Atleta alemã autorizada a usar faixa nas cores do arco-íris
23 de julho de 2021Nike Lorenz é, em muitos aspectos, um exemplo do atleta moderno. Bem-sucedida em seu esporte, a jogadora de hóquei alemã também busca usar sua imagem em nome de boas causas.
"Nós, atletas, somos seres humanos reais com suas próprias opiniões políticas", disse ela à DW, a partir da Vila Olímpica de Tóquio. "Enquanto fazemos esporte, merecemos ser os humanos que somos."
Quando a capitã do time alemão enfrentar o Reino Unido na partida de abertura de seu país nos Jogos Olímpicos de 2020, no domingo (25/07), ela estampará em seu tornozelo esquerdo a mesma faixa nas cores do arco-íris que usou durante outras partidas em boa parte do ano passado.
A diferença, desta vez, é que Lorenz teve que passar por uma série de obstáculos para obter permissão para expor o símbolo LGBTQ, a fim de garantir que não infringiria as regras do Comitê Olímpico Internacional (COI) sobre manifestação de atletas. Uma posição na qual ela não gostaria de ter sido colocada.
"Estou emocionada e empolgada", disse Lorenz. "É difícil descrever. Por um lado, sinto que essa é a única coisa certa que poderia ter acontecido. Mesmo assim, não acreditava realmente que o COI daria um passo no sentido de seus atletas e faria mudanças nas regras. Nunca esperei que eles respondessem dessa forma."
Para a alemã, o arco-íris simboliza a diversidade de sua equipe e os valores que ela e suas companheiras compartilham.
"Tenho tantos amigos homossexuais no hóquei", disse ela. "Para eles, é muito bom ter alcançado isso e mostrar a eles que eles pertencem integralmente ao campo."
Aprovação do COI
Lorenz recebeu permissão para usar sua faixa colorida nesta quinta-feira (22/07), depois que o Comitê Olímpico Alemão, o DOSB, pediu dispensa especial ao COI. Mas seu caso destacou ambiguidades nas regras e como elas são implementadas, e mostrou o dilema que muitos atletas enfrentam quando pensam em desafiá-las.
Em julho, o COI alterou a chamada Regra 50, que abrange protestos de atletas nos Jogos, para permitir que eles se expressem em determinados momentos, desde que suas ações não perturbem competidores ou indivíduos em particular. Protestos no pódio ainda não são permitidos.
No entanto, ainda não há clareza sobre as possíveis sanções por uma eventual quebra de regras, e cabe ao órgão regulador de cada esporte decidir até onde eles estão dispostos a ir para aplicá-las. Um exemplo: em gesto simbólico contra o racismo, jogadores de futebol competindo em Tóquio podem se ajoelhar antes de uma partida. Já nadadores estão proibidos de qualquer forma de protesto na área da piscina.
A Federação Internacional de Hóquei aplaudiu a decisão do COI de aprovar o pedido da seleção alemã, afirmando à DW que "não considera o uso de uma braçadeira nas cores do arco-íris como um gesto político".
Falta de clareza
O DOSB foi alvo de críticas por não ter esclarecido antes sua posição sobre a Regra 50. Em abril, o grupo Athleten Deutschland, que representa os esportistas do país e apoiou Lorenz em seu caso, pediu pela primeira vez ao comitê alemão que "examinasse seu papel e possíveis responsabilidades na prática de sanções por violações de regras" – uma análise que aparentemente não aconteceu.
"Os problemas e questões descritos acima não são novos e os tomadores de decisão em federações nacionais e internacionais deveriam estar cientes deles há meses", disse o grupo na quinta-feira. "Portanto, é lamentável que, também na Alemanha, tenha havido negligência em lidar com essas questões de forma pró-ativa e a tempo."
Em resposta às críticas, o DOSB disse à DW que tomaria decisões com base em casos individuais e teria "tanto as regras quanto os interesses dos atletas em mente". "Como a Regra 50 é um processo em constante evolução, faz sentido lidar com cada caso individualmente", acrescentou.
Lorenz, que recentemente havia admitido ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung se sentir "abandonada", referiu-se à própria entrevista como um "último recurso".
"Sentia que uma única pessoa não poderia mudar as regras do COI", disse ela à DW. "É uma instituição muito grande e que controla muitos atletas. Sentia que precisava de um pouco mais de apoio. Mas o mínimo que podia fazer era falar sobre isso e mostrar minha discordância."
Apelos por mais mudança
Enquanto o Athleten Deutschland descreveu o caso de Lorenz como um "sinal de esperança e uma oportunidade para o esporte", o grupo também levantou preocupações sobre a natureza reacionária da decisão.
"Esse caos funciona como um impedimento para os atletas que chegam a evitar certas declarações para protegerem a si ou as suas equipes", disse o grupo.
Questionado pela DW se os atletas em todos os esportes poderão agora exibir as cores do arco-íris durante os eventos esportivos, o COI respondeu: "Quando propostas para formas específicas de expressão são feitas pelas equipes antes dos eventos, o COI as considera caso a caso."
Na quinta-feira, um grupo de 150 acadêmicos, ativistas e atletas – incluindo Tommy Smith e John Carlos, cujos punhos erguidos no pódio dos Jogos Olímpicos de 1968 no México se tornaram um símbolo de protesto esportivo – assinaram uma carta pedindo ao COI que revise mais profundamente a Regra 50, argumentando que "permanecer neutro significa permanecer em silêncio, e permanecer em silêncio significa apoiar a injustiça contínua".
Lorenz reconhece a necessidade de algumas regras, mas acredita que mensagens como a dela sempre deveriam ser permitidas. "Com a faixa nas cores do arco-íris, creio estar tentando simbolizar e mostrar tudo o que o COI explica na Regra 50", avaliou.
"A Vila Olímpica serve para mostrar paz e harmonia e reunir pessoas com diferentes perspectivas. O que eu tinha em mente com a faixa colorida parece muito de acordo com a filosofia dos Jogos Olímpicos."