Arquitetura visual mostra a utilidade da beleza
5 de outubro de 2005No Museu Alemão de Arquitetura de Frankfurt (Deutsches Architekturmuseum – DAM), fica aberta até final de outubro a exposição do arquiteto Rob Krier, nascido em 1938 em Luxemburgo e radicado na Holanda. Com o título Rob Krier, um romântico racionalista, a mostra reúne projetos, desenhos e rascunhos doados por Krier ao museu.
Seus desenhos contêm uma crítica à modernidade, priorizando o retorno à história e o respeito ao local, numa forma diferente daquela que seus outros colegas pós-modernos fizeram. No lugar do argumento lúdico-irônico para indicar um retorno à história, Krier faz uso de imagens, impressões e lembranças, explorando além das qualidades do entorno, o imaginário de seus habitantes.
Continuidade histórica e estetização da arquitetura
“É útil, porque é belo”. Com esta frase de O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, Krier descreve sua atitude perante a arquitetura e o urbanismo. A continuidade da história e a estetização da arquitetura são, para ele, a forma de se recuperar uma indispensável apreensão mimética do mundo através da arte, afastada pelo advento do Modernismo.
Inspirado nas tradições das cidades européias e usando seu talento como um dos melhores desenhistas arquitetônicos da atualidade, Krier nunca foi tão bem acolhido como nos últimos tempos. Em vez de maquetes virtuais computadorizadas, cada um dos desenhos com fortes cores e representações figurativas de Krier remonta a um espaço poético.
Principalmente na Holanda, mas também na Alemanha, há obras do arquiteto presentes, como no projeto de um povoado para idosos em Mülheim, no vale do Ruhr. Ou no projeto urbanístico para o bairro de Kirchsteigfeld, em Potsdam. Esses projetos funcionam como a personificação da história de vida dos seus moradores, criando espaços urbanos que se tornam espaços de identificação para os que ali vivem.
Arquitetura visual
A obra de Rob Krier exposta em Frankfurt chama a atenção porque pode ser vista como um capítulo de um movimento que se desenvolveu juntamente com o Modernismo, porém como reação a ele: a arquitetura visual. O termo foi cunhado pelo crítico alemão Nicolau Pevsner, um dos maiores críticos e historiadores da arquitetura do século 20, que já na metade da década de 30 identificava o movimento que nascia.
Movimento este que valorizava o pitoresco e cujos pioneiros foram, com certeza, os precursores do Modernismo brasileiro na arquitetura. Não foi à toa que Pevsner classificou de pós-moderna, no final dos anos de 50, a experiência arquitetônica brasileira entre os anos de 1930 e 1960.
Niemeyer serviu de inspiração
Deste período, ficaram mundialmente conhecidas as obras de Oscar Niemeyer e o urbanismo cênico de Lúcio Costa em Brasília. É interessante observar que a atitude arquitetônica de Niemeyer, para quem venustas e utilitas estão sobre o mesmo pedestal, também reverencia a frase de O Pequeno Príncipe, de que uma obra "é útil porque é bela". E o próprio Niemeyer também se considera um romântico racionalista. Além de ser, como Krier, um dos maiores desenhistas arquitetônicos deste e do último século.
Nem tudo aquilo que reluz é ouro
Desde o Renascimento e principalmente após o Barroco, a arquitetura passa a tomar os parâmetros da pintura, tornando pétreo o espaço pictórico. E daí a absoluta concordância entre as pinturas e as obras arquitetônicas dos grandes mestres do passado até o início da Modernidade.
Durante o século 20, entretando, a retomada da relação com a história e o entorno através de uma arquitetura visual foi também motivo de equívocos, já que, para iludir o espectador, esta mesma atitude da arquitetura havia sido utilizada pelos nazistas nos anos 30, em várias cidades alemãs. A construção de amedrontadores prédios monumentais não foi a única forma de legitimação do sistema de Hitler.
Entre os muitos projetos “visuais” dos nazistas está, por exemplo, a renovação da cidade antiga de Colônia. Construída em 1936, em estilo de "culto à pátria” – Heimatstil – a renovação urbana do centro antigo da cidade também teve como finalidade neutralizar socialmente uma região pobre e passível de revoltas.
Apesar desta herança não tão gloriosa, o centro antigo de Colônia tornou-se o principal cartão-postal da cidade.