Casa das Culturas do Mundo é catedral cultural da Copa
1 de junho de 2006Elza Soares, Chico Buarque, Arnaldo Antunes, Gilberto Gil e tantos outros se apresentando em um só mês no mesmo lugar. Onde? No Citibank Hall, no Credicard Hall, no Sony Center?
Não. As apresentações dos mais renomados artistas brasileiros se realizarão entre os meses de junho e julho na Casa das Culturas do Mundo de Berlim, um presente norte-americano para a Exposição Internacional da Construção de 1957, que estará completando 50 anos no ano que vem.
O prédio funcionava inicialmente como Sala Benjamin Franklin, nome também da fundação que o financiou. Como rezam os dizeres na parede de entrada do edifício, ele foi construído como ponto de encontro e de liberdade de expressão para todos os homens de boa vontade.
A "Ostra Grávida"
O projeto foi executado pelo arquiteto norte-americano Hugh Stubbins e é composto de uma base de concreto medindo 92 por 96 metros, onde se encontram, divididos em três pavimentos, auditórios, cantina, espaços de exposição e administração. Os shows dos artistas brasileiros se realizarão, se o tempo deixar, na base do prédio, ao ar livre.
Nesta plataforma repousa a sala propriamente dita, uma cúpula com teto em membrana curva sustentado por dois arcos de concreto que repousam somente em dois pontos no solo. A sala tem capacidade para cerca de 1,2 mil espectadores e por sua forma oval levou o apelido de "Ostra Grávida" dos moradores de Berlim.
A entrada do prédio é marcada por uma escadaria que leva ao teto da base e a um espelho d'água, coroado pela escultura "A Grande Borboleta", do escultor inglês Henry Moore.
Por desgaste de material nos arcos, o teto da "Ostra Grávida" caiu em maio de 1980, ocasionando a morte de um jornalista ali presente. Por ocasião dos 750 anos de Berlim, a administração da cidade resolveu dar-lhe novamente um presente: a reconstrução do edifício original, reaberto em 1987 com o nome de Casa das Culturas do Mundo.
O problema da cúpula
No mesmo ano de sua construção, o professor suíço Siegfried Giedion publicou em seu livro Arquitetura e Comunidade uma pequena análise sobre o que a cúpula significa na História da Arquitetura.
De representação uterina da fertilidade materna nas primeiras civilizações à idéia de reprodução da abóboda celestial no auge da civilização romana, passando pela necessidade barroca de encenação do mistério e do infinito, Giedion retratou o problema da cúpula na sociedade do pós-guerra como uma forma de redescoberta da vida em sociedade, mostrando-nos o seu valor festivo-sacral.
E foi justamente o projeto para a Casa das Culturas do Mundo de Hugh Stubbins que Giedion utilizou, em 1956, como exemplo para ilustrar suas teorias, explicando também que esse projeto marca o retorno de uma técnica construtiva para seu lugar de origem, já que a membrana de concreto curva havia sido inventada na Alemanha no começo do século 20.
A "Catedral da Copa"
Um dos motivos de destaque do projeto da Casa das Culturas do Mundo é com certeza sua localização. Situada no parque do Tiergarten, bem próximo ao prédio da chancelaria federal, a "Ostra Grávida" se ergue como um monumento no meio do verde.
O valor desta cúpula parece também ter sido entendido pelo governantes da cidade de Berlim, que aproveitando o aniversário de 750 anos da cidade e a reconstrução do prédio, em 1987, resolveram coroá-lo com o Carillon, construído a poucos metros do edifício. O Carillon, com os seus 68 sinos, é o maior campanário da Europa.
Um campanário junto a um monumento. O bom leitor semiótico não poderia perder a oportunidade de rebatizar a "Ostra Grávida" que, depois do campo de futebol, será o local mais brasileiro durante o Mundial de 2006, de nossa "Catedral da Copa".
Para as comemorações do seu jubileu, a Casa das Culturas do Mundo será restaurada e modernizada após o encerramento da Copa da Cultura em julho. A reforma custará 8 milhões de euros e deverá levar um ano para ser executada.