"Anti-Expo" usa arte e arquitetura para refletir desenvolvimento urbano
2 de junho de 2012Criar uma versão própria e particular de uma Exposição Mundial para evitar que Berlim tenha uma Expo mundial de verdade. Essa foi uma das ideias iniciais do projeto Die grosse Ausstellung – The world is not fair (A grande exposição – O mundo não é justo), que começou nesta sexta (01/06), na capital alemã.
Quinze artistas foram convidados para desenvolver pavilhões no Parque Tempelhof, aberto na antiga pista de pouso depois que o aeroporto de mesmo nome foi desativado em 2008. Esses pavilhões buscam refletir de maneira política temas de impacto mundial e sua relação subjetiva com espaços urbanos.
“Estávamos procurando um projeto que colocasse o dedo nas feridas da cidade, especialmente neste momento em que Berlim está mudando tanto, e nós berlinenses não queremos essas mudanças“ declarou Benjamin Foerster-Baldenius do Raumlabor à DW Brasil.
Despedida em grande estilo
O "Anti-Expo" é o resultado de uma longa parceria entre o escritório de arquitetura experimental Raumlabor e o HAU, um dos principais e mais inovadores centros de teatro, dança e performance de Berlim. Este é um dos dois projetos de grande escala que marcam a saída de Matthias Lilienthal depois de quase dez anos como diretor artístico do HAU.
“Matthias sempre quis ir a fundo na alma da cidade e ver como a vida acontece. Como arquitetos, estamos interessados nos espaços comuns e lugares onde a vida privada se torna pública“, disse Benjamin.
Segundo o arquiteto, eventos em grande escala, que acontecem ao redor do mundo, como as Expos e os Jogos Olímpicos, trazem benefícios apenas para um pequeno grupo econômico, mas nunca para os habitantes das cidades. “Os projetos urbanísticos e arquitetônicos realizados em função desses eventos são um desastre. Interesses de investidores, prazos e funcionalidade são mais importantes do que as necessidades de quem vai depois usar esses espaços“, completou.
Refletir sobre a cidade
O espaço histórico do antigo Aeroporto de Tempelhof foi uma das inspirações principais para o projeto, já que, apesar de estar em funcionamento, ele ainda é um vasto campo aberto que deve se tornar um parque planejado até 2017. “Sempre discutimos o que poderia ser feito com um espaço tão grande e vasto com esse, e como seria interessante trabalhar aqui“, disse o arquiteto.
O Raumlabor já havia participado de estudos e discussões que buscavam soluções para o novo parque. Com esse projeto, eles propõem uma maneira para que os berlinenses reflitam sobre como melhor poderiam usar esse nova área comum na cidade, além de mostrar que suas vozes têm que ser ouvidas.
Tópicos de impacto e entendimento global, como o amor e a guerra, são os pontos de partida para os artistas desenvolverem seu ponto de vista em parceria com os arquitetos. Além disso, o projeto também retoma o debate de como usar prédios que perderam seu uso original após a queda do Muro de Berlim.
Concepção coletiva
Com o vasto parque em mãos, os arquitetos do Raumlabor e o time do HAU selecionaram os artistas alemães e estrangeiros que poderiam, através de seu trabalho, potencializar a relação do espaço com os temas propostos. A concepção de cada um dos pavilhões foi feita entre as três partes.
“Focamos mais na arquitetura e na utilização do espaço para que o nosso trabalho e o dos artistas pudessem se fundir da melhor maneira, e se tornar uma coisa única. Isso é uma realização incrível para qualquer arquiteto“, celebra Benjamin.
Nesse espectro de temas, subjetividade e objetividade se juntam a arte e arquitetura, e deliberam sobre assuntos atuais como o trauma dos japoneses depois da catástrofe em Fukushima ou a relação entre o sistema digital de previsão do tempo e a previsão de atentados terroristas.
Outros artistas tratam de colonialismo e anticolonialismo. Uma clara referência à história das grandes Expos, que surgiram no século 19 como uma forma e vitrine para mostrar ao mundo o poder colonial das nações.
Videogame da vida real
Um dos destaques do evento é o pavilhão do coletivo Machina Ex, que desenvolve peças teatrais interativas ou vídeo-games da vida real, como define a integrante do grupo Laura Schäffer. As performances do coletivo precisam da participação do público para se desenvolverem, e utilizam poucos atores e muitos recursos técnicos, como sensores, sons e luzes.
“Eles pediram a nossa interpretação do apocalipse, pois o projeto trabalha com diferentes perspectivas do mundo. Tentamos sempre recriar esse lado sóbrio e fantástico que as pessoas não podem vivenciar na realidade. Essa é a nossa visão do fim do mundo“ declarou Laura.
Assim nasceu House of Metraton. Uma viagem entre uma realidade imaginária e o inferno. O grupo tem um espaço híbrido que une uma torre construída para o projeto e um canil que já existia no parque.
“No alto da torre o espectador tem uma bela visão do parque e com um telescópio procura pontos de realidade. Em uma viagem no estilo Alice no pais das maravilhas, eles descem ao inferno através de um escorregador que vai direto para dentro do canil onde o jogo começa“, explicou Laura.
Realidade sustentável
A sustentabilidade também está presente em todo o projeto, já que a reutilização é um dos pontos das discussões propostas. Um terço dos pavilhões foram construídos com estruturas que já existiam no parque. Outras estruturas foram adaptadas de um evento que acorreu em Berlim no verão passado.
“Para nós do Raumlabor, a sustentabilidade não é algo especial, trabalhamos dessa maneira regularmente, principalmente em um evento de três semanas como esse. Como arquiteto é nossa responsabilidade pensar dessa maneira“, conclui Benjamin, que ainda não sabe o que será dos pavilhões após o fim do projeto, já que o parque não está interessado em manter as instalações.
“Die grosse Ausstellung – The world is not fair“ está em cartaz no Parque Tempelhof em Berlim até 24 de junho de 2012. Para ter uma experiência completa do evento, os organizadores recomendam a visita de bicicleta, devido às grandes distancias entre os pavilhões.
Autor: Marco Sanchez