Distúrbios alimentares
22 de dezembro de 2006A tendência de emagrecimento de modelos, na mídia e nas passarelas, já dura 40 anos. Mas ela parece ter atingido um ápice com a recente morte da modelo paulista Ana Carolina Reston, vítima de anorexia.
A morte da jovem chamou a atenção de europeus para um problema que não é novo nem diz respeito somente às mulheres. Hoje em dia, ele vem sendo debatido por médicos, políticos, museólogos e também pelas próprias vítimas de distúrbios alimentares.
Na Suíça, o Museu Basel-Landschaft inaugurou recentemente uma exposição sobre a gordura e o peso. Em Berlim, um restaurante para pessoas que sofrem de distúrbios alimentares foi inaugurado por uma ex-vítima de anorexia e bulimia. E nesta semana, o governo italiano fechou um acordo com associações de moda locais para combater a anorexia nas passarelas.
Índice de Massa Corporal cada vez mais baixo
O Museu Basel-Landschaft, na região da Basiléia na Suíça, inaugurou recentemente a exposição Voll Fett. Alles über Gewicht (algo como "Em cheio. Tudo sobre o peso"), que continuará até julho de 2007.
Em entrevista à DW-WORLD, a historiadora Barbara Alder, curadora da mostra, informou que a idéia de fazer uma exposição sobre a gordura e o peso nasceu há dois anos pela falta de diferenciação com que o problema é tratado na mídia. Em outras palavras, se for magro, é bom; se for gordo, é ruim.
A primeira parte da exposição mostra a gordura em si e nos alimentos. Para a retenção do calor e para a proteção dos órgãos internos, a gordura é essencial, um material maravilhoso, segundo Alder. Em tempos de fome, gordura é muito bem vista na comida. Em sua segunda parte, a exposição retrata a gordura no corpo, que hoje, no mundo ocidental, é dominado pelo ideal de magreza.
"O peso do espírito do corpo"
Alder vê uma certa responsabilidade da Medicina neste fenômeno, já que o Índice de Massa Corporal (IMC = peso/altura²) estabelecido pela Organização Mundial da Saúde tem baixado cada vez mais. Hoje, quem tem um IMC abaixo de 18,5 ou acima de 24,9 é considerado, respectivamente, desnutrido ou obeso, afirma Alder. Segundo a historiadora, médicos e cientistas deixam-se também influenciar pelo "peso do espírito do tempo" ao baixar constantemente o IMC.
A satisfação com o corpo é hoje ditada por uma máquina – a balança. Relativizar a necessidade da balança é temática da segunda parte da mostra, que também contém relatos de ex-vítimas de anorexia e bulimia.
Restaurante para distúrbios alimentares em Berlim
Sehnsucht (ânsia, saudade) é o nome do primeiro restaurante para pessoas com distúrbios alimentares de que se tem notícia, aberto recentemente no bairro de Tiergarten em Berlim. Sua proprietária, Katja Eichbaum, de 32 anos, sofreu de distúrbios alimentares durante 15 anos.
Apesar de pratos com nomes fantasiosos como uma sopa de cebolas chamada de "Chorona", costeletas de carneiro "Larica" ou um creme capuccino com biscoito de nome "Alma", lá ninguém é obrigado a comer. "O Sehnsucht é um espaço neutro. Anoréxicos, bulímicos e adiposos podem vir aqui falar sobre seus problemas. Eles não têm, todavia, a obrigação de se abrir" afirma Eichbaum.
Entre bulimia e ataques alimentares compulsivos, Katja Eichbaum, que tem 1,69 metro de altura, chegou a pesar 45 quilos. Ela quer agora ajudar as pessoas em seus primeiros passos contra o vício e também na procura de uma terapia. Trabalhar no Sehnsucht é também uma forma de terapia, já que os empregados na cozinha e no balcão também já foram vítimas de distúrbios alimentares.
Políticos e moda se unem contra anorexia
Segundo o jornal italiano La Stampa, o governo italiano e associações italianas de moda entraram em acordo, no último sábado (16/12), quanto à necessidade de se tomar atitudes contra a anorexia.
Para desfilar na Itália, modelos deverão apresentar atestado médico de que estão saudáveis e não apresentam distúrbios alimentares. Meninas abaixo de 16 anos não poderão desfilar. Além disso, designers de moda se comprometem a desenhar roupas também para mulheres com manequim 40 e 42. O acordo deverá ser assinado nesta sexta-feira (22/12) em Roma.
Em Buenos Aires, a chamada Ley de Talles obriga, desde há pouco, os fabricantes de moda feminina a oferecer todos os tamanhos em estoque – inclusive para mulheres menos esbeltas. Desaparecem as denominações inglesas S, M e L. Os tamanhos serão, a partir de agora, controlados rigorosamente pelas autoridades.
Opiniões divergentes
No mundo da moda, entretanto, as opiniões estão divididas. O designer alemão Karl Lagerfeld afirmou nunca ter visto uma modelo anoréxica nas passarelas. "O fato de serem magras não significa que são doentes", declarou o designer por ocasião da abertura de sua exposição de fotografias One Man Show, em novembro último em Berlim.
Segundo Lagerfeld, o problema do mundo seria a obesidade e não a magreza. Há cinco anos, Lagerfeld emagreceu mais de 40 quilos e lançou o livro A Dieta 3D.