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Bravo, Brasil!

22 de janeiro de 2020

Que perda de tempo! Mais uma vez um membro do governo brasileiro desviou a atenção dos problemas do país com referências ao nazismo. Um gesto errado na hora errada, mas que ganhou a resposta certa: basta!

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Roberto Alvim
O ex-secretário Roberto Alvim Foto: Getty Images/AFP/N. Almeida

Caros brasileiros,

outra vez. Outra vez o governo brasileiro fez referências ao nazismo. Agora foi o ex-secretário da Cultura Roberto Alvim. Num vídeo sobre os novos rumos da cultura brasileira, ele citou trechos de um discurso de Joseph Goebbels, que foi ministro da Propaganda de Adolf Hitler.

A fala de Alvim veio no pior momento possível: justamente poucos dias antes da comemoração dos 75 anos da libertação de Auschwitz. Mais de um milhão de judeus morreram nesse campo de extermínio dos nazistas na Polônia.

Neste dia 23 de janeiro, mais de 40 chefes do Estado vão se reunir no Yad Vashem, memorial do Holocausto de Jerusalém, num encontro dedicado à luta contra o crescente antissemitismo no mundo.

Poucos dias depois, no dia 27 de janeiro, Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto, sobreviventes de Auschwitz vão alertar para o risco de que a história se repita quando suas vozes se calarem.

A história do Holocausto repetida, esquecida, negada ou deturpada? O que parecia há pouco tempo impensável, infelizmente, já está acontecendo. Até na Alemanha. Segundo uma pesquisa de opinião da Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia, 45% dos alemães concordam com a afirmação de que judeus usam o Holocausto em benefício próprio.

O presidente Jair Bolsonaro conhece a história do Holocausto. E conhece Yad Vashem. Na sua visita oficial ao Israel em abril 2019, visitou o memorial em Jerusalém e afirmou que "aquele que esquece o seu passado está condenado a não ter futuro". Mas, na mesma visita, ele deu uma prova de que não esquecer o passado não quer dizer não manipulá-lo.

Para o espanto da comunidade internacional e do próprio museu, Bolsonaro reacendeu uma polêmica lançada pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e afirmou "não ter dúvidas" de que o nazismo foi um movimento de esquerda. 

Em seu site, o próprio Yad Vashem, visitado por Bolsonaro, define o nazismo como um movimento que partiu da direita. Segundo a instituição, a ascensão do partido nazista na Alemanha só foi possível graças ao "crescimento de grupos radicais de direita" no país.

Bolsonaro e o nazismo: uma vez é a presença da palavra "socialista" no nome oficial da agremiação nazista, o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, ou NSDAP; outra vez é a arte brasileira que deve ser "heroica e nacional ou então não será nada", como discursou o ex-secretário Alvim, copiando Goebbels.

Uma vez é uma estratégia eleitoral para atrair a classe trabalhadora. Outra vez é a tentativa de ganhar ou manter o apoio do universo evangélico e conservador, enaltecendo a cultura enraizada "na nobreza de nosso mitos fundantes": "a pátria, a família, a coragem do povo e sua profunda ligação com Deus".

Mas, desta última vez, a sociedade brasileira deu um grito. Bolsonaro viu forças e instituições do país se voltando contra ele e exigindo a renúncia do secretário "heroico".

Essa reação de repúdio parece ter surpreendido o presidente. Ela é um sinal de esperança. Mas o perigo de que membros do governo Bolsonaro continuem simpáticos a ideologias totalitárias continua. A recente declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a possível edição de um novo AI-5 é mais uma prova disso.

Mas a verdadeira tragédia se encontra além dessas transgressões. Pois elas se sobrepõem aos problemas gritantes do Brasil que continuam sem solução. Milhares de jovens fazem as malas e deixam o país porque não veem perspectivas. Milhões de desempregados procuram trabalho, e o número de moradores de rua nas metrópoles continua aumentando.

Discursar sobre "a cultura brasileira heroica e nacional" em meio ao atual cenário político e econômico do Brasil é uma perda de tempo e revela falta de empatia e competência governamental. Que bom que o povo brasileiro deu um recado claro ao Palácio do Planalto: basta! Obrigado, caros brasileiros.

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Astrid Prange de Oliveira foi para o Rio de Janeiro solteira. De lá, escreveu por oito anos para o diário taz de Berlim e outros jornais e rádios. Voltou à Alemanha com uma família carioca e, por isso, considera o Rio sua segunda casa. Hoje ela escreve sobre o Brasil e a América Latina para a Deutsche Welle. Siga a jornalista no Twitter @aposylt e no astridprange.de.

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