Bola da vez
20 de fevereiro de 2003Parecia que, após as concessões feitas no âmbito da Otan e da União Européia sobre a questão iraquiana, o chanceler federal Gerhard Schröder conseguira aliviar um pouco a fervura nas relações de Berlim com Washington. Mas eis que o social-democrata alemão já tem um novo incêndio para apagar. Em entrevista ao jornal Die Welt, o ministro do Meio Ambiente negligenciou a aconselhável cautela em assuntos diplomáticos.
Não que Jürgen Trittin tenha dito algo novo. Sua interpretação da crise é a mesma de cientistas políticos, intelectuais, religiosos, ONGs, militantes, reportagens e muitos cidadãos comuns. O ministro verde é, porém, o primeiro membro do governo a declarar publicamente que George W. Bush está de olho é no petróleo e na posição geoestratégica do Iraque e que a eliminação das armas de extermínio não passa de pretexto.
As palavras do líder verde imediatamente desenterraram da memória o episódio da ex-ministra da Justiça Herta Däubler-Gmelin, que em setembro comparou Bush a Adolf Hitler, ao dizer que o presidente americano estava explorando um conflito externo (Iraque) para desviar a atenção da população dos problemas internos (crise econômica) de seu país. A declaração e a falta de uma reação imediata do chanceler federal irritou tanto a Casa Branca que Bush nem sequer parabenizou Schröder por sua reeleição, poucos dias depois. Somente após o pleito, o social-democrata dispensou sua correligionária de partido durante a reforma ministerial.
CDU: Trittin interpreta às avessas
"Dizer que os EUA querem promover uma guerra devido ao petróleo é uma suposição tola e polêmica, que só pode ser explicada com reflexos antiamericanos da velha esquerda. (O fato de) o governo não ter tido força para se distanciar oficialmente da entrevista será registrado com atenção por Washington", criticou o jornal General-Anzeiger, de Bonn. Mais de 24 horas após a publicação das declarações, Gerhard Schröder não havia se pronunciado a respeito. Segundo o Die Welt, o ministro do Exterior, o também verde Joschka Fischer, teria se limitado a afirmar que "em primeira linha" a política americana para o Iraque não visa o petróleo.
Da oposição, veio a esperada condenação, acompanhada da reivindicação da cabeça do ministro. "Se o chanceler ainda tiver uma faísca de autoridade neste gabinete, ele a deve usar agora", cutucou o deputado democrata-cristão Peter Hintze.
Também da CDU, Friedbert Pflüger acusou Trittin de promover "a continuação das insinuações, acusações e do denuncismo, que visam passar a impressão de que não são o ditador Saddam Hussein e suas armas de extermínio um problema para uma ordem mundial pacífica, mas os EUA e o presidente Bush". O deputado acredita que, se o interesse dos americanos estivesse no petróleo, "eles não teriam saído do Iraque em 1991".