Resenha
4 de abril de 2007Um homem paga um resgate astronômico por sua esposa seqüestrada, mas a mulher trazida de volta para casa pelos policiais é uma ilustre desconhecida. Uma visita indesejada ajuda um casal a ganhar na loto através de uma coincidência numérica inexplicável; enquanto ela se suicida, um pombo-correio traz um bilhete assinado por ela, parabenizando-os pelo prêmio. Uma mulher resolve trair seu marido com o melhor amigo dele, para que ele jamais consiga olhá-lo de novo nos olhos.
Em 41 minicontos, reunidos no livro Mikado (Jogo de varetas), o romancista e dramaturgo Botho Strauss tece tramas absurdas, improváveis e sinistras, sem abdicar de personagens realistas e ambientes cotidianos. É justamente este contraste que confere suspense a essas miniaturas narrativas. Para 41 peças do jogo de varetas, respectivamente, uma história; em seu conjunto, um cosmos de atitudes tipicamente humanas diante do inexplicável.
Em Mikado, Strauss resgata o gênero das chamadas histórias de calendário, breves anedotas propagadas nas páginas diárias das "folhinhas" e resgatadas como gênero literário a partir do século 19, servindo posteriormente de campo de experimento para escritores como Franz Kafka, Bertolt Brecht e Walter Benjamin.
A crítica recebeu com entusiasmo o novo volume de contos de Botho Strauss, um dos dramaturgos contemporâneos mais encenados na Alemanha. Grande parte das resenhas elogiou a simplicidade e concentração da linguagem e os enredos inventivos, repletos de equívocos e imprevistos.
Botho Strauss – Mikado. Munique / Viena: Carl Hanser Verlag, 2006. 173pp.