Após protestos, manifestantes turcos querem mais conquistas
2 de junho de 2013Comerciantes e servidores municipais começaram o domingo (02/05) limpando as ruas de Istambul, de Ancara e de várias outras cidades da Turquia, após dias de protestos contra o governo. Horas depois, manifestantes e policiais voltaram a se enfrentar no terceiro dia seguido de violência em várias cidades do país.
O ministro turco do Interior, Muammer Guler, anunciou na manhã do domingo que 939 pessoas foram presas em 48 cidades durante os dois dias anteriores de manifestações – consideradas as mais violentas dos últimos anos.
No centro de Istambul, há sinais dos confrontos violentos por todos os lados. Ônibus e pontos de ônibus foram destruídos. Há cacos de vidros e arbustos espalhados pelas ruas, assim como pedaços de cassetetes de policiais, capacetes, sapatos. Ainda se pode sentir o gás lacrimogêneo usado para conter os manifestantes nos arredores da praça Taksim e do parque Gezi – onde o governo pretende implantar um controverso projeto urbanístico.
No sábado, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, divulgou uma nota criticando o tratamento dado pelos policiais aos manifestantes e considerou "um erro" o uso de gás lacrimogêneo. Na mesma nota, porém, pediu aos ativistas que encerrassem os protestos. O presidente turco, Abdullah Gül, também considerou a ação policial desproporcional.
Ajuda dos moradores
Os confrontos entre manifestantes e a polícia turca se arrastaram durante toda a madrugada de sexta-feira para sábado. Populares responderam aos ataques de gás lacrimogêneos atirando pedras contra as forças de segurança e foram perseguidos pelos policiais nas ruas do bairro artístico de Cihangir.
"Como estávamos cada vez mais tontos com o gás lacrimogêneo, alguém nos chamou para entrar em um apartamento. Então ficamos a salvo", contou um manifestante de 27 anos à Deutsche Welle, afirmando ainda que os moradores locais mostraram-se bastante dispostos a ajudar os manifestantes.
"Voluntários providenciaram água, pão, leite. Isso nos ajudou bastante", disse o jovem que, temendo por sua segurança, preferiu que seu nome não fosse publicado.
Os manifestantes tentaram repetidamente avançar contra a polícia, que ocupava o parque Gezi desde a manhã da sexta-feira após usar cassetetes, gás e canhões de água. Na tarde do sábado, porém, os policiais não mais conseguiam conter a multidão.
"Fomos os primeiros a furar o bloqueio da polícia. Imediatamente, nos jogamos nos gramados do parque. E nos sentimos como heróis, porque conseguimos o parque de volta, de certa maneira", disse um dos manifestantes. Outros acabaram tomando os equipamentos e até mesmo os escudos de proteção da polícia.
Conversa sobre revolução
Milhares de pessoas ocupavam a área em volta do parque Gezi no fim da tarde de sábado. Manifestantes sentaram na grama – exaustos, após os confrontos com as forças de segurança. Porém, mais confiantes do que no dia anterior.
"O parque é apenas um símbolo para a gente. Se conseguirmos mantê-lo a salvo, então acreditamos que poderemos obter outras conquistas políticas", avaliou um manifestante de 33 anos. "Continuaremos lutando se necessário, porque acreditamos que a polícia não vai parar", afirmou.
Apoiadora dos protestos, uma turca de 60 anos mostrou-se orgulhosa da sociedade de seu país. "Nunca imaginaria que essas pessoas estariam preparadas para fazer algo tão inacreditável. Estou comovida", disse.
Apoiadores do Partido curdo Paz e Democracia (BDP, sigla em turco) também apareceram no parque e cantaram frases como "vida longa à irmandade entre os povos". Enquanto alguns ativistas saudavam e demonstravam apoio ao partido, outros destruíam com fúria os veículos da polícia. Muitos jogavam garrafas de vidro no prédio do departamento de polícia. Pichações contrárias a Erdogan estão em todos os cantos. E a palavra "revolução" é vista com frequência pela cidade.
Nuvens de fumaça
No início da noite de sábado, centenas de pessoas enfrentaram a polícia no bairro de Besiktas. Usando máscaras de gás, elas conseguiram reagir com mais agressividade à ação policial. Algumas atiraram de volta as latas de gás jogadas pela polícia. O bairro ficou sob intensa fumaça em vários momentos durante o dia.
A polícia chegou a ensaiar ações contra moradores que não tomaram parte diretamente no protesto, mas se mantiveram em volta do tenso cenário, observando e apoiando os manifestantes. Vários idosos foram às suas varandas demonstrar solidariedade. Outros batiam forte em panelas, e o barulho ensurdecedor podia ser ouvido a vários metros de distância. Muitos moradores simplesmente acendiam e apagavam as luzes de casa, em sinal de apoio.
As manifestações não se restringiram a Istambul. Na capital, Ancara, houve protestos contra as ações policiais, que também responderam usando gás lacrimogêneo e jatos de água. Conflitos parecidos ocorreram em outras cidades turcas como Izmir, Adana, Antalya, Bursa, Eskisehir, Dyarbakir, Gaziantep, Ordu, Samsun e Trabzon.