Amorim diz que é absurdo declarar Lula "persona non grata"
20 de fevereiro de 2024O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, criticou nesta segunda-feira (19/02) o governo de Israel por ter classificado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de persona non grata após o petista equiparar as mortes de palestinos em Gaza ao Holocausto, afirmando que o gesto só aumenta o isolamento de Tel Aviv perante a comunidade internacional.
"Isso é coisa absurda. Só aumenta o isolamento de Israel. Lula é procurado no mundo inteiro, e no momento quem é [persona] non grata é Israel", disse Amorim ao portal de notícias G1.
À emissora CNN, Amorim declarou ainda que Lula não vai se desculpar pela comparação. "Sempre tratamos [Israel] de maneira muito respeitosa e defendemos a solução de dois Estados, mas não tem nada do que se desculpar."
Referência ao Holocausto
Durante uma visita de Estado a Etiópia, neste fim de semana, Lula, indagado sobre a decisão de alguns países de suspender repasses financeiros à Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) após alguns funcionários terem sido acusados de envolvimento nos atos terroristas de 7 de outubro, disse que "o que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando [Adolf] Hitler resolveu matar os judeus".
Ele classificou de "genocídio" e "chacina" a reação de Israel aos ataques terroristas do grupo extremista Hamas de 7 de outubro de 2023, e comparou a operação israelense ao extermínio sistemático de 6 milhões de judeus pelos nazistas chefiados por Hitler, entre 1933 e 1945.
Lula deu as declarações durante entrevista em Adis Abeba, na Etiópia, onde participou nos últimos dias da 37ª Cúpula da União Africana e de reuniões bilaterais com chefes de Estado do continente. Antes, ele havia estado com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh.
A reação israelense
O governo israelense reagiu classificando Lula de persona non grata – o que, na diplomacia, sinaliza que Lula não é bem vindo em Israel –, com o ministro das Relações Exteriores Israel Katz fazendo uma reprimenda ao embaixador brasileiro, Frederico Meyer.
Chefe do Itamaraty, Mauro Vieira, por sua vez, convocou o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine, para dar explicações.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que as palavras de Lula eram "vergonhosas e graves" e uma banalização do Holocausto, acusando-o de "tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender".
"Netanyahu devia se preocupar com a rejeição que desperta no mundo e em seu próprio país, antes de tentar repreender quem denuncia sua política de extermínio do povo palestino. Ele não tem autoridade moral nem política para apontar o dedo para ninguém", disse ao jornal Folha de S.Paulo a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
Em nota, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) repudiou o que chamou de declarações "infundadas" de Lula, explicitando: "Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país, matou mais de mil pessoas, promoveu estupros em massa, queimou pessoas vivas e defende em sua carta de fundação a eliminação do Estado judeu."
Segundo o G1, fontes próximas de Lula afirmaram, em caráter reservado, que o presidente agiu corretamente ao condenar a ação das forças israelenses em Gaza, mas que a comparação foi um erro e é descabida.
Israel acusa Lula de “negar o Holocausto”; governo reage
Nesta terça-feira, a crise continuou a escalar, desta vez nas redes sociais. Pela manhã, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, usou a rede X (antigo Twitter) para criticar Lula. "Que vergonha. Sua comparação é promíscua, delirante. Vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros. Ainda não é tarde para aprender História e pedir desculpas. Até então - continuará sendo persona non grata em Israel!", escreveu o ministro.
Mais tarde, o perfil oficial da diplomacia de Israel no X passou a acusar Lula de "negar o Holocausto". Na rede social, o perfil do ministério israelense mencionou outra publicação que perguntava: "O que vem à sua cabeça quando você pensa no Brasil?". Num comentário, o perfil israelense respondeu: "Antes ou depois de Lula passar a negar o Holocausto?" - algo que não consta nas falas de Lula.
Após a última publicação, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República do Brasil (Secom), Paulo Pimenta, usou o X para responder às acusações.
"O chanceler de Israel, Israel Katz, distribui conteúdo falso atribuindo ao presidente Lula, opiniões que jamais foram ditas por ele. Em nenhum momento o presidente fez críticas ao povo judeu, tampouco negou o holocausto", escreveu Pimenta.
ra/as (AP, ots)