Crise católica
28 de março de 2010O papa Bento 16 iniciou as celebrações da Semana Santa neste domingo (28/03) no Vaticano, diante de uma das mais graves crises da história recente da Igreja Católica, causada pelos escândalos de pedofilia espalhados pela Europa e pelos Estados Unidos.
Durante o sermão em celebração ao Domingo de Ramos, dirigido a milhares de fiéis na Praça de São Pedro, Bento 16 não chegou a mencionar diretamente os casos de abuso, mas disse que a fé em Deus leva o ser humano "em direção à coragem de não se permitir ser intimidado pela fofoca desimportante da opinião dominante."
Bento 16 desfilou por entre os fiéis no veículo especial conhecido como papa-móvel – segundo o porta-voz do Vaticano, Frederico Lombardi, a mudança no protocolo foi feita para que o líder da Igreja Católica ficasse mais próximo dos fiéis.
Crise se agrava
A pressão sobre o Papa aumentou depois que o jornal americano The New York Times publicou, na semana passada, uma reportagem sobre mais de 200 crianças surdas que foram vítimas de abusos por um padre norte-americano.
Segundo o jornal, cartas sobre o caso foram encaminhadas diretamente para o então cardeal Joseph Ratzinger – na época prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, hoje o papa Bento 16 –, mas elas nunca foram respondidas.
O Vaticano assegurou que Ratzinger só foi informado sobre esses abusos 20 anos depois, quando o padre norte-americano já estava velho e doente.
"Ataques causaram danos"
O Vaticano tem adotado uma postura defensiva, atacando a imprensa pelo que classificou de "intenção pouco nobre" de difamar o papa Bento 16 e seus principais assessores "a qualquer custo".
Mas, no sábado, o porta-voz Federico Lombardi reconheceu que a resposta da Igreja Católica aos casos de abuso sexual é crucial para a sua "credibilidade moral" e que esses devem ser "reconhecidos e reparados", mesmo nos casos ocorridos há décadas.
"Os recentes ataques da mídia causaram danos, sem dúvida", declarou Lombardi à agência italiana Ansa.
Ele disse ainda que Bento 16 não está enfraquecido pelas denúncias, que levaram alguns analistas a sugerir que o Papa pudesse renunciar.
Segundo ele, "a autoridade do Papa e o compromisso da Congregação para a Doutrina da Fé contra abusos sexuais de menores sairão disso não enfraquecidos, mas fortalecidos."
Inglaterra
O primado da Inglaterra e do País de Gales, monselhor Vicent Nichols, defendeu que "não existem razões convincentes" para uma renúncia do papa Bento 16.
Em entrevista à emissora de televisão BBC One, Nichols disse que o Papa "não foi envolvido em qualquer tentativa de abafar os assuntos." Ao contrário, o então cardeal Ratzinger fez pressão a favor de um processo rápido para afastar padres que cometeram abusos.
NP/lusa/kna/afp/rts/dpa
Revisão: Alexandre Schossler