Artistas com síndrome de Down são estrelas num circo berlinense
20 de maio de 2012Os artistas circenses Hagen e Maria se beijam uma vez, rápida e muito seriamente. Esta cena faz parte de um número de acrobacias no solo. Na sequência da coreografia, os dois dão a impressão de estarem concentrados, embora tranquilos. Eles se movimentam ao som da melodia cantada por Julia Fiebelkorn, que junto do violonista Rodrigo Santa Maria está a poucos metros dos dois artistas circenses. O número preparado por eles é belamente poético. Por fim, recebem aplausos do público.
Sucessos tocantes
Os dois artistas se prepararam para a grande apresentação de aniversário de 15 anos do Circo Sonnenstick, que faz parte do teatro de variedades Berliner Wintergarten. No espetáculo, tudo transcorreu bem, e os efeitos sobre os espectadores são inacreditáveis. Embora Hagen vista calças de moletom e uma camiseta velha, embora faltem figurinos e maquiagem. Ao lado de Maria, há 10 anos ele faz parte do Circo Sonnenstick. Muito tímida no início, Maria mal pode acreditar que consegue viver como acrobata – sempre ao lado de Hagen em números de trapézio e acrobacias sobre bolas.
O Circus Sonnenstich surgiu a partir de um pequeno grupo de lazer, que oferecia a pessoas deficientes a possibilidade de atuar num circo. A maioria deles nasceu com síndrome de Down e não está acostumada a receber a confiança de outros para executar tarefas.
No entanto, em treinamentos regulares com Michael Pigl-Andrees e sua equipe sensível, formada ao longo dos anos por pedagogos de circo, artistas e pela atriz Anna-Katharina Andrees, diretora dos espetáculos, esses jovens conseguiram desenvolver um potencial e uma competência enormes. Hoje, 16 artistas entre 19 e 26 anos fazem parte do Circo Sonnenstich: eles se apresentam usando pernas de pau, fazem acrobacias no trapézio, conseguem executar números com bambolês, bem como malabarismos e diabolô.
Pensar no possível
"Acreditamos naquilo que achamos que será viável no futuro e incentivamos nossos artistas no presente", diz Michael Pigl-Andrees. No dia a dia, pessoas com síndrome de Down têm raramente a possibilidade de experimentar seus próprios limites, pois estão sempre sendo acompanhados e protegidos. No treinamento do circo, eles conseguem provar que têm coragem, que confiam em si mesmos e que vencem o medo. A felicidade que sentem, quando veem que conseguiram fazer algo mais uma vez, é visível.
"Estou no circo há oito anos e sou muito feliz. Toda quinta-feira vejo nosso simpático treinador", diz Friederike. "No circo, fico flexível como um gato", conta Hagen com alegria. "No palco, me sinto como se tivesse acabado de nascer", diz Anna.
Nos últimos anos, o Circo Sonnenstick foi responsável por cinco grandes produções, celebradas dentro e fora da Alemanha. O espetáculo atual, intitulado Beziehungs-Weise ("Respectiva-mente"), foi apresentado 18 vezes em teatros, com entradas sempre esgotadas. O ápice foi a apresentação no Cirko (Centro para o novo circo), na capital finlandesa, Helsinki. Os espetáculos são também ocasionalmente apresentados em congressos de associações profissionais ou encontros de ministérios públicos. Muitos dos artistas já participaram de produções para o cinema e para a TV.
Desta forma, eles estão sempre possibilitando a novos públicos o contato com suas admiráveis habilidades. E ganham, com isso, autoestima e autonomia. Hoje em dia, os acrobatas oferecem até mesmo workshops, entre outros, para voluntários que trabalham em instituições voltadas para deficientes fora do país. Eles próprios provam, de uma bela maneira, que pessoas com necessidades especiais podem ultrapassar seus próprios limites quando recebem os incentivos adequados.
Autora: Silke Bartick (sv)
Revisão: Marcio Damasceno