Cabo-de-guerra por 1,8 trilhão de euros prossegue na UE
18 de julho de 2020Ao se iniciar o segundo dia da conferência de cúpula da União Europeia em Bruxelas, o silêncio reinante era o que mais chamava a atenção. Nenhum dos chefes de Estado e governo presente tomou o microfone diante das câmeras, como de costume, para anunciar as perspectivas do novo dia de negociações no plenário do Conselho Europeu.
O motivo para tal moderação foi, muito provavelmente, o fato de na véspera não ter ocorrido qualquer aproximação entre os posicionamentos diametralmente opostos dos 27 países-membros, não havendo, portanto, nada de promissor para anunciar.
Desde as 11 horas deste sábado (18/07) delibera-se oficialmente tanto sobre o fundo de ajuda para após a crise do coronavírus, no valor de 750 bilhões de euros, como sobre o orçamento da UE até 2027, totalizando 1,1 trilhão de euros. Trata-se do primeiro encontro dos líderes europeus cara a cara, desde o início da pandemia do coronavírus, em março.
Na noite anterior, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, destacara o clima tenso, o qual ainda se agravou no decorrer do jantar. Da mesma forma que outros países doadores, como Dinamarca, Suécia e Áustria, Rutte exige que os subsídios de um fundo de recuperação só sejam pagos mediante condições rigorosas, cujo cumprimento deve ser "absolutamente garantido", por exemplo, através de resoluções unânimes.
Prováveis receptores, como Itália, Espanha e Grécia, rejeitam essa visão. Para o premiê italiano, Giuseppe Conte, não é aceitável a exigência holandesa de um veto dos pagamentos. Outros chefes de governo também veem a estruturação do fundo com olhos críticos: em entrevista à emissora ORF, o austríaco Sebastian Kurz voltou a questionar o financiamento através de dívidas conjuntas da UE. Segundo ele, não se pode criar uma "União das Dívidas".
Seu colega búlgaro, Boyko Borissov, propôs que a Comissão Europeia e os ministros de Finanças do bloco fiquem encarregados de administrar as subvenções. Deve-se partir do princípio que todos os membros da UE se norteiam pelo Estado de direito, não são necessários outros mecanismos de controle, defendeu o premiê, lembrando que a Comissão pode sustar desde já os pagamentos aos países que não se atenham às normas.
"Maestra Merkel"
Segundo fontes diplomáticas, o presidente da rodada de cúpula, Charles Michel, e a atual detentora da presidência rotativa do Conselho Europeu, Angela Merkel, mandaram elaborar durante a noite novas propostas de consenso, sobre as quais os dirigentes estão deliberando, em grupos de trabalho de tamanhos diversos. Na sexta-feira, na abertura da conferência, a chanceler federal alemã manifestou ceticismo de que se vá encontrar uma solução.
Caso fracasse a atual cúpula, será programada uma segunda maratona de negociações ainda antes do fim de julho. O chefe de Estado da França, Emmanuel Macron, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, aconselharam que se decida rápido, considerando o catastrófico impacto econômico da epidemia de covid-19. Segundo Von der Leyen, "é infinitamente importante, há muito em jogo"; enquanto Macron se referiu a uma "hora da verdade" para a Europa.
Grandes esperanças recaem sobre Merkel, como chefe de governo há mais tempo no cargo e que já participa pela terceira vez de negociações sobre o orçamento da UE. Além disso, é a Alemanha que contribuiria com a parte do leão desse fundo de reconstrução.
Possivelmente por isso, o chefe de Estado da Lituânia, Gitanas Nausėda, presenteou uma batuta de maestro à presidente em exercício do Conselho Europeu, que comemorava seu 66º aniversário. "Feliz aniversário, querida Sra. chanceler federal Angela Merkel, Regente Europeia 2020!", escreveu no Twitter, "Por sons harmônicos na política, para uma grandiosa sinfonia europeia!".
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