Liberdade de imprensa
8 de setembro de 2010O caricaturista dinamarquês Kurt Westergaard, de 75 anos, recebeu nesta quarta-feira (08/09) o prêmio de mídia do fórum de jornalistas M100, realizado na cidade alemã de Potsdam. Ele recebeu a distinção na presença da chanceler federal alemã, Angela Merkel.
Como palestrante principal, a chefe de governo elogiou a coragem de Westergaard. "As consequências sofridas por ele devem nos servir de advertência", disse Merkel, que falou claramente a favor da tolerância. Como caricaturista, ele tem o direito de fazer tais charges, assinalou. "Nos Estados europeus isso é possível", completou. "O segredo da liberdade é a coragem", completou a chanceler federal.
Já Joachim Gauck agradeceu a Westergaard por sua coragem, ao não ter se deixado intimidar pelas ameaças de morte. "Cada um deveria se perguntar se sua coragem sempre está orientada em favor da liberdade", disse o candidato derrotado na eleição presidencial alemã e antigo encarregado dos arquivos da polícia secreta Stasi.
Em seu agradecimento, Westergaard disse que o prêmio representa muito. "Este é o maior reconhecimento que já recebi e acredito que seja bom para a liberdade de opinião", disse o caricaturista. "Não tenho problemas com outras religiões", salientou, dizendo ter apenas um problema com islâmicos e que sempre lutará para que as pessoas possam viver sua religião em paz.
O Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha criticou a presença de Merkel na premiação. Com a sua charge, Westergaard pisou sobre todos os muçulmanos, afirmou o secretário-geral Aiman Mazyek à emissora Deutschlandradio. Para ele, o prêmio é altamente problemático em tempos tensos como os atuais.
Defesa da liberdade de imprensa
Westergaard ficou famoso no mundo inteiro após ter despertado a ira de fundamentalistas islâmicos, que ficaram furiosos com uma charge em que o profeta Maomé aparece com uma bomba no turbante.
A charge foi originalmente publicada em setembro de 2005 no jornal dinamarquês Jyllands-Posten, gerando protestos – em parte violentos – no mundo islâmico. Com a repercussão, a charge foi impressa por periódicos do mundo todo.
Segundo a decisão de um conselho de jornalistas, Westergaard foi premiado devido à sua inflexível defesa da liberdade de imprensa e de opinião e pela sua coragem de se posicionar a favor desses valores democráticos e de defendê-los, apesar das ameaças de violência e morte.
Já foram agraciados com a distinção o ex-ministro alemão de Relações Exteriores Hans-Dietrich Genscher, a política colombiana Ingrid Betancourt e o músico irlandês Bob Geldof.
Críticas ao Islã
Westergaard, que há cinco anos vive sob proteção policial, compareceu à cerimônia apesar do risco à sua segurança pessoal. Anteriormente, em entrevista à imprensa alemã, dissera que não se arrepende da caricatura.
"A sátira dinamarquesa não poupa ninguém. Nem a rainha, nem o premiê, nem o bispo, nem Jesus. E também não Maomé", afirmou o caricaturista ao jornal Die Welt. Ele também criticou o Islã, qualificado por ele como religião reacionária.
"Na minha percepção, não é possível comparar o Islã com o Cristianismo. Não é uma religião simpática, mas em muitos aspectos reacionária. Há penas barbaramente duras para homossexuais, por exemplo. Mesmo assim sempre vou defender que pessoas tenham o direito de professar essa religião", declarou ao Kölner Stadt-Anzeiger.
Ameaças de morte
A caricatura que despertou a ira dos fundamentalistas islâmicos foi publicada pela primeira vez em 30 de setembro de 2005 no Jyllands-Posten. Ela fazia parte de uma série de 11 desenhos de diversos chargistas e mostrava o profeta Maomé com uma bomba com o pavio aceso no turbante.
Desde então, Westergaard já escapou de vários atentados. Extremistas islâmicos já ofereceram milhões de dólares pela cabeça do jornalista dinamarquês. Em janeiro, um homem – supostamente ligado à rede terrorista Al Qaeda – invadiu a casa do caricaturista e o ameaçou com um machado.
Westergaard se aposentou em junho passado, após 27 anos de colaboração com o Jyllands-Posten. Em novembro, deverá ser publicado o livro de memórias do caricaturista. Na capa estará a polêmica caricatura de Maomé.
O M100 Sanssouci Media Award – nome oficial do prêmio – é concedido durante o M100 Sanssouci Colloquium, um fórum para debater o papel da imprensa na Europa e nas relações internacionais. O evento reúne, na cidade alemã de Potsdam, alguns dos principais editores, comentaristas e empresários do setor europeu de comunicação.
AS/dpa/dapd/ots
Revisão: Roselaine Wandscheer