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Escândalo na Igreja alemã

19 de fevereiro de 2010

Escândalo assume proporções ainda maiores: ao menos 115 ex-alunos dizem ter sofrido abuso em escolas religiosas alemãs, segundo relatório. Duas mulheres estão entre os acusados. Arcebispo Zollitsch mantém o silêncio.

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Vítimas decidem falar, e 115 denúncias foram registradasFoto: AP

O escândalo de abuso sexual em colégios jesuítas alemães assume proporções cada vez maiores. O número de alunos supostamente afetados aumentou para 115, podendo chegar a 120, conforme relatou nesta quinta-feira (19/02) a advogada Ursula Raue, encarregada pela ordem católica de investigar o caso.

Doze supostos infratores foram citados nominalmente pelas vítimas. Entre eles estão duas mulheres. O prior provincial dos jesuítas, padre Stefan Dartmann, anunciou na quinta-feira em Munique a criação de quatro grupos de trabalho para possibilitar uma aceleração no esclarecimento dos casos.

"A dimensão desses abusos, nos quais se misturam motivos sexuais e sádicos, é assustador e vergonhoso para a ordem", afirmou Dartmann.

Beauftragte des Jesuitenordens Ursula Raue
A advogada Ursula Raue, na divulgação do relatórioFoto: picture-alliance/ dpa

Abusos em quatro escolas

Raue apresentou um relatório preliminar sobre casos de abuso em instituições da ordem jesuíta. De acordo com suas informações, foram registrados abusos em quatro escolas, localizadas em Berlim, Bonn, Hamburgo e em Sankt Blasien, na Floresta Negra, sul da Alemanha. Há também ex-alunas entre as vítimas.

Quase metade dos casos ocorreu em Berlim, na escola de elite Canisius Kolleg. Raue informou que cada vez mais ex-estudantes decidem falar. "O que se abateu sobre nós tem uma dimensão que não podíamos imaginar", disse ela.

"Toques, masturbação e manipulações"

As acusações contra os padres, de acordo com Raue, dizem respeito a atos incluindo "toques", "masturbação", ou "manipulações corporais". Até agora, não foram relatados casos de estupro. Raue também recebeu informações sobre nove casos de abusos graves em estabelecimentos religiosos que não são administrados pela ordem jesuíta, um deles da igreja protestante.

O escândalo foi revelado no início de fevereiro, depois que o diretor do colégio de elite berlinense Canisius Kolleg, padre Klaus Mertes, tornou públicos em janeiro relatos de abuso sexual cometidos por dois padres naquela escola durante as décadas de 70 e 80. Ele enviou uma carta a cerca de 500 ex-alunos, pedindo desculpas e apelando para que eles "quebrassem o silêncio".

Arcebispo não comenta o assunto

Erzbischof Robert Zollitsch
Arcebispo Robert Zollitsch prefere o silêncioFoto: picture-alliance/ dpa

Os relatos de abusos sexuais e pedofilia dentro de estabelecimentos católicos deve ofuscar o encontro da Conferência dos Bispos da Alemanha, agendado para a próxima segunda-feira, em Freiburg, sul do país. O presidente da Conferência, arcebispo Robert Zollitsch, entretanto, tem optado até agora por não se manifestar sobre o problema.

Críticos pedem um "debate profundo" sobre a questão da sexualidade na Igreja Católica. "O círculo vicioso de abusos de poder e violência sexual na Igreja Católica não terá fim sem que haja uma quebra de tabus na educação sexual e uma mudança fundamental na posição sobre a sexualidade humana", avalia Christian Weisner, porta-voz do movimento reformista dos fiéis católicos alemães Wir sind Kirche ("Nós somos Igreja").

MD/afp/kna/dpa
Revisão: Alexandre Schossler