As fake news em circulação antes das eleições da UE
13 de maio de 2024Deepfakes fazem campanha para a "tia" Marine Le Pen
Em abril, circularam no TikTok vídeos de supostas sobrinhas da líder da ultradireita francesa Marine Le Pen em apoio ao partido dela, o Reagrupamento Nacional (RN).
Só que as "sobrinhas" Amandine Le Pen e Lena Maréchal não existem. Elas foram criadas com a ajuda da inteligência artificial (IA) a partir da projeção dos rostos de Marine Le Pen e de Marion Maréchal – esta, sim, sobrinha de verdade da política – nos rostos de outras pessoas.
A mentira, um caso exemplar de deepfake, foi exposta pela imprensa francesa e também por usuários do TïkTok. O objetivo da fraude: fazer a extrema direita parecer jovem e atraente nas eleições ao Parlamento Europeu.
Os dois perfis fraudulentos das sobrinhas inexistentes foram desativados no TikTok. Segundo a imprensa francesa, uma delas tinha mais de 32 mil seguidores.
Culpa da União Europeia: chocolate "sabor grilo"
Um grilo estampado em uma embalagem verde-neon está ao lado de dois quadradinhos de chocolate da célebre fabricante Ritter Sport. O novo sabor: "grilo inteiro, edição proteica." Soa apetitoso?
A imagem foi postada pela própria marca alemã em 24 de janeiro de 2023 nas redes sociais sob a hashtag "#saborfalso", mas deixou em pânico internautas que não entenderam que se tratava de uma brincadeira.
A sátira tinha um contexto real: a União Europeia (UE) havia, de fato, autorizado a partir daquele dia o uso alimentício de grilos domésticos vendidos como pó parcialmente desengordurado.
Não era a primeira vez que a fabricante usava do humor para se promover. No passado, eles também promoveram sabores fakes tão insólitos quanto "currywurst", "dönner kebab" e "sopa de lentilhas da vovó".
Em abril de 2024, a dois meses das eleições para o Parlamento Europeu, a imagem do "chocolate de grilo" voltou a circular entre o público húngaro nas redes sociais, fora do contexto original. O que nasceu como sátira foi instrumentalizado para dar um verniz de credibilidade a uma campanha de desinformação sobre a aprovação de ingredientes alimentares à base de insetos na UE.
O caso é um exemplo de como imagens tiradas do contexto e alegações enganosas podem semear desconfiança em relação ao bloco europeu e suas instituições.
Elos familiares de Ursula von der Leyen com Hitler?
"Depois desta ocasião preciosa, minha querida avó não lavou as mãos por um mês." A citação, que acompanha uma foto saída de um suposto álbum de família da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, é um exemplo clássico de fake news politicamente motivada ao sugerir que os antepassados da política eram simpatizantes do nazismo.
A mentira foi espalhada no X (antigo Twitter) pelo escritor e ativista americano Norman Finkelstein, cuja conta na plataforma reúne mais de 500 mil seguidores.
Tanto as informações sobre as pessoas na foto quanto a citação que acompanha a postagem são falsas. Como outros checadores já apontaram, a mulher na imagem não é avó de von der Leyen, mas sim Hildegard Zantop, uma fazendeira da antiga Prússia Oriental. A foto também não saiu do "álbum de família de Ursula von der Leyne [sic]", como afirmado falsamente por Finkelstein, que ainda grafou o nome da política errado. Trata-se de um registro de um evento dos nazistas em 1937, e está disponível no Bildarchiv Ostpreußen(Arquivo de Imagens da Prússia Oriental, em tradução livre).
Finkelstein já criticou von der Leyen diversas vezes, referindo-se à política como "princesa nazista" e "senhora genocídio".
Fakes se fazem passar por veículos tradicionais da imprensa alemã
"Candidato ao Parlamento Europeu da AfD deve 82.784 euros em pensão alimentícia aos seus oito filhos!", consta de uma captura de tela que circulou no X mostrando uma notícia supostamente publicada no Bild. Só que essa notícia é falsa, nunca foi publicada no popular tabloide alemão.
Trata-se de um caso de spoofing, quando cibercriminosos fingem ser alguém que eles de fato não são, apenas para tentar tirar vantagem da credibilidade alheia – neste caso, do portal Bild.
A eficácia do método pode ser vista pelas numerosas reações de internautas à notícia falsa, que ao interagir com a montagem ajudaram a ampliar o seu alcance.
Um olhar mais atento revela a manipulação do conteúdo. A manchete original, na parte superior da página, diz: "Maximilian Krah (AfD): Será ele mesmo o melhor para a Europa?" O farsante, ao adulterar a manchete em letras garrafais, esqueceu-se de adulterar também esse detalhe.
Uma busca pela manchete original leva à verdadeira notícia sobre Krah publicada pelo Bild em 24 de abril de 2024.
Acima um outro exemplo de spoofing, desta vez usando o design da revista semanal alemã Der Spiegel para ludibriar leitores e fazer propaganda contra o Partido Verde, acusado de "fazer a eutanásia da Alemanha" ao combater as mudanças climáticas às custas do empobrecimento dos alemães.
Também aqui reconhecer a falsificação requer um olhar atento aos detalhes: o site, em vez de spiegel.de, é spiegel.ltd.
Diretor do EU DisinfoLab, ONG que atua no combate à desinformação na Europa, Alexandre Alaphilippe adverte que ações como essa, do tipo "impostor", aumentarão.
"Os 'desinformantes' estão tentando testar todos os mecanismos de defesa", explica Alaphilippe. É assim, segundo ele, que farsantes conseguem identificar as vulnerabilidades das plataformas e descobrir onde podem agir com mais facilidade.