Alemanha colhe indícios de envolvimento russo em atrocidades
7 de abril de 2022Uma reportagem da revista alemã Der Spiegel desta quinta-feira (07/04) revela que o Departamento Federal de Investigações da Alemanha (BND), a agência alemã de inteligência, interceptou mensagens de rádio de tropas russas discutindo o assassinato de civis na cidade ucraniana de Bucha.
As imagens de civis mortos nas ruas da pequena cidade, a 37 quilômetros de Kiev, chocaram o mundo. Bucha foi invadida por tropas russas no início da invasão à Ucrânia, no final de fevereiro, e permaneceu sob ocupação até a semana passada.
Segundo autoridades ucranianas, mais de 300 pessoas foram assassinadas pelos soldados russos, incluindo 50 civis que teriam sido executados. O episódio gerou condenação internacional e resultou em acusações de crimes de guerra contra Moscou.
A Rússia nega ter cometido as atrocidades, alegando sem provas que o massacre teria sido uma encenação por parte dos ucranianos. Várias organizações, no entanto, rechaçaram as alegações de Moscou.
Segundo a reportagem, as provas encontradas pelo BND incluem transmissões via rádio que correspondem à localização dos corpos, encontrados na principal avenida da cidade.
A Spiegel afirma que, em um dos áudios, um soldado diz a seus colegas que atingiu um ciclista. No mesmo local, um corpo foi encontrado ao lado de uma bicicleta. Haveria ainda gravações cuja origem seria mais difícil de determinar, o que sugere que ações semelhantes possam ter ocorrido em outras cidades ucranianas.
A reportagem diz que as provas foram apresentadas ao Bundestag (Parlamento alemão) nesta quarta-feira. A Spiegel, entretanto, não revelou a origem das informações publicadas.
Imagens de satélite contradizem Moscou
A agência de notícias Reuters afirmou, citando fontes anônimas, que o governo alemão possuiria "indícios" de que a Rússia estaria envolvida no massacre, e que estes seriam imagens de satélite. Mas, segundo a Reuters, as transmissões de rádio não poderiam ser claramente atribuídas às tropas russas em Bucha.
"É verdade que o governo federal tem indícios de ações russas em Bucha", afirmou uma fonte à agência. "No entanto, essas descobertas em Bucha referem-se a imagens de satélite. As transmissões de rádio não podem ser claramente atribuídas a Bucha."
Nesta quarta-feira, o porta-voz do governo alemão, Steffen Hebestreit, disse que analises de imagens de satélites não comerciais mostravam que as vítimas estariam nas ruas de Bucha pelo menos desde o dia 10 de março.
"Evidências confiáveis demonstram que as Forças Armadas e de Segurança da Rússia foram enviadas para a região entre os dias 7 e 30 de março. Elas estiveram envolvidas no interrogatório de prisioneiros que foram posteriormente executados. Essas são as provas que temos", afirmou.
"As declarações feitas pela Rússia, de que estas seriam encenações, e que eles não seriam os responsáveis pelos assassinatos, portanto, não são consistentes, em nossa perspectiva."
Alemanha encaminha investigação
A ex-ministra alemã da Justiça Sabine Leutheusser-Schnarrenberger e o ex-ministro do Interior Gerhart Baum entraram com uma queixa-crime de 140 páginas contra a invasão da Ucrânia pela Rússia, junto a promotores públicos alemães.
Segundo Nikolaos Gazeas, advogado dos dois ex-ministros, ambos pedem a abertura de uma investigação sobre crimes de guerra contra autoridades russas, incluindo o presidente Vladimir Putin, além de uma série de membros das Forças Armadas do país.
Gazeas disse que os promotores podem usar as informações obtidas pelo BND, divulgadas na reportagem da Spiegel, para tomarem a decisão sobre a abertura de um inquérito. Os crimes relacionados na queixa-crime incluem ainda o ataque a uma usina nuclear e o bombardeio a um hospital e maternidade em Mariupol.
Promotores do Tribunal Penal Internacional (TPI) já deram início a uma investigação sobre possíveis crimes de guerra na Ucrânia. Segundo Gazeas, as investigações em jurisdições diferentes podem ser complementares. "A lei é a arma, nesse caso", disse o ex-ministro Baum, "e nós pretendemos usá-la".
rc (AFP, AP, Reuters)