Alemanha tem maior inflação em mais de 70 anos
29 de setembro de 2022As notícias não são animadoras para a maior economia da Europa e quarto maior PIB do mundo: a Alemanha deve registrar uma inflação de 10% em setembro em comparação com o mesmo mês do ano anterior, segundo estimativas divulgadas nesta quinta-feira (29/09) pelo Departamento Federal de Estatística (Destatis). É a maior variação anual e a primeira vez que a taxa fica em dois dígitos desde os 10,5% de dezembro de 1951.
Especialistas ouvidos pela agência de notícias Reuters esperavam crescimento geral da inflação, mas de no máximo 9,4%, após os 7,9% registrados em agosto.
A principal causa para a alta de preços continua sendo a guerra na Ucrânia, que tem elevado os preços de energia, mas também de matérias-primas e alimentos. Conforme o Destatis, os preços de energia subiram 43,9% em relação ao ano anterior, e os de alimentos, 18,7%.
Abaixo da média geral de 10% ficaram alguns setores como o de aluguéis residenciais, que teve aumento de 1,7%.
Outros fatores que influenciaram a escalada da inflação foram o término de subsídios estatais sobre combustíveis e o ticket de 9 euros, válido no transporte público nacional entre junho e agosto.
O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, anunciou nesta quinta um pacote de até 200 bilhões de euros para aliviar o setor energético. "O governo alemão fará de tudo para que os preços baixem", disse Scholz à imprensa.
Crescimento só em 2024
A crise no mercado de gás, a escalada dos preços da energia e uma queda maciça no poder de compra da população tendem a empurrar a economia alemã cada vez mais para a recessão.
Segundo avaliação do Instituto Alemão para Pesquisa Econômica (DIW) divulgada nesta quarta-feira, a Alemanha já enfrenta uma recessão.
Especialistas do DIW afirmaram que o aumento nos preços de energia levou a uma grande perda no poder aquisitivo e ameaça muitas empresas cujas produções podem deixar de ser rentáveis.
"A guerra na Ucrânia provocada pelo presidente russo e suas consequências de longo alcance irão causar perdas no crescimento da Alemanha estimadas em 5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022 e em 2023", declarou o economista do DIW Guido Baldi.
O chefe de pesquisa na área de macroeconomia e finanças públicas do Instituto Leibniz de Pesquisa Econômica (RWI), Torsten Schmidt, reforçou que o alto custo de energia é o principal fator que tem "levado a Alemanha a uma recessão".
Em uma coletiva de imprensa, Schmidt também disse que a maior economia da Europa deve encolher no segundo semestre de 2022. E que outro motivo para isso é a recuperação ainda incompleta da pandemia de covid-19.
O Instituto de Pesquisa Econômica (Ifo), de Munique, previu que a inflação na Alemanha deve ser de 8,8% em 2023, mas tende a se estabilizar em 2024, ficando um pouco acima da meta de 2% do Banco Central Europeu.
Os pesquisadores também preveem que o PIB alemão encolha 0,4% no ano que vem, bem abaixo da estimativa de crescimento de 3,1% prevista em abril. O crescimento deve voltar somente daqui a dois anos.
Preços mudam hábitos
O salto nos preços de energia tem mudado tanto os hábitos de compra quanto o comportamento dos alemães em relação às contas de energia, conforme pesquisa da Associação Alemã de Varejo (HDE).
Dois terços dos entrevistados dizem-se muito preocupados com as próximas contas de eletricidade e de aquecimento.
Em relação às compras, 60% dos alemães afirmam que estão aproveitando cada vez mais promoções e ofertas para adquirir alimentos. Em torno de 46% têm evitado comprar determinados produtos, e pouco menos de um terço tem comprado em menor quantidade.
"Em geral, 60% [dos alemães] dizem que atualmente têm que limitar suas compras para poder sobreviver. Com a estimativa de mais alta nos preços, 76% dizem que devem fazer compras ainda mais enxutas nos próximos meses", aponta o levantamento do HDE.
Economia global em crise
A Alemanha, no entanto, não está sozinha nos desafios econômicos, que são globais. De acordo com especialistas, a economia de todo o mundo sofre um declínio, com a invasão da Ucrânia pela Rússia e as consequentes sanções impostas pelo Ocidente a Moscou fomentando a inflação de commodities energéticas.
A inflação elevada levou o Banco Central dos Estados Unidos e de outros países a endurecer políticas monetárias e aumentar juros.
A política de tolerância zero da China em relação à pandemia de covid-19, com longos lockdowns e a consequente proibição das atividades econômicas, também tem impactos sobre a economia global, apontam os especialistas.
gb/lf (AFP, dpa, Reuters)