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Após seis meses, estabilidade de governo Temer é incerta

14 de novembro de 2016

Presidente celebra melhora nas relações com Congresso e avanço de projetos, mas analistas questionam se período de aparente calmaria é duradouro. Impopularidade, desemprego e escândalos ainda pairam sobre o governo.

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Michel Temer
Foto: Getty Images/AFP/S. Sa

Michel Temer completou no último sábado (12/11) 180 dias à frente da Presidência. Para marcar a data, o governo usou a imprensa oficial para elencar medidas tomadas no período. Houve destaques para pontos como a melhoria do diálogo com o Congresso e a implementação de reformas. Nada foi dito sobre a contínua deterioração dos números econômicos e a impopularidade da administração.

Especialistas ouvidos pela DW concordam que os seis meses de governo Temer trouxeram alguma calmaria para as relações com o Congresso. No entanto, eles manifestam dúvidas sobre a capacidade do presidente de aproveitar o momento para avançar ainda mais com as reformas e especulam se a instabilidade política não vai tardar a voltar.

"Está mais calmo em comparação com os últimos meses de Dilma, mas será que isso vai permanecer se a economia continuar a se degradar? Também há a possibilidade de novos escândalos e brigas conforme a disputa de 2018 se aproxima", afirmou o analista Gaspard Estrada, da Sciences Po, de Paris. "O governo não tem apoio junto à opinião pública. Além disso, o PT já foi punido nas eleições municipais. O partido não está mais aí para ser atacado quando as coisas não derem certo.”

Para o cientista político Rolf Rauschenbach, da Universidade de St. Gallen, na Suíça, os últimos meses demonstraram que o governo Temer deve continuar a ser encarado apenas como um período transitório até 2018. "Ele trouxe alguma tranquilidade para o cenário num curto prazo. Mas é ilusório achar que o quadro vai melhorar radicalmente. Ele pode tomar mais medidas e seguir numa direção estável, mas os problemas mais graves vão continuar.”

Popularidade 

Apesar da melhoria no trato com o Congresso e o fortalecimento da sua base, o apoio a Temer continua restrito aos salões de Brasília. Um levantamento do instituto Ipsos divulgado no fim de outubro mostrou que 46% dos brasileiros consideram o governo ruim ou péssimo. Apenas 2% afirmaram que ele superou expectativas ao assumir. A impopularidade e episódios como as vaias na abertura dos Jogos Olímpicos e no desfile de 7 de Setembro têm feito Temer evitar aparições públicas.

O tempo do presidente é gasto sobretudo com encontros com deputados e senadores. Tudo com o objetivo de cimentar a base. Nos seus primeiros cinco meses de governo, Temer recebeu em seu gabinete 80 dos 594 membros do Congresso, ou 13,4% do total – algo contrastante com o comportamento de Dilma, que era refratária a esse tipo de agenda.

"Esse governo tem um ativo e um passivo. O ativo é a maioria no Parlamento. Já o passivo é a desconfiança da opinião pública, que só deve piorar se os números econômicos não reagirem. Ele tem a mesma popularidade de Dilma – que perdeu o cargo", afirma Estrada. "Se as coisas não melhorarem, aliados também vão começar a causar problemas e ninguém vai querer estar associado ao Temer quando as eleições de 2018 se aproximarem."

Após seis meses de governo, a maior parte dos índices econômicos segue exibindo um cenário desalentador. A taxa de desemprego continuou a avançar. Chegou a 11,8% no terceiro trimestre, somando 12 milhões de desempregados. A queda da receita e o deficit da Previdência continuam sangrando as contas do governo, que registrou um rombo de 96,6 bilhões de reais até setembro – o maior em 20 anos.

Apesar disso, o governo ainda exibe otimismo. Temer afirmou na semana passada que a taxa de desemprego deve começar a ser atenuada a partir do segundo semestre de 2017. Empresários ainda demonstram confiança de que o governo deve retome logo o crescimento. "Isso parece mais wishful thinking (pensamento positivo) do que alguma coisa baseada na realidade. A tendência é que o cenário mundial fique mais complicado com a vitória de Donald Trump [nos EUA] e isso vai afetar o país”, afirma Estrada.

No plano das reformas, o governo conseguiu avançar alguns projetos, como a PEC do teto de gastos públicos, as mudanças no pré-sal e a revisão da meta fiscal para 2016. A controversa PEC, que vem sendo criticada por diversos setores da sociedade civil, ainda deve ser avaliada pelo plenário do Senado. Já as mudanças no pré-sal ainda aguardam a sanção do presidente.

Outras medidas, como o ambicioso programa de privatizações, seguem lentamente, apesar de anúncios regulares sobre planos na área.

Transparência e eficiência

O discurso também entra em choque com a realidade em temas como a procura por transparência na administração e melhora da eficiência da máquina. Apesar de todas as falas sobre austeridade, o presidente sancionou reajustes para milhares de servidores. O impacto deve ser de cerca de 50 bilhões de reais nos próximos quatro anos. Já gastos sigilosos realizados com cartão corporativo cresceram quase 40% nos primeiros cinco meses de governo.

Mas o calcanhar de Aquiles do governo continua sendo a Lava Jato. Nos seus primeiros dias, quando ainda era interino, o governo Temer foi acossado por escândalos envolvendo aliados próximos do presidente, como o senador Romero Jucá. No momento, nenhuma figura do alto escalão está sendo "fritada”, mas o governo vive a expectativa de potenciais estragos envolvendo vazamentos da delação dos executivos da Odebrecht – que podem atingir Temer diretamente e vários ministros – e os efeitos da prisão do ex-deputado Eduardo Cunha, um antigo aliado do presidente.

Temer ainda enfrenta uma ação no TSE que pede a cassação da sua chapa nas eleições de 2014 por causa de irregularidades na campanha. Na semana passada, o assunto voltou a ganhar destaque graças à divulgação da imagem de um cheque de 1 milhão de reais entregue pela construtora Andrade Gutierrez ao diretório nacional do PMDB como doação para a campanha de Temer. Com tudo isso, os próximos seis meses de governo parecem imprevisíveis.