem a área, prometendo-os uma saída segura. Em seguida, a trégua foi estendida por mais dois dias, mas os rebeldes se recusaram a sair.
Segundo agências de notícias internacionais, o exército sírio chegou a abrir oito corredores para que as evacuações pudessem ser feitas, mas poucas pessoas foram vistas saindo da cidade por apenas uma das passagens, enquanto as outras permaneceram desertas durante a trégua.
A imprensa estatal síria e as autoridades russas acusaram os rebeldes no leste de Aleppo de terem impedido os civis de deixarem a área, além de usá-los como "escudos humanos".
"Os terroristas estão usando o cessar-fogo em prol de seus interesses", acusou o general russo Serguei Rudskoi, quem anunciou a trégua à imprensa local no início desta semana. "Eles estão se juntando em torno de Aleppo e se preparando para mais um avanço contra bairros no oeste da cidade."
As Nações Unidas pediram que a Rússia estendesse o cessar-fogo até a noite de segunda-feira, mas Moscou não se manifestou sobre o assunto até o fim da trégua, às 19h deste sábado (horário sírio).
Aleppo não recebe ajuda humanitária desde 7 de julho, e o estoque de alimentos deve chegar ao fim ainda no final de outubro, afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na última quinta-feira.
Mais de 2 mil mortos
A parte leste da cidade síria, conquistada pelos rebeldes em 2012, está cercada pelo Exército desde meados de julho e tem enfrentado bombardeios devastadores pelo governo e por sua aliada Rússia desde o lançamento da ofensiva para retomar a cidade, em 22 de setembro.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos informou neste sábado que pelo menos 2.114 civis morreram e cerca de 11 mil ficaram feridos nos últimos seis meses em Aleppo, período em que se intensificaram os bombardeios na cidade. Entre os mortos, 479 eram crianças, e 262, mulheres.
A maior parte das mortes ocorreu nos bairros do leste da cidade, dominado pelos rebeldes, somando um total de 1.282 pessoas. Outros 667 civis morreram nas zonas dominadas pelo regime sírio, no oeste de Aleppo, sendo que 176 eram menores de idade, e 131, mulheres.
EK/afp/dpa/efe/lusa