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Bolsonaro repudia o nazismo e o equipara ao comunismo

10 de fevereiro de 2022

Presidente afirma que qualquer ideologia totalitária deve ser repudiada "de forma irrestrita e permanente", citando tanto a nazista quanto a comunista. E diz se orgulhar de ter aproximado o Brasil dos judeus.

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Jair Bolsonaro diante de bandeira do Brasil
"A ideologia nazista deve ser repudiada de forma irrestrita e permanente, sem ressalvas que permitam seu florescimento, assim como toda e qualquer ideologia totalitária", disse BolsonaroFoto: Mateus Bonomi/AA/picture alliance

Em meio a polêmica envolvendo o podcast Flow, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira (09/02) que a ideologia nazista deve ser repudiada "sem ressalvas", assim como qualquer ideologia totalitária, mencionando explicitamente o comunismo.

"A ideologia nazista deve ser repudiada de forma irrestrita e permanente, sem ressalvas que permitam seu florescimento, assim como toda e QUALQUER ideologia totalitária que coloque em risco os direitos fundamentais dos povos e dos indivíduos, como o direito à vida e à liberdade", escreveu nas redes sociais.

"É de nosso desejo, inclusive, que outras organizações que promovem ideologias que pregam o antissemitismo, a divisão de pessoas em raças ou classes, e que também dizimaram milhões de inocentes ao redor do mundo, como o comunismo, sejam alcançadas e combatidas por nossas leis”, prosseguiu.

O presidente também criticou a banalização de "uma ideologia repugnante como a nazista", pedindo "responsabilidade e seriedade" na abordagem do tema.

O presidente não citou o episódio do Flow, mas suas declarações foram postadas um dia depois de o procurador-geral da República, Augusto Aras, determinar a abertura de um inquérito para apurar se o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) e o ex-apresentador do podcast, Bruno Aiub, conhecido como Monark, cometeram crime de apologia do nazismo durante um episódio gravado nesta segunda.

Após entidades judaicas repudiarem as falas de Monark, Bolsonaro também manifestou apoio ao povo judeu. "Tenho muito orgulho de ser o presidente que mais aproximou o nosso país dos judeus, seja intensificando as relações bilaterais com Israel, seja apoiando iniciativas importantes, como a Aliança Internacional de Memória do Holocausto (IHRA), na qual ingressamos em meu governo", escreveu.

O caso Monark

Monark recebeu no podcast Kataguiri e a deputada Tabata Amaral (PSB-SP). Quando o debate girava em torno de regimes radicais de direita e de esquerda, Monark defendeu o direito de ser antissemita e disseminar essas ideias.

"Se o cara quiser ser antijudeu, eu acho que ele deveria ter o direito de ser", afirmou ele. "A esquerda radical tem muito mais espaço do que a direita radical, na minha opinião. […] Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista reconhecido pela lei."

Kataguiri, por sua vez, afirmou que a Alemanha teria errado ao criminalizar o nazismo em 1945, após o fim da Segunda Guerra Mundial, e que o melhor caminho seria deixar que a ideologia fosse "rechaçada pela sociedade".

Tabata se opôs a ambos durante o podcast. "Liberdade de expressão termina onde a sua expressão coloca a vida do outro em risco. O nazismo é contra a população judaica, isso coloca uma população inteira em risco", afirmou, lembrando do Holocausto, que resultou no assassinato de 6 milhões de judeus.



Na terça, Monark pediu desculpas, dizendo que estava "muito bêbado" durante a gravação do programa. ​Kataguiri, por sua vez, afirmou à Folha de S.Paulo que o podcaster "falou uma grandessíssima bobagem, mas não é nazista".

Os Estúdios Flow, que produzem o podcast, comunicaram que haviam retirado o último episódio do ar e rompido o vínculo com Monark. Coletivos também pressionaram empresas que patrocinam o podcast Flow a cancelarem o financiamento do programa. 

Na quarta, o PP, a bancada do PT e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, anunciaram representações no Conselho de Ética contra Kataguiri por apologia do nazismo.

Eduardo Bolsonaro também citou no Twitter um projeto de lei que apresentou em 2020 para criminalizar o nazismo e o comunismo, afirmando quem ambas as doutrinas "geram genocídios".

Também nesta quarta, o comentarista da rádio Jovem Pan Adrilles Jorge, apoiador do presidente Bolsonaro, foi demitido depois de levantar a mão direita, um gesto associado ao nazismo, ao fim do programa "Opinião" na véspera, quando o caso de Monark era discutido.

Governo Bolsonaro e o nazismo

O governo Jair Bolsonaro já se viu envolvido em episódios de reprodução de mensagens nazistas. Em janeiro de 2020, o então secretário da Cultura do governo, Roberto Alvim, divulgou uma fala em vídeo na qual copiava trecho de um discurso de Joseph Goebbels, que foi ministro da Propaganda de Adolf Hitler. Ele perdeu o cargo no dia seguinte.

Em maio de 2020, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) divulgou um vídeo sobre medidas adotadas pelo governo no combate à pandemia que utilizava a mensagem "O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil". O vídeo provocou repúdio de entidades judaicas dada a semelhança com a frase "O trabalho liberta" ("Arbeit macht frei", em alemão), inscrita na entrada do antigo campo de extermínio de Auschwitz, mantido pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Em julho do ano passado, o presidente causou polêmica e foi alvo de críticas de entidades judaicas por receber no Palácio do Planalto a deputada alemã de ultradireita Beatrix von Storch. Vice-líder do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), ela é neta de um ministro de Hitler e é conhecida por posições nacionalistas e declarações xenofóbicas. Sua legenda também é regularmente acusada de dar guarida para neonazistas.

lf (Efe, ots)