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EducaçãoAlemanha

Alemanha tem mais casos de radicalismo islâmico nas escolas

25 de junho de 2024

Fenômeno surge na esteira da guerra no Oriente Médio e em meio a aumento no país de mais de 7.000% no número de crimes antissemitas associados ao conflito israelo-palestino, aponta emissora alemã

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Várias pessoas e uma placa onde se lê "califado é a solução"
"Califado é a solução", lê-se em placa erguida por manifestante em Hamburgo: Influencers e líderes religiosos também têm se aproveitado do conflito no Oriente Médio para disseminar ideologias radicais entre jovens na AlemanhaFoto: Axel Heimken/dpa/picture alliance

A guerra na Faixa de Gaza tem provocado o aumento dos casos de extremismo também nas escolas de Alemanha, com ameaças de bomba e de ataques armados, bem como episódios de antissemitismo, aponta um levantamento da emissora pública alemã SWR junto aos ministérios estaduais de educação do país.

No estado de Hessen, houve 15 registros do tipo desde 2018, sendo que 14 ocorreram em 2023 e 11 foram relacionados ao ataque terrorista cometido pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro daquele ano. Do total de casos, seis eram ameaças anônimas de bombas em escolas.

No estado da Renânia-Palatinado, o Ministério da Educação afirma que não houve aumento dos casos de radicalismo islâmico, mas cita ameaças de ataques armados relacionados ao conflito no Oriente Médio.

Autoridades do estado de Schleswig-Holstein mencionam uma "leve tendência maior a atividades islamistas no contexto escolar". Já Berlim confirma que houve um aumento da tensão nas escolas logo após o início da guerra Israel-Hamas, mas que a situação teria "se tranquilizado".

Nem todos estados forneceram informações. Alguns disseram não contabilizar casos de radicalismo islâmico, enquanto outros afirmaram ter observado alguns episódios de radicalização de estudantes.

Aumento no número de crimes de motivação antissemita

A violência nas escolas espelha as estatísticas nacionais, que apontaram aumento no número de crimes de motivação antissemita associados ao conflito israelo-palestino desde a guerra Israel-Hamas. Enquanto em 2022 eram 61 casos, em 2023 esse número passou a 4.368, sendo que mais da metade foram registrados após o 7 de outubro.

Professores e assistentes sociais alertam que os jovens são vulneráveis ao islamismo e relatam casos de estudantes que se referem ao Hamas como um "movimento emancipatório" e defendem salas de aulas separadas para meninos e meninas.

Uma ex-professora da Renânia do Norte-Vestfália disse ter ouvido de estudantes que meninas não deveriam ter aulas de natação, e que a partir de uma determinada idade elas deveriam ficar em casa e se preparar para a vida de mulher casada. Outro teria se negado a falar com um colega por ele ser "cristão".

Influencers surfam no conflito

Influencers e líderes religiosos também têm se aproveitado do conflito para disseminar ideologias radicais entre os jovens – um perigo que foi confirmado à SWR por um representante do Departamento de Proteção da Constituição em Baden-Württemberg, o serviço de inteligência doméstico: "O potencial perigo que influencers islamistas representam para jovens que estão nas redes sociais é alto", afirma Martin Horbach.

Um experimento realizado pela emissora junto com o especialista em prevenção da violência Navid Wali mostrou que jovens que consomem conteúdo religioso islâmico acabam sendo expostos muito rapidamente a atores e ideologias radicais. 

Um deles é o Muslim Interkativ, grupo que organizou protestos na primavera deste ano pedindo abertamente a criação de um califado na Alemanha – forma monárquica de governo baseada em preceitos do islã e na aplicação da sharia, a lei islâmica. Esse mesmo grupo está presente nas redes sociais com conteúdos de linguagem pop e jovem.

Wali atribui o problema da vulnerabilidade da juventude a esse tipo de conteúdo à falta de educação nas escolas para o consumo e uso responsável de informações e dos meios de comunicação.

Alta funcionária do Ministério da Educação, Cultura e Esporte em Baden-Württemberg, Sandra Boser rebate que a escola é importante, mas não dá conta de resolver o problema sozinha. "A escola com certeza não tem como assumir tudo. As associações [da sociedade civil] são tão importantes quantos as escolas e a própria casa."

ra (ots)