Berlim volta a cobrar explicação por espionagem da NSA
2 de julho de 2015O embaixador dos Estados Unidos na Alemanha, John B. Emerson, foi chamado para uma reunião na sede do governo alemão para explicar recentes revelações do Wikileaks, que afirmam que a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) espionou ministérios e membros do gabinete em Berlim.
O chefe de gabinete da chancelaria federal, Peter Altmaier, convidou o embaixador Emerson para "conversações imediatas" e para "deixar claro que o respeito pelo Direito alemão não é negociável e que violações comprovadas serão processadas".
Na linguagem diplomática, o pedido a Emerson para que compareça à chancelaria é um "convite" e tem menor peso que a "convocação", que também pode ser emitida por um governo a embaixadores.
A imprensa alemã informou na quarta-feira que os novos documentos vazados pelo Wikileaks mostram que os Estados Unidos não só grampearam o celular de Merkel, mas também mantiveram escutas em vários ministros. A lista inclui o agora vice-chanceler federal Sigmar Gabriel, além de altas autoridades dos Ministérios de Finanças, Economia e Agricultura.
Os documentos destacam 69 números telefônicos que ainda estão em uso, indicando que a espionagem pode estar em andamento. No entanto, os dados mais recentes do Wikileaks são de 2011.
Serviços de inteligência britânicos também foram implicados nas revelações de espionagem. Os documentos mostram que a espionagem remonta à década de 1990 e que a NSA estava especialmente interessada nas políticas monetária e comercial da Alemanha. Os grampos incluiriam uma conversação telefônica de Merkel, de outubro de 2011, em relação às dívidas da Grécia.
Os membros da comissão de inquérito do Parlamento alemão sobre o escândalo da NSA exigem respostas ao mais recente conjunto de revelações. Martina Renner, do partido A Esquerda, pediu que o governo alemão divulgue documentos importantes envolvendo a NSA imediatamente. O deputado Konstantin von Notz, do Partido Verde, apelou à Procuradoria-Geral para que inicie uma investigação.
O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, também criticou as campanhas de espionagem da NSA. "É cada vez mais evidente que algumas pessoas que trabalham nos serviços de inteligência americanos podem estar perdendo de vista o debate de fins versus meios", disse o ministro ao tabloide alemão Bild.
A relação entre os dois países ficou abalada depois de o ex-colaborador da inteligência americana Edward Snowden ter divulgado em 2013 um esquema de espionagem em larga escala por parte dos EUA. As investigações sobre a alegada interceptação de conversas no telefone celular de Merkel foram encerradas no mês passado por falta de provas.
Recentemente, a França também foi afetada por revelações de espionagem da NSA, datadas de entre 2006 e 2012. Entre os principais alvos estavam os ex-presidentes Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy, assim como o atual chefe de Estado, François Hollande.
PV/afp/dpa