Escândalo da Petrobras deve dificultar formação de novo governo
18 de novembro de 2014A sétima fase da Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal na última sexta-feira (14/11) e que averigua desvios de recursos em contratos da Petrobras, pode afetar a escolha dos novos ministros de Dilma Rousseff. Pressionada desde a reeleição para divulgar os nomes, a presidente deve aguardar os desdobramentos das investigações para evitar a indicação de políticos envolvidos no escândalo.
Para o cientista político Adriano Gianturco, do Ibmec/MG, a presidente deve tentar nomear o mais cedo possível indivíduos que não estejam ligados ao esquema. "Dilma não poderia se arriscar a nomear alguém que, depois, vai descobrir ser investigado e/ou preso por conta do escândalo", afirma o analista.
Até o momento, o Superior Tribunal Federal (STF) não divulgou os nomes dos políticos com foro privilegiado que são citados nos depoimentos, mantidos em sigilo, dos 23 executivos de grandes empreiteiras detidos na Lava Jato. Estima-se que ao menos 70 nomes – entre deputados federais, senadores, governadores e ex-detentores de cargos públicos – tenham sido mencionados pelo ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, pelo doleiro Alberto Yousseff e pelos executivos presos em Curitiba desde sábado.
"A montagem de um novo ministério não é fácil para nenhum presidente. Neste momento, para Dilma, é mais complicado", aponta o sociólogo Rodrigo Prando, do Mackenzie. "Até agora, são desconhecidos os desdobramentos da Operação Lava Jato e o impacto sobre o campo político. Ao que tudo indica, temos um esquema de corrupção que deixará o mensalão como ação de principiante."
Pelo fato de terem foro privilegiado, membros do Congresso Nacional e ministros de Estado, por exemplo, só podem ser julgados pelo STF. Para Prando, o juiz que trata do processo tem tomado as decisões certas do ponto de vista técnico e jurídico. Porém, ele diz que os políticos deverão ser responsabilizados.
"Nesse aspecto, o julgamento do mensalão foi paradigmático por mostrar que ninguém é inatingível, já que ministros de Estado e importantes líderes partidários foram presos", afirma o sociólogo. "Agora, na Operação Lava Jato, já foram presos importantes gestores de grandes empreiteiras brasileiras", destaca.
De acordo com uma fonte do Palácio do Planalto, ouvida pela DW Brasil em condição de anonimato, a presidência está em compasso de espera, e ainda não há previsão de quando Dilma anunciará os chefes das pastas. Até o fechamento da matéria, a Secretaria de Imprensa da Presidência da República (SIP) não se manifestou sobre as perguntas enviadas pela reportagem.
PT deve perder espaço
Por conta da crise econômica e política, Dilma deverá realizar uma grande reforma ministerial. Nela, é provável que a presidente diminua a relevância do PT no primeiro e segundo escalões dos ministérios para acomodar – e dar mais pastas – a partidos da base aliada. Entre os motivos está o fato de que o PT e o PMDB – as principais legendas da coligação – perdem cadeiras na Câmara a partir de janeiro.
Entre os novos critérios para a escolha dos ministros está a representatividade política – o poder do futuro ministro junto à bancada do seu partido – e a competência técnica do indicado na área da pasta em questão. Em jogo está o comando de todas as 39 pastas, que juntas devem efetuar investimentos de cerca de 60 bilhões de reais em 2015.
"O PT foi o partido que mais perdeu vagas [18 assentos na Câmara], e a base aliada terá 35 cadeiras a menos. Os partidos que apoiaram a reeleição de Dilma têm que receber cargos dentro do governo para apoiar o governo no Congresso", afirma Gianturco. "Os ministérios são distribuídos com base na importância dos partidos e nos interesses de cada legenda."
Até o momento, cerca de 15 ministros do total de 39 pastas já colocaram o cargo à disposição. Uma das mudanças certas é na Fazenda. A presidente, durante a campanha eleitoral, chegou a anunciar que o ministro atual, Guido Mantega, não faria parte de seu gabinete caso fosse reeleita. Entretanto, Dilma ainda não divulgou o novo nome para a pasta, deixando o mercado financeiro na expectativa.
"Ela poderia anunciar o nome para tranquilizar os mercados, já que não existe agora mais o risco de ela perder a eleição", diz o cientista político Pedro Fassoni Arruda, da PUC-SP. "De acordo com o possível perfil do próximo ministro da pasta, investidores e empresas especulam com títulos da dívida pública para ganhar dinheiro. Existem vários interesses econômicos por trás da ansiedade do mercado."