Brasil tem ligeira melhora no ranking da corrupção, diz ONG
3 de dezembro de 2014O Brasil melhorou três posições no Índice de Percepção da Corrupção, divulgado nesta quarta-feira (03/12), em Berlim, pela ONG Transparência Internacional. Em 2014, entre os 175 países avaliados, o Brasil ficou com a 69ª colocação, com 43 pontos – um a mais que em 2013, quando, entre 177 nações, alcançou o 72ª lugar. Quanto mais próximo de 100, menos corrupção existe no país pesquisado.
A melhora por um ponto no índice de 2014 contrasta, porém, com parte do escândalo de corrupção na Petrobras, tornado público pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal. A explicação, segundo Alejandro Salas, diretor regional da ONG para as Américas, é que os questionários que alimentam o índice de corrupção foram enviados até julho deste ano e não captaram parte dos resultados das investigações.
"Não podemos nos esquecer, porém, que esse escândalo [da Petrobras] não é o único. Houve outros relacionados à construção de infraestrutura da Copa do Mundo, mesmo depois que o evento foi realizado", afirmou Salas em entrevista para a DW Brasil. "Para o índice a ser divulgado no próximo ano, é bem provável que, infelizmente, o país perca alguns pontos por conta desses casos."
Por outro lado, ele diz que o Brasil tem colocado em prática algumas ações positivas, como a Lei da Ficha Limpa, do Acesso à Informação e da Anticorrupção Empresarial. "Depende dos líderes do país se, mesmo com o escândalo, o Brasil vai mandar uma boa mensagem no sentido de combate à corrupção e à impunidade. Isso pode ser tornar um momento de mudança histórico", opina Salas.
Corrupção nos membros do BRIC
O primeiro lugar no ranking mundial ficou com a Dinamarca, que somou 92 pontos; a Alemanha tem 79 pontos e está na 12ª posição. Já as últimas colocações são divididas por Coreia do Norte e Somália (empatados com 8 pontos).
O Brasil, juntamente com mais de dois terços dos países pesquisados, obteve uma pontuação inferior a 50 pontos, numa escala de zero (percepção de altos níveis de corrupção) a 100 (percepção de baixos níveis de corrupção).
"O Brasil, com 43 pontos, deveria estar numa situação melhor no ranking. As instituições são fortes; há vários anos, o país é uma das maiores economias globais e participa de grupos como o G20 e o BRICS; e o país quer se tornar mais forte geopoliticamente", diz Salas. "Para mim, é negativo o fato de o Brasil não ter mudado de posição nos últimos três anos."
O relatório observou grandes problemas de corrupção e lavagem de dinheiro nos países que formam o BRIC – Rússia, Índia e China, além do Brasil. A pontuação da China caiu de 40 pontos, em 2013, para 36 pontos em 2014. Apesar de uma campanha para acabar com a corrupção entre os funcionários públicos, a ONG afirma que, em janeiro deste ano, diversos documentos confidenciais levados a público revelaram a existência de 22 mil contas de cidadãos chineses, incluindo diversos líderes de China e Hong Kong em paraísos fiscais.
A organização cita ainda o caso de cidadãos da Índia (38 pontos no ranking) que utilizam contas bancárias nas Ilhas Maurício (54 pontos); e cidadãos da Rússia (27 pontos) que fazem o mesmo no Chipre (63 pontos).
"A corrupção em grande escala em economias importantes não somente priva os setores mais pobres de direitos humanos fundamentais como reduz a governabilidade e gera instabilidade", afirmou José Ugaz, presidente da ONG.
Décimo lugar na América Latina
Nas Américas, o topo do ranking ficou com Canadá (81 pontos), Barbados (74 pontos) e EUA (74 pontos). Os últimos colocados foram Paraguai (24 pontos), Haiti e Venezuela (empatados com 19 pontos).
Chile e Uruguai (empatados com 73 pontos) foram os países sul-americanos mais bem avaliados. Considerando apenas os países da América Latina e Caribe, o Brasil ficou com a décima colocação, atrás ainda de Bahamas (71 pontos), São Vicente e Granada (67 pontos), Porto Rico (63 pontos), Dominica (58 pontos), Costa Rica (54 pontos) e Cuba (46 pontos).
O índice leva em conta a opinião de especialistas sobre a corrupção no setor público. As pontuações dos países podem ser positivas se existir um amplo acesso a sistemas de informação e normas que regulem o desempenho de quem ocupa cargos públicos, enquanto que a falta de prestação de contas do setor público, somada a instituições pouco eficazes, são fatores que deterioram essas percepções.
A média das Américas foi de 45 pontos. Sem Canadá e EUA, os latino-americanos têm média de 40 pontos. Já os países da União Europeia e Europa Ocidental tiveram 66 pontos; Ásia-Pacífico, 43 pontos; Oriente Médio e norte da África, 38 pontos; África Subsaariana, 33 pontos; Leste europeu e Ásia Central, 33 pontos.