Berlim à procura de um conceito energético
6 de janeiro de 2006Na edição desta sexta-feira (06/01) do jornal Die Welt, o secretário-geral do partido cristão-democrata, Ronald Pofalla, anunciou o desejo da chanceler federal, Angela Merkel, de discutir nas próximas semanas a política nacional de energia, juntamente com ministros e empresas fornecedoras de energia.
O anúncio é conseqüência das recentes querelas quanto ao futuro da energia atômica entre o ministro alemão do Meio Ambiente, o social-democrata Sigmar Gabriel, e o ministro da Economia, Michael Glos, da conservadora União Social Cristã (CSU).
O cerne da questão é o acordo entre os partidos de coalizão, SPD e CDU/CSU, que promete não mexer na decisão do governo anterior, de desligamento paulatino das usinas atômicas em funcionamento na Alemanha.
As quatro primeiras usinas deverão ser desligadas, segundo o acordo, até 2009.
Acordo não é Bíblia
Segundo o Spiegel Online, o atual ministro da Economia, Michael Glos, já vem, desde o Natal, questionando o acordo sobre o futuro da energia atômica, sendo apoiado agora por outros políticos dos partidos conservadores.
Esta semana, na reunião da União Social Cristã (CSU), o governador da Baviera e presidente do partido, Edmund Stoiber, afirmou que "o acordo da coalizão não deve ser encarado como Bíblia. Quando ele foi assinado, não estava claro que o fornecimento energético deveria tornar-se mais independente de importações".
Já o governador do Estado de Baden-Württemberg, Guenther Oettinger (União Democrata Cristã-CDU), manifestou que batalhará para que as usinas atômicas continuem funcionando por mais tempo.
Angela Merkel anunciou, porém, através de seu porta-voz na quarta-feira (04/01), que o acordo entre os partidos de coalizão quanto ao futuro da energia nuclear deverá ser cumprido.
Discussão abstrata
Para o ministro do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, a discussão em torno da energia atômica é abstrata, motivada por interesses econômicos de empresas interessadas em um período mais longo de funcionamento para suas usinas atômicas e, desta forma, em um maior lucro.
Em entrevista à Deutsche Welle, Sigmar Gabriel afirmou que a energia nuclear também não tornaria a Alemanha auto-suficiente quanto à questão da calefação: "Usinas atômicas fornecem energia, mas não calor, como o faz o gás, o petróleo, o carvão e as energias renováveis". Além disso, o urânio necessário para a produção da energia atômica é 100% importado, afirmou Gabriel.
Além de investimentos em tecnologia de energias renováveis (solar, eólica, biomassa), o ministro propõe sobretudo uma maior economia energética: "Se equipamentos como televisores e computadores fossem desligados quando não estão sendo usados, já pouparíamos uma a duas usinas atômicas".
Europeus preocupados com crise energética
A Agência Internacional de Energia compartilha, entretanto, somente em parte a opinião do ministro Sigmar Gabriel.
O economista-chefe da agência, Fatih Birol, afirmou em Paris que a Europa está por demais dependente, em matéria de energia, do fornecimento de alguns poucos países: "Hoje em dia, 40% do fornecimento energético europeu provém da Rússia e dos países do Oriente Médio, o que duplicará nas próximas duas décadas. Pelos nossos cálculos, em 20, 30 anos, esta dependência poderá chegar a 80%, o que é muito perigoso".
Além da economia energética e das energias renováveis, um conceito energético misto, que seja eficiente para a Alemanha, deverá considerar também, se necessário, a energia nuclear e dela tirar o máximo possível, afirmou Birol em entrevista concedida à emissora alemã SWR.
Não há tempo para ideologias
O governo alemão planeja para março um encontro de cúpula para discutir a questão energética. Para a vice-líder da bancada da CDU/CSU, Katherina Reiche, os políticos têm o dever de discutir o fornecimento energético não somente para os próximos quatro anos, mas para as próximas décadas.
"Se a Alemanha quiser garantir suas chances futuras, além da exploração de carvão vegetal e mineral e das energias renováveis, é necessário também que a discussão em torno do restante de tempo de funcionamento das usinas nucleares se torne uma questão de razão prática e não de ideologia".