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Boa fase da economia melhora perspectivas dos jovens brasileiros

21 de outubro de 2012

Quantidade de jovens empregados cresceu no Brasil nos últimos anos, ao contrário do que ocorreu em boa parte do mundo. Mercado de trabalho aquecido atrai também pessoas de países abalados pela crise.

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Foto: picture-alliance/dpa

Enquanto muitos jovens nos países desenvolvidos abalados pela crise econômica mundial enfrentam dificuldades no mercado de trabalho, as perspectivas dos jovens brasileiros melhoraram nos últimos anos. Especialistas apontam as boas condições econômicas do país como um dos motivos.

De acordo com os últimos dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgados em maio do ano passado, a quantidade de jovens empregados cresceu no Brasil nos últimos cinco anos, ao contrário do que ocorreu em boa parte do mundo. A taxa brasileira de desemprego juvenil caiu de 21,8% para 15,2% entre 2007 e 2011. Na América Latina e no Caribe, o índice está em torno de 14,3% e, na União Europeia (UE), deve chegar a 18% neste ano, estima a OIT.

Para a economista Priscilla Flori, da Universidade de São Paulo (USP), o fenômeno pode ser explicado pelo aquecimento da economia, que, por sua vez, determinou um aquecimento do mercado de trabalho brasileiro.

"A renda do trabalhador aumentou, o que permitiu que a família brasileira passasse a consumir mais. Isso influenciou sobretudo o comércio, que depende de mão de obra abundante. E esse setor é muito favorável aos jovens, uma vez que não demanda tanta experiência", considera.

Quando Flori defendeu a tese Desemprego entre jovens: um estudo sobre a dinâmica do mercado de trabalho juvenil brasileiro, em 2003, aproximadamente 24% dos jovens brasileiros estavam desempregados, ou seja, cerca de 10% a mais do que quase uma década mais tarde.

Alguns especialistas apontam a queda do desemprego juvenil como um fenômeno essencialmente demográfico, pois a população de 18 a 24 anos está encolhendo no Brasil, passando de 23,9 milhões em 2005 para 22,7 milhões em 2009. Flori, porém, aponta tal fenômeno como apenas um dos fatores que explicam a diminuição do índice. O crescimento econômico seria a principal causa.

"O Brasil é um dos únicos países que ainda impulsiona o crescimento global e, por isso, a situação do mercado de trabalho é melhor", concorda o economista Dennis Görlich, do Instituto de Economia Mundial de Kiel, na Alemanha.

Brasilien Geschäft Preisschild
Com expansão econômica, setor do comércio cresceu, oferecendo oportunidade para jovensFoto: picture alliance/dpa Fotografia

Maior índice

Em setembro, o IBGE divulgou dados sobre o desemprego entre os jovens. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011, o número de jovens de 18 a 24 anos desempregados no Brasil é de 13,8% – o dobro da taxa de desemprego geral no país, de 6,7%.

Um dos fatores que explicam o índice mais elevado entre os jovens é alta rotatividade no mercado de trabalho, ou seja, a troca de empregos com frequência. Quando sai do emprego, o jovem é contabilizado nas estatísticas como desempregado.

"É muito difícil que alguém encontre o emprego 'perfeito' logo na primeira tentativa", considera Flori. "Os custos de oportunidade para trabalhadores jovens são menores. Quando percebem que não gostam do trabalho, trocam de emprego, numa espécie de mecanismo de busca", completa Görlich.

Outro ponto citado por ambos os especialistas é o custo de demissão. O empregador geralmente prefere demitir um jovem, já que sai mais barato devido ao salário, ao tempo de serviço e à experiência específica para a empresa inferiores. Além disso, os jovens frequentemente trabalham sob contratos temporários – "geralmente os que são cortados em primeiro lugar", acrescenta Görlich.

Falta de qualificação

Segundo o Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, publicado pela Unesco na última terça-feira (16/10), "a profunda falta de qualificação da juventude é mais nociva do que nunca", sendo uma das causas do desemprego dessa faixa etária em nível mundial.

Flori concorda. Para a pesquisadora, faltam profissionais qualificados, não somente com nível superior, mas também com nível técnico. "Não basta ter um engenheiro para projetar um edifício, se não há mão de obra especializada para tirar o projeto do papel (profissionais da construção civil)", exemplifica. A economista considera que faculdades e cursos técnicos deveriam ter o mesmo peso na sociedade.

E talvez seja essa uma das chaves para explicar a baixa taxa de desemprego juvenil na Alemanha, em torno de 8%, segundo o Departamento de Estatísticas da União Europeia (Eurostat). Para Görlich, a Alemanha praticamente não tem problema com o desemprego juvenil, quando comparada a países europeus em crise, como Espanha e Grécia – onde os índices chegaram a 52,7% e 55,4% em agosto passado, respectivamente.

"Isso tem a ver principalmente com o sistema de educação dual alemão, extremamente efetivo na diminuição do desemprego juvenil e considerado modelo", afirma o economista. O sistema combina a formação prática, em uma empresa, à teórica em um instituição de ensino.

No Brasil, a Unesco aponta que a situação é particularmente na zona rural, onde 45% dos jovens não completam o ensino fundamental. "Na zona urbana, o jovem é mais qualificado, mas também é mais demandado, há mais concorrência", pondera Flori. Na percepção da economista, a maior parte do emprego na zona rural não demanda tanta qualificação, uma vez que é frequente o trabalho na propriedade da própria família.

Brasilien Stadion Maracana
Eventos esportivos dos próximos anos gerarão empregos em diversos setoresFoto: AP

Movimentos migratórios

Na Europa, jovens de países fortemente abalados pela crise – como Espanha, Grécia e Portugal – têm migrado para a Alemanha em busca de melhores oportunidades. Um movimento semelhante ocorre em direção ao Brasil. Se por um lado, as instituições de ensino brasileiras não preparam adequadamente o jovem para o mercado, criando a necessidade de importar mão de obra estrangeira, por outro, os estrangeiros deixam seus países para escapar da crise financeira.

"A crise não chegou aqui com tanta intensidade", ressalta Flori. A economista destaca que o Brasil se desenvolverá ainda mais nos próximos anos, com a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 contribuindo fortemente para a geração de empregos na construção civil, turismo, serviços, transportes, e outros setores.

Paralelamente ao desenvolvimento econômico, as perspectivas do jovem brasileiro mudaram muito nas últimas décadas. "Antes o país focava-se em poucos setores de atividade, sendo necessários apenas alguns profissionais especializados e muita mão de obra não qualificada. Não havia perspectiva para a maior parte da população jovem", diz. Hoje, com a diminuição da pobreza e o crescimento da classe média, a tendência é o aumento do acesso à qualificação e ao emprego.

Autor: Luisa Frey
Revisão: Mariana Santos